quinta-feira, 5 de junho de 2014

A GENTE SOMOS "INÚTEU"?


Nenhuma reforma da educação jurídica pode contornar a pergunta sobre o sentido da educação jurídica. Afinal de contas, qual o propósito daqueles cinco anos que passamos numa faculdade de direito?
 
Se o principal objetivo da educação jurídica for o de oferecer informações ou transmitir conteúdos, então, sem nenhuma dúvida, as faculdades de direito são inúteis. E a razão é simples: os cursinhos preparatórios para concurso, em matéria de transmissão de informações, são muito mais eficazes. E há pelo menos seis razões para isso. Vamos a elas:

1. Os objetivos. Estudantes e professores não sabem exatamente o que devem fazer numa faculdade de direito. Alguns, por exemplo, perdem momentos preciosos lendo textos difíceis ou participando de debates complexos. Num cursinho, cada agente tem a exata noção de suas tarefas.

2. A motivação. Uma vez que o cursinho tem ampla liberdade para contratar e demitir professores e sendo que os salários são bastante atrativos, é pouco provável que eles contem com professores desmotivados. Uma vez que os cursinhos têm curta duração e sendo que as mensalidades não são baratas, é pouco provável que os estudantes frequentem as aulas somente para cumprir tabela.

3. O tempo. Os cursinhos são realizados pouco tempo antes do momento em que as informações deverão ser utilizadas num concurso qualquer. Isso facilita a utilização do que os neurocientistas tradicionalmente chamam de memória de curta duração (que também pode ser chamada de memória operacional ou memória de trabalho). Numa faculdade, as informações transmitidas servirão para uso num futuro mais remoto. A memória de curta duração não será muito relevante.

4. As conexões. Por mais que o estudante tenha passado todo o tempo da faculdade de direito sem ler qualquer texto, participar de qualquer debate ou mesmo prestar atenção em qualquer aula, é inevitável que ele acabe escutando, nem que seja no corredor ou na lanchonete, alguma conversa sobre assuntos jurídicos. Além disso, para despejar informações nas provas, ele, provavelmente, terá ficado constrangido a decorar certos conceitos ou memorizar certos artigos de lei. Por isso, quando o professor do cursinho mencionar um assunto qualquer na aula, o conhecimento prévio, adquirido na faculdade de direito, por elementar que seja, facilitará a realização de conexões neuronais.

5. A avaliação. A avaliação tradicional é a principal praga do sistema educacional. Ela oprime professores e estudantes. Faz com que uns e outros se sintam em campos opostos, quase inimigos, na verdade. Impede a criatividade. Frustra qualquer tentativa de aprendizado significativo e inovador. E os cursinhos estão livres disso.

6. A didática. A capacidade de comunicação dos professores dos cursinhos só pode ser comparada à capacidade de comunicação de artistas de circo e de apresentadores de programas de televisão. E é apenas isso que se exige para apresentar conteúdos. A maioria dos professores das faculdades de direito não chega nem perto disso. Sem contar que eles costumam ser atrapalhados pela tentativa de pensar, refletir, criticar.

Acho que fui claro. Os cursinhos preparatórios para concurso são muito mais eficazes que as faculdades de direito quando o assunto é transmitir conteúdos.

E se transmitir conteúdos for o principal objetivo da educação jurídica, devo dizer, com todo rigor, mas tentando evitar o ultraje, que “a gente somos inúteu”.

Ou, talvez, não. Afinal, quem imprime os diplomas de graduação em direito?

segunda-feira, 2 de junho de 2014

COMO SUPERAR OS FATORES QUE LIMITAM A APRENDIZAGEM?

Acabei de analisar os formulários de autoavaliação de duas turmas do Curso de Graduação em Direito da UFMG.

No total, exatamente cem estudantes do terceiro período responderam às seguintes questões: 1) aponte os principais fatores que limitam o seu aproveitamento no curso de Direito; 2) aponte duas medidas que a Faculdade de Direito poderia adotar para melhorar o seu aproveitamento; 3) aponte duas medidas que você poderia adotar para melhorar o seu aproveitamento.

Achei que ficaria mais didático agrupar os resultados em três campos, tendo como referência os sujeitos que poderiam implementar as medidas sugeridas. E ficou assim:


I. O que a instituição poderia fazer?

Medida
Percentual de indicações (%)
Ampliar a conexão entre teoria e prática
31
Reformular a matriz curricular
27
Melhorar a estrutura física da Faculdade
25
Aprimorar o sistema de avaliação
21
Melhorar a circulação das informações
16
Melhorar a Biblioteca
15
Ampliar a interdisciplinaridade
12

II. O que os professores poderiam fazer?

Medida
Percentual de indicações (%)
Melhorar a didática
26
Ampliar a postura crítica
23
Demonstrar mais compromisso com as atividades
15
Demonstrar mais abertura para o diálogo
6

III. O que cada estudante poderia fazer?

Medida
Percentual de indicações (%)
Melhorar a organização do tempo de estudo
59
Ampliar a realização de leitura de textos
40
Aumentar a participação nas aulas
11
Participar de grupos de estudo
15
Realizar pesquisa ou iniciação científica
10
Participar de atividades de extensão
9
Evitar distrações durante a aula
7
Melhorar a qualidade do sono
6
Ampliar a participação em eventos
5
Realizar estudos em conjunto com colegas
4