tag:blogger.com,1999:blog-49609220367413234532024-02-19T03:31:28.258-03:00Magistério JurídicoGiordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.comBlogger229125tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-37347215764669008382019-04-30T19:54:00.001-03:002019-05-01T13:35:17.520-03:00Desafios da Advocacia: as dicas do velho Rui<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvO6vXr7iwQKtp8c2sXj9ivKTRhyphenhyphenw51KiV-1vkvWq2Jps_Mz3UfJSAI4HGc1OokVkgfFqA_Mny-5zbPp9agW52JJRnI-DnUCsoBZs8c_9TcGcFr-mQm2wrUC66_pmCYbT5x5yNXeHuJKM/s1600/161433-004-BE5A1ABD.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="392" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvO6vXr7iwQKtp8c2sXj9ivKTRhyphenhyphenw51KiV-1vkvWq2Jps_Mz3UfJSAI4HGc1OokVkgfFqA_Mny-5zbPp9agW52JJRnI-DnUCsoBZs8c_9TcGcFr-mQm2wrUC66_pmCYbT5x5yNXeHuJKM/s320/161433-004-BE5A1ABD.jpg" width="278" /></a></div>
<br />
Seria um assombro ver o velho Rui Barbosa caminhando nos corredores do Fórum ou fazendo sustentação oral no Supremo. Imagine o quanto destoaria do comum a presença do homenzinho de pequena estatura, de fartos bigodes e voz tonitruante. Imagine ouvi-lo dizer aquelas frases rebuscadas e aquelas palavras difíceis. Imagine, ainda, o conteúdo do que nos diria caso oferecesse conselhos sobre Direito, Advocacia e Magistratura. </div>
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<br /></div>
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Em <i>Oração aos Moços</i>, discurso escrito em 1921, Rui Barbosa deu exatamente esse tipo de orientação aos formandos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Mas, ao fazê-lo, tinha em mente os desafios daquele momento. Mesmo havendo entre o orador e os estudantes uma distância de 50 anos, eles habitavam o mesmo mundo, liam as mesmas notícias, frequentavam os mesmos ambientes. </div>
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<br /></div>
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Mas o que o Rui nos poderia dizer hoje? Que conselhos nos daria alguém que não usou nem telefone, nem internet, nem processo eletrônico? Que sugestões ouviríamos de quem não andou nem de carro, nem de avião, nem de metrô. O que nos ensinaria uma pessoa que não viu nem Auschwitz, nem Woodstock, nem o 11 de Setembro?</div>
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<br /></div>
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De todos os tópicos que abordou no famoso discurso, imagino que alguns ainda poderiam nos dizer algo, justamente porque falam sobre a natureza humana. Da leitura que fiz, identifiquei oito sugestões que os advogados de hoje fariam bem em observar.</div>
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<br /></div>
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A primeira é: <b>veja com os olhos do coração</b>. A realidade que aparece nos escritórios de advocacia nem sempre é agradável. Todas as misérias humanas passeiam por ali. E o advogado fará bem se souber enxergar além da aparência. Pensando nisso, e ao falar especificamente sobre o coração, Rui Barbosa disse as seguintes palavras:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Há, nele, mais que um assombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal. Vê, por isso, com os olhos da alma, o que não vêem os do corpo. Vê ao longe, vê em ausência, vê no invisível, e até no infinito vê” (BARBOSA, p. 39).</blockquote>
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A segunda é: <b>não colecione mágoas</b>. Os embates são naturais na advocacia. E não raro provocam situações de tensão e conflito. Se o advogado levar consigo todos os pequenos dissabores que se lhe sobrevierem, em pouco tempo, terá um fardo impossível de carregar. Para tratar do tema, Rui acabou falando um pouco de si:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Nesta alma, tantas vezes ferida e traspassada tantas vezes, nem de agressões, nem de inflamações, nem de preterições, nem de ingratidões, nem de perseguições, nem de traições, nem de expatriações perdura o menor rasto, a menor ideia de revindita. Deus me é testemunha de que tudo tenho perdoado” (BARBOSA, p. 49).</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A terceira é: <b>aprenda com as derrotas</b>. Fosse feita apenas de conquista, a advocacia não seria exatamente o que é. Do advogado espera-se que esteja ao lado do cliente, nas vitórias e nas derrotas. Serão especialmente amargas as que decorrem de erro ou malícia. Mas nenhuma será boa de engolir. Daí o valor de aprender com cada uma delas, como sugere o autor:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Por mais desagrestes que sejam os contratempos da sorte e as maldades dos homens, raro nos causam mal tamanho, que nos não façam ainda maior bem. Ai de nós, se esta purificação gradual, que nos deparam as vicissitudes cruéis da existência, não encontrasse a colaboração providencial da fortuna adversa e dos nossos desafetos” (BARBOSA, p. 50). </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A quarta é: <b>meça a própria força</b>. Pode parecer que não, mas o dia continua tendo apenas 24 horas. Multiplicam-se ao infinito as leis, as teorias e as tendências dos tribunais. Além de estudar e elaborar teses, ao advogado incumbe, entre outras coisas, liderar pessoas, gerenciar processos e organizar as finanças do escritório. Não é pouca coisa. Por isso, sobreleva a importância de ouvir a voz da experiência:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Ninguém, senhores meus, que empreenda uma jornada extraordinária, primeiro que meta o pé na estrada, se esquecerá de entrar em conta com as próprias forças, por saber se a levarão ao cabo” (BARBOSA, p. 52, 53).</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A quinta é: <b>trabalhe com perseverança</b>. Na busca de sucesso, é comum que as pessoas cuidem de fazer tudo, menos o essencial, que é trabalhar. E o trabalho do advogado envolve fundamentalmente o estudo sério e paciente do campo em que pretende servir. Que tenha bom relacionamento com os pares, que apareça nas colunas sociais, que ocupe posições de destaque nos órgãos de classe, tudo isso pode ser bom. Mas se não souber compreender bem as questões e construir argumentações consequentes, o advogado não será útil aos que precisam dele. E vai nesse sentido o incentivo do nosso patrono:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Ninguém desanime, pois, de que o berço lhe não fosse generoso, ninguém se creia malfadado, por lhe minguarem de nascença haveres e qualidades. Em tudo isso não há surpresas, que se não possam esperar da tenacidade e santidade no trabalho” (BARBOSA, p. 56).</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A sexta é: <b>não deixe de pensar por si</b>. O grande advogado não é o que frequentou os melhores cursos, comprou os livros mais caros ou mesmo leu a maior quantidade de textos. O grande advogado é o sujeito que, com base no que leu e observou, teve a capacidade de organizar um modo próprio de olhar as questões que se lhe apresentam. Nas palavras de Rui:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é um armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas” (BARBOSA, p. 63).</blockquote>
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A sétima é: <b>não se deixe vencer pelo medo</b>. O profissional do Direito pode ser pressionado por um bandido, uma autoridade ou até mesmo pelo cliente. E não é raro que isso aconteça. Se não puder resistir, é bom que pense em trabalhar em outra área. Ceder a uma pressão desonesta pode ser o primeiro passo para deixar de ser advogado e se tornar cúmplice. A esse respeito, o nosso conselheiro vai direito ao ponto:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Se cada um de vós meter bem a mão na consciência, certo que tremerá da perspectiva. O tremer próprio é dos que se defrontam com grandes vocações, e são talhados para as desempenhar. O tremer, mas não o descorçoar. O tremer, mas não o renunciar. O tremer, com o ousar. O tremer, com o empreender. O tremer, com o confiar. Confiai, senhores. Ousai. Reagi. E haveis de ser bem-sucedidos” (BARBOSA, p. 71).</blockquote>
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A oitava é: <b>não se desvie da justiça</b>. Seria bom se o advogado refletisse sobre o sentido de sua profissão e estremecesse ante a possibilidade de contribuir com alguma injustiça. Dele se espera que apresente os interesses de seu cliente sob a melhor luz. O engano, a fraude e a mentira, no entanto, não são ferramentas do exercício da advocacia. São antes a manifestação visível do adoecimento interno do advogado e da comunidade em que está inserido. Aqui, e para encerrar essas breves considerações, cito mais uma vez o Rui Barbosa, numa passagem que mereceria ficar gravada na entrada dos escritórios de todos os advogados:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Legalidade e liberdade são as tábuas da vocação do advogado. Nelas se encerra para ele a síntese de todos os mandamentos. Não desertar a justiça, nem cortejá-la. Não lhe faltar com a fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia. Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar patrocínio a estes contra aqueles. Não servir sem independência à justiça, nem quebrar da verdade ante o poder. Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniquidade ou imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das perigosas, quando justas. Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial. Não proceder nas consultas, senão com a imparcialidade real do juiz nas sentenças. Não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura. Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigente com caridade. Amar a pátria, estremecer o próximo, guarda a fé em Deus, na verdade e no bem” (BARBOSA, p. 83, 84).</blockquote>
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<b>Referência</b></div>
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<br /></div>
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BARBOSA, Rui. <i>Oração aos Moços</i>. (s.l.): Ediouro, (s.d.).<br />
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Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-12270472105648975602019-02-18T14:18:00.003-03:002019-02-18T14:18:55.323-03:00Grupo de Estudos "Sapientia"<div style="text-align: right;">
<i>“Sapientia: nenhum poder, </i></div>
<div style="text-align: right;">
<i>um pouco de saber, um pouco de sabedoria, </i></div>
<div style="text-align: right;">
<i>e o máximo de sabor possível” </i></div>
<div style="text-align: right;">
(BARTHES, 1980)</div>
<br />
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<b>Introdução</b></div>
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<br /></div>
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A vida é uma jornada de autoconhecimento. Paradoxalmente, percebemos em nossa prática docente que o aluno que ingressa na universidade é, cada vez mais e mais, ignorante sobre si mesmo, em parte porque também ignorante sobre o mundo, em parte porque pouco ocupado em ter-se como um problema para si próprio (AGOSTINHO, 2017). </div>
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<br /></div>
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O grupo de estudos <i>Sapientia</i> pretende oferecer ao estudante universitário um local para que ele conheça a si próprio por meio da reflexão sobre as grandes obras que compõem o canon do ocidente (BLOOM, 2014), obras que estruturaram a mente e o gosto estético de uma civilização, e que representam um tesouro de sabedoria, uma fonte de prazer pela sua fruição, um talismã e uma chave de leitura para aqueles que o dominam, chamadas por todos nós de <i>clássicas </i>(CALVINO, 2007). Sua leitura é necessária porque o homem é o único ser que pode se apropriar do conhecimento e da reflexão de outros, e por isso temos tanto a aprender com elas.</div>
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<br /></div>
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Por meio de reuniões quinzenais, discutindo livros (de ficção ou de não-ficção), música, cinema, teatro, artes plásticas e arquitetura, o grupo pretende fornecer a possibilidade para refletirmos sobre quem somos e como nos relacionamos com a cultura.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O grupo será coordenado pelos professores <b>Marcelo Campos Galuppo</b> (DIT) e <b>Giordano Bruno Soares Roberto</b> (DIC). Há a possibilidade de outros professores serem convidados para participar de cada um dos encontros.</div>
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<br /></div>
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<b>Metodologia de trabalho no primeiro semestre de 2019</b></div>
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<br /></div>
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No primeiro semestre, o grupo irá discutir o tema da <i>Jornada do Herói</i>, termo cunhado por Joseph Campbell para explicar a estrutura do processo de autoconhecimento que o herói realiza nos mitos: uma viagem, da qual o herói volta transformado: Gilgamesh, Enkidu, Ulisses, Telêmaco, Abrahão, Jacó, José, Kurtz, Marlowe, todos são heróis que empreendem uma viagem e se descobrem no meio dessa jornada (CAMPBELL, 1989). </div>
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<br /></div>
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No primeiro semestre de 2019, o grupo se reunirá quinzenalmente às sextas-feiras, de 11:20 às 13:50 para discutir livros e filmes, conforme o seguinte cronograma:</div>
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<br /></div>
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<b>15/03</b> - Filme <i>Com Mérito</i> (With Honors)</div>
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<b>29/03</b> - Livro <i>Gilgamesh</i></div>
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<b>12/04</b> - Livro de <i>Gênesis</i> (Bíblia), cap. 1 a 25</div>
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<b>26/04</b> - Livro de <i>Gênesis</i> (Bíblia), cap. 26 50</div>
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<b>10/05</b> - Livro <i>Odisseia</i> (Homero) cantos I a XII</div>
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<b>24/05</b> - Livro <i>Odisseia</i> (Homero) cantos XIII a XXIV</div>
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<b>07/06</b> - Livro <i>Coração das Trevas</i> (Conrad)</div>
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<b>28/06</b> - Filme <i>Apocalipse now</i></div>
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<br /></div>
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Se houver até 50 alunos interessados, a participação no grupo depende da mera manifestação de intenção por meio da presença na primeira reunião do grupo. Caso haja um maior número de participantes, eles serão selecionados por processo oportunamente estabelecido. A avaliação dos alunos participantes se realizará por relatórios de leitura por eles apresentados. Aos alunos que participarem de pelo menos seis encontros serão conferidas 30 horas de ACG.</div>
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<br /></div>
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<b>Referências bibliográficas</b></div>
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<br /></div>
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AGOSTINHO<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> (Santo). Confissões. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2017.</div>
<div style="text-align: justify;">
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980.</div>
<div style="text-align: justify;">
BLOOM, Harold. O cânone ocidental. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.</div>
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CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1989.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-51759238341924298952018-12-06T14:38:00.002-02:002019-02-19T15:02:21.185-03:00O fim do exame especial<div style="text-align: justify;">
Nos últimos dias do semestre, um assunto domina a Faculdade de Direito da UFMG: a possibilidade de extinção do exame especial. É que as Normas Gerais de Graduação, aprovadas em agosto de 2018, conferem competência aos departamentos para definir se os estudantes terão direito a esse tipo de prova, que funciona como uma nova chance de obter os pontos necessários para aprovação. </div>
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<br /></div>
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Ao ver o debate, conduzido pelos departamentos, e acompanhado de perto pelos estudantes, fico pensando no lugar tragicamente central que a avaliação ocupa no processo de ensino e aprendizagem. As mesmas Normas Gerais de Graduação que autorizam - mas não obrigam - a modificação do exame especial, obrigam - e não simplesmente autorizam - a revisão dos projetos pedagógicos dos cursos. Mas, no nosso caso, a discussão de um antecede a discussão do outro justamente por conta da centralidade da avaliação.</div>
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<br /></div>
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Uma decorrência natural do equívoco é que, antes de discutir o sistema de avaliação como um todo, discutiremos uma parte dele, que é a que cuida do exame especial, quando na verdade, só deveríamos discutir qualquer assunto ligado à avaliação no âmbito das conversas sobre o projeto pedagógico do curso. Nossa situação é tão curiosa como se, logo depois de decidir edificar uma casa nova, o marido dissesse à mulher: “precisamos escolher a cor da maçaneta da porta da cozinha”. Não deveria ser assim. O debate sobre avaliação não poderia se descolar do debate sobre os fundamentos conceituais e a estrutura curricular do curso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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No estado atual, deveríamos admitir que, ao pronunciar a palavra <i>prova</i>, nenhum de nós pode sequer imaginar o que se passa na cabeça de um colega de departamento. </div>
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<br /></div>
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É que alguns trabalham com a ideia de <i>prova-granada</i>, que é aquela que assusta os estudantes e os obriga a correr atrás dos livros e dos cadernos.</div>
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<br /></div>
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Outros, com a ideia de <i>prova-miragem</i>, que é aquela que simplesmente não existe: o professor finge que elabora, os alunos fingem que estudam, o professor finge que corrige.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outros com a de <i>prova-espelho</i>, que é aquela que pode mostrar ao professor como ele ensinou, e ao aluno, como ele aprendeu.</div>
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<br /></div>
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E ainda outros com a ideia de <i>prova-régua</i>, que é a que tenta medir a quantidade de informações que os estudantes são capazes de armazenar.</div>
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<br /></div>
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Eu mesmo não sei o que pensar quando ouço a palavra <i>prova</i>. Mas tenho certeza de que o centro do processo pedagógico não pode ser algo diferente de <i>aprender</i> ou, de preferência, <i>aprender a aprender</i>. Se nos organizarmos ao redor da avaliação, correremos o risco de gastar os melhores esforços com coisas que não são verdadeiras. Alguém que estuda para se exibir não é necessariamente alguém que estuda para aprender. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Assim, para voltar ao tema do momento, registro que, de fato, deveríamos nos perguntar sobre o fim do exame especial, e também sobre o fim da avaliação, e também sobre o fim do curso de Direito. Afinal, a que servimos nós?</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-14011376252445071322018-12-05T10:03:00.000-02:002018-12-05T10:04:31.426-02:00Você concorda com o fim do exame especial?<div style="text-align: justify;">
<b>Pergunta enviada pelo representante de turma do 2º período:</b></div>
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<br /></div>
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Você concorda com o fim do exame especial?</div>
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<br /></div>
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<b>Resposta do Professor Doutor (e Pós-Doutor) Lemos:</b></div>
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<br /></div>
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Se não estou enganado (e raramente estou enganado), o exame especial é aquela provinha que os artistas, quer dizer, os alunos fazem quando atravessam o semestre inteiro sem obter a pontuação mínima. É isso mesmo, né? Se eu acho que deveria acabar? Nunca deveria ter existido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar porque é uma prova e, se é uma prova, significa que o professor deve elaborá-la e corrigi-la. Tudo bem que monitores e estagiários de docência estão aí para esse tipo de coisa, mas é inegável que dá algum trabalho, sim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Em segundo lugar porque pode servir como prêmio à malandragem. Veja bem, o artista, quer dizer, o aluno leva o semestre inteiro na flauta e, depois, faz o diabo para tirar boa nota numa única prova, usando, quase sempre, de artifícios que não convém sequer mencionar aqui. </div>
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<br /></div>
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Em terceiro lugar porque favorece a cultura do <i>mimimi</i>. Se o professor já tiver decidido reprovar um artista, quer dizer, um aluno, é melhor aceitar que ele já está reprovado. Não será uma segunda, terceira, quarta, quinta ou sexta chance que vai mudar isso. E o exame especial pode ser apenas mais uma oportunidade para reclamações, choradeira e esses recursos inúteis. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, muito embora tenha o peso que tem, por ser minha, é apenas uma opinião. Evidentemente, ninguém está obrigado a concordar. E ninguém será perseguido se discordar. Claro que não vou ficar de marcação com alunos que se manifestarem de modo contrário. Jamais utilizaria meu poder, por exemplo, para ferrar com um representante de turma que faz papel de engraçadinho. Academia é lugar de dissenso. Eu respeito opiniões alheias, mesmo quando elas não têm sentido algum.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-13668573458715656202018-12-04T16:51:00.001-02:002018-12-04T16:52:39.339-02:00Como vencer votações no Colegiado do Curso?<div style="text-align: justify;">
<b>Pergunta enviada por um jovem professor:</b></div>
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<br /></div>
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Como vencer votações no Colegiado do Curso?</div>
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<br /></div>
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<b>Resposta do Professor Doutor (e Pós-Doutor) Lemos:</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Notei, caro colega, que você usou o verbo “vencer”. Então, aprenda logo a primeira lição: o importante não é vencer as votações. É simplesmente não perdê-las. Tudo bem. Imagino que a diferença não tenha ficado clara. Vou explicar. Vencer uma votação implica que ela tenha sido realizada e que você tenha obtido a maioria dos votos. No entanto, para evitar a derrota será suficiente que ela não se realize. E esse é o grande segredo. Se você tiver a mínima suspeita de que não tem os votos necessários, basta seguir as minhas dicas. Você pode até não vencer, mas nenhuma outra pessoa vencerá.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira providência é controlar a formação da pauta. Se for possível, tire o tema de lá, simplesmente. Se não, tente ao menos colocá-lo mais para o final da reunião.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda providência é, durante os debates, falar pelo maior tempo possível, de modo a vencer os colegas pelo cansaço. Na melhor das hipóteses, o tema será deixado para a reunião seguinte. Se isso não acontecer, no entanto, os colegas estarão tão exaustos que ficarão mais suscetíveis à manobra seguinte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A terceira providência é causar confusão. O caminho mais fácil é acusar o presidente de agir com autoritarismo, de não garantir o seu direito de fala, enfim, de tentar censurar suas opiniões. Outra possibilidade, perigosa, mas eficaz, é sugerir sutilmente que alguém ali tem interesse pessoal na questão. Também costuma dar certo pisar no velho calo de um colega mais exaltado. Se um deles tiver enfrentado acusação de plágio, por exemplo, a mais vaga referência ao assunto pode ser o suficiente. Se outro tiver fama de puxa-saco, simplesmente use palavras como “servilismo”, “subserviência” e “bajulação”. Aumentar o tom de voz, colocar o dedo em riste, interromper o presidente da sessão, entre outras, são atitudes que podem produzir o clima desejado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Também é possível tentar, a qualquer momento, uma saída regimental. Pense em algo como localizar um vício no procedimento, sair da sala para impedir a manutenção do quorum ou o bom e velho pedido de vista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas lembre-se, jovem colega, que todas essas informações só devem ser utilizadas a bem da instituição e como forma de proteger a democracia. As pessoas nem sempre sabem o que querem. E nem sempre querem o melhor. Às vezes, meu caro, é preciso intervir, mas só para garantir a preservação do bem comum.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-35949813344382729082018-12-04T15:36:00.000-02:002018-12-04T16:00:06.657-02:00Não gosto do professor de Empresarial. O que devo fazer?<div style="text-align: justify;">
<b>Pergunta enviada por um estudante do 8º período:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não gosto do professor de Empresarial. Ele é bem fraquinho. O que devo fazer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Resposta do Professor Doutor (e Pós Doutor) Lemos:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olha, infelizmente, na verdade, a ética profissional me impede de tratar a questão com a clareza de costume. Não posso correr o risco de criticar um colega. Você diz que ele é fraquinho. Tudo bem, que seja. Mas quem sou eu para falar disso? E não é porque ele é feio, cospe enquanto fala, diz “pobrema” ao invés de “problema”, falha mais que o ataque do Galo, não é por isso que ele é mau professor. Tente perceber suas qualidades mais profundas, aquelas tão escondidas que ninguém vê, que nem mesmo ele sabe que tem, e que talvez ele não tenha, de fato. Procure evitar que a turma faça abaixo-assinado para pedir a cabeça do nobre colega. Todo mundo sabe que a Coordenação do Curso não pensaria duas vezes, né? Então, vocês não deveriam fazer isso. Tudo bem que poderia vir um professor bem melhor, mais novo, com doutorado e tudo. Mas pensem no pobre coitado. Por mais tentador que seja, não alimentem esse tipo de ideia. E tem mais: vejam a matéria que ele é obrigado a lecionar! Ninguém merece! No século XIX, chamava-se <i>Direito Mercantil</i>. No século XX, <i>Direito Comercial</i>. E agora, <i>Direito Empresarial</i>. Francamente, como levar a sério uma disciplina que não sabe nem o próprio nome? E como esperar que os alunos se interessem por coisas tão estranhas quanto letras de câmbio, cheques, duplicatas e cédulas de crédito rural? Então, vou resumir para os que têm dificuldade de entender. O professor é ruim? É. Ou melhor, pode ser que seja. Mas quem sou eu para criticar um colega? Ou sugerir algo que o possa prejudicar? Não esperem isso de mim, meninos. Não vou cair nessa. Jamais. Definitivamente. </div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-24256920690985306082018-11-13T14:10:00.000-02:002018-11-13T14:10:48.718-02:00Carta Aberta aos Amigos da Faculdade de Direito da UFMG<div style="text-align: justify;">
Por duas razões objetivas, e autônomas, temos o dever de reformular o Projeto Pedagógico do Curso de Direito da UFMG. A primeira é a aprovação de novas Normas Gerais de Graduação, que assinalam o curtíssimo prazo de 240 dias para a tarefa. E a segunda é a aprovação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Direito. Assim, nosso desafio já não é discutir a conveniência da reforma, mas o melhor modo de fazê-la. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vou começar do começo: que tal se fizéssemos o compromisso solene de conduzir os debates com generosidade! Sim, porque respeito é pressuposto elementar, mas insuficiente para o tamanho da tarefa. Vivemos um tempo especialmente tenso. Nossos alunos estão prestes a enfrentar um mercado de trabalho cheio de incertezas. Então, não basta ouvir e falar com consideração pelo outro. Precisamos nos dispor a assumir o lugar do outro, sacrificar interesses pessoais, compartilhar, ajudar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois, penso que algumas diretrizes de trabalho poderiam contribuir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira é <i>moderação</i>. Eu já defendi reformas radicais. Em minhas turmas de graduação, inclusive, fiz as experiências mais malucas. Mas, hoje, estou convicto de que deveríamos manter a estrutura básica do curso e inserir pequenas novidades com potencial de transformação. A verdade é que nosso curso é bom. E isso passa, evidentemente, pela qualidade dos alunos, dos professores, dos servidores técnico-administrativos, pela longa tradição da Faculdade de Direito e pelo fato de que estamos inseridos numa Universidade de excelência. Com pequenos ajustes, poderíamos subir a um novo patamar. A moderação também tem a ver com a necessidade de que a reforma não seja apenas um conjunto de ideias no papel, mas a tradução de um consenso construído por meio do diálogo e alegremente vivenciado em nossa experiência cotidiana. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda é <i>equilíbrio</i>, mas num sentido bastante específico: nenhuma modificação deveria perturbar o atual equilíbrio entre os quatro departamentos responsáveis pelo curso. Assim, para tranquilidade de todos, deveríamos garantir, no ponto de partida, que cada um deles manteria a mesma participação proporcional na oferta de disciplinas obrigatórias e teria voz ativa nas decisões sobre que matérias incluir e que matérias excluir da matriz curricular.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A terceira é <i>autonomia</i>. Se o objetivo de um curso de Direito fosse ensinar todos os conteúdos relevantes, vinte anos não seriam suficientes. Além disso, a crescente complexidade das relações sociais cria tantas novas áreas de atuação que qualquer projeto pedagógico corre o risco de nascer desatualizado. É preciso, portanto, identificar os conteúdos mínimos sem os quais ninguém deveria obter o grau de bacharel em Direito, além de investir fortemente no desenvolvimento de competências. Em termos práticos, isso resultaria na flexibilização da matriz curricular, reduzindo levemente o espaço das disciplinas obrigatórias e aumentando os momentos de liberdade para decidir sobre a própria formação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A quarta é <i>integração</i>. Nosso curso ganharia imensamente se conseguíssemos trazer para o centro algumas das atividades que funcionam às margens. É preciso pensar em formas criativas de colocar o curso de Direito em contato com o de Ciências do Estado, já que compartilham o mesmo espaço e possuem objetivos comuns; com o Programa de Pós-Graduação em Direito, que é responsável pelo desenvolvimento de pesquisas altamente relevantes e sofisticadas; e com os demais cursos da UFMG, que oferecem as mais diversas oportunidades de formação. Além disso, atividades como pesquisa, extensão, intercâmbios internacionais e estágios, que permitem a entrada de novos ares na trajetória acadêmica, deveriam ser melhor articuladas com os objetivos do curso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A quinta é <i>diálogo</i>. A construção de um Projeto Pedagógico é uma tarefa coletiva. Esse é o seu maior perigo. E sua maior beleza, também. E todos podem contribuir, alunos de graduação, alunos de pós-graduação, servidores técnico-administrativos, professores, representantes discentes, ex-alunos, integrantes das mais diversas carreiras jurídicas, especialistas em Educação e todas as pessoas que se interessam pelo assunto. Para que isso realmente aconteça, é essencial criar bons canais de comunicação e proporcionar momentos adequados de debate.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tenho imensa alegria de trabalhar na Faculdade de Direito da UFMG. E percebo que esse sentimento é amplamente compartilhado. Mas é preciso confessar que somos muito egoístas. Somos excessivamente individualistas. Pode ser natural, e até benéfico, que cada integrante da Comunidade Acadêmica tenha seu próprio modo de ver o mundo e sua forma peculiar de conceber o curso de Direito. Mas não é bom que cada um dos 120 professores da Faculdade tenha seu próprio Projeto Pedagógico e o aplique soberanamente em seu âmbito de atuação. Precisamos nos lembrar que somos uma Escola. Precisamos compartilhar tarefas. Precisamos trabalhar em conjunto. Estou certo de que, assim, seremos ainda mais felizes. Ofereceremos um curso ainda melhor. Contribuiremos ainda mais com os desafios do nosso tempo. Por isso, generosidade, amigos. Generosidade. É assim que tudo começa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Belo Horizonte, 13 de novembro de 2018.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Giordano Bruno Soares Roberto</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
PARA CONSULTA:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Normas Gerais de Graduação da UFMG</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://www.ufmg.br/prograd/arquivos/NormasGerais.pdf">https://www.ufmg.br/prograd/arquivos/NormasGerais.pdf</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Diretrizes Curriculares do Curso de Direito</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=100131-pces635-18&category_slug=outubro-2018-pdf-1&Itemid=30192">http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=100131-pces635-18&category_slug=outubro-2018-pdf-1&Itemid=30192</a></div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-42676516304539714202018-09-02T18:37:00.000-03:002018-09-02T18:38:40.351-03:00Guia Incompleto, Desatualizado e Provisório para Estudantes Universitários<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKlRUB8SMdZrFHt-rXi7_HCYhM2XbY-I27_2wz_Huv6L_2FN0wkQd9Uux0EeOr3XHBcoHeXE84yXclXp6tMdompF-xR4ozKJqD9KgyVjd3q1rD257LxLRsPjjBMLrX3n3cYUWzfC8tGbc/s1600/Guia-para-estudantes-universita%25CC%2581rio_Giordano_capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="538" data-original-width="330" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKlRUB8SMdZrFHt-rXi7_HCYhM2XbY-I27_2wz_Huv6L_2FN0wkQd9Uux0EeOr3XHBcoHeXE84yXclXp6tMdompF-xR4ozKJqD9KgyVjd3q1rD257LxLRsPjjBMLrX3n3cYUWzfC8tGbc/s320/Guia-para-estudantes-universita%25CC%2581rio_Giordano_capa.jpg" width="196" /></a></div>
Já está a venda o "Guia Incompleto, Desatualizado e Provisório para Estudantes Universitários".<br />
<br />
No site da Editora <a href="http://conhecimentolivraria.com.br/produto/guia-incompleto-desatualizado-e-provisorio-para-estudantes-universitario/" target="_blank">Conhecimento</a>. Ou na <a href="https://www.amazon.com.br/Incompleto-Desatualizado-Provis%C3%B3rio-Estudantes-universit%C3%A1rios/dp/8593869122?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=giordano+bruno+soares+roberto&qid=1535924008&sr=8-5-fkmrnull&ref=sr_1_fkmrnull_5" target="_blank">Amazon</a>.<br />
<br />Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-44518680292566701142018-08-29T16:59:00.000-03:002018-08-29T17:05:04.087-03:00Dicas para brilhar em entrevistas e provas orais<div style="text-align: right;">
<b><br />Professor Lemos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antes de tudo, é preciso esclarecer que não me dirijo aos que estudaram e, portanto, estão prontos para qualquer tipo de prova. Ao contrário, escrevo para os tímidos, os inseguros, os de inteligência limitada e, sobretudo, os preguiçosos. Na verdade, quando a palavra “dica” aparece no título, o texto só é procurado por aqueles que pretendem achar um atalho. A eles, portanto, é que me dirijo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira providência para se dar bem em entrevistas e provas orais é buscar informações sobre os integrantes da banca. Faça o melhor levantamento que puder. Descubra principalmente os gostos pessoais. Se um examinador for cruzeirense, não deixe de dizer, como quem não quer nada, que o Tostão é o melhor jogador de todos os tempos. Se outro tiver pendores socialistas, insira no discurso, com a máxima naturalidade, palavrinhas como “opressão”, “ideologia” e “superestrutura”. E se ainda outro apreciar música sertaneja, pense na possibilidade de usar cinturão de couro, com fivela arredondada, e cantarolar distraidamente canções de Sérgio Reis ou Luan Santana, conforme o contexto exigir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outra iniciativa promissora é tentar identificar se há alguma rivalidade entre os integrantes da banca e, depois, usar isso em benefício próprio. Posso afirmar que, em 80% dos casos, há questões mal resolvidas entre os colegas que participam da avaliação. E nos outros 20% dá para dizer que eles se odeiam. Por isso, eleger a linha teórica adotada por um e rechaçada por outro pode criar um desequilíbrio altamente benéfico. Desse modo, se um dos examinadores disser que o seu trabalho é um lixo, o outro ficará tentado a afirmar que você, na verdade, é um gênio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Recomendações disfarçadas também costumar dar certo. Por isso, se você e um examinador tiverem conhecidos ou amigos em comum, não se esqueça de dizer: “fulano te mandou um abraço”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma tática perigosa, mas que pode dar certo, é a da ameaça velada. Caso saiba de um fato que desabone a conduta do examinador, você pode utilizá-lo. E se não souber, é só procurar direitinho. Nada que o Google não resolva. O essencial é que você escolha as palavras com tanto cuidado que nenhum dos demais presentes desconfie de qualquer coisa, enquanto o destinatário da ameaça possa perceber claramente o perigo que tem diante de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A lamúria é uma técnica que também dá bons resultados. Se você tem uma história cheia de obstáculos, dê um jeito de tocar no assunto, de preferência com frases dramáticas, pronunciadas com voz embargada. Algumas lágrimas, desde que bem dosadas, podem tornar a cena perfeita. Agora, se você sempre viveu numa boa, estudou nos melhores colégios e sempre passou férias na Europa, fale de alguma dificuldade de momento, tipo uma gripe que não sara ou uma dor de coluna que você quase não suporta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não poderia terminar sem uma referência à tradicional arte da bajulação. Aos iniciantes, recomendo prudência. Utilizem doses seguras. Algumas frases que podem funcionar: “li o seu artigo e gostei muito”, “só entendi o assunto quando estudei o seu livro” e “a sua palestra me fez rever inúmeros conceitos”. Sugiro que só os mais experimentados se arrisquem em elogios pessoais, do tipo “gostei do novo corte de cabelo” ou “como você emagreceu!”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todas as dicas são poderosas. E dificilmente dão errado. Por isso, caso não tenha sucesso ao utilizá-las, é possível que o seu caso seja muito grave. Mas sempre restará uma última providência, que é justamente reclamar do arbítrio dos examinadores.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-12223928002779946632018-08-28T12:49:00.003-03:002018-08-29T17:26:04.750-03:00Como redigir a epígrafe perfeita<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Professor Lemos</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<o:p> </o:p><i style="text-align: right;">Bom xibom, xibom, bombom!</i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i>Bom xibom, xibom, bombom!<o:p></o:p></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i>Bom xibom, xibom, bombom!<o:p></o:p></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i>Bom xibom, xibom, bombom!<o:p></o:p></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
(As Meninas, 1999)</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neófitos sempre me perguntam
sobre como redigir a epígrafe perfeita. Aliás, perguntar é o que os neófitos
fazem melhor e, desse modo, revelam ao mundo toda a extensão de sua insensatez.
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Perguntar pela epígrafe perfeita,
no caso de um neófito, é perguntar pelo impossível. A perfeição é para os
gênios. E genialidade não se ensina, não se aprende. Falarei, portanto, da epígrafe
possível, na esperança de ser útil aos consulentes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O segredo de uma epígrafe é
escolher uma frase completamente incompreensível, o que se pode obter de dois
modos. O primeiro é retirar do contexto uma frase compreensível, tornando-a,
assim, suficientemente obscura. O segundo, e mais fácil, é escolher uma frase
qualquer de um escritor incompreensível. E há autores especialmente apropriados
ao propósito. Experimente, por exemplo, Lacan, Sartre, Derrida ou qualquer outro sujeito que jamais escrevia sem antes fumar ou beber alguma substância de
procedência duvidosa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A razão para escolher uma epígrafe
misteriosa é óbvia. E se me dou ao trabalho de explicá-la é porque me dirijo a
neófitos. Uma vez que é certo que todo gênio é um incompreendido, nada melhor
que a obscuridade para simular genialidade que, como disse, é algo que não se
ensina, não se aprende, mas com o que se nasce. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E talvez seja melhor um gênio
simulado que um gênio de verdade, pois a genialidade é uma ilha num oceano de
estupidez. O gênio é um solitário. Sua única forma de ter comunhão é escrever
e, depois, ler o que escreveu. Somente consigo é que um gênio pode dialogar. Ninguém
deveria aspirar à genialidade. Primeiro, porque é inútil. Depois, porque ser gênio
não é fácil. E eu digo por experiência própria.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma epígrafe incompreensível,
portanto, é o melhor que se pode fazer. Diante dela, o leitor, cansado de
imaginar algum sentido razoável, desiste, sucumbe, desmorona, reconhecendo,
assim, a estreiteza de sua capacidade intelectual, sem ter outra coisa a fazer
senão confessar que está na presença de um gênio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Post scriptum<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="text-align: justify;">Se você não sabe o que são os neófitos, isso significa que
você é um deles. Nesse caso, consulte o dicionário, que é o livro que todo neófito
deve ter sempre por perto. Saia de casa sem a carteira, o celular e o guarda-chuva,
mas não ande sem o </span><i style="text-align: justify;">Aurélio</i><span style="text-align: justify;">, bom e velho.</span>Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-63132757557939237702018-08-06T16:39:00.001-03:002018-08-06T16:50:48.569-03:00Pensar bem para agir bem: observações sobre estágio de docência*<div style="text-align: justify;">
Todo mundo já ouviu a história do sujeito que estava doente, mesmo às portas da morte, e tinha um grande segredo para contar. Na presença de amigos e familiares, ele abre os olhos com dificuldade, tenta levantar um pouco a cabeça, faz sinal para que todos se aproximem e, com o máximo esforço, consegue dizer: - “Eu queria revelar algo importante, que pode mudar a vida de muita gente. Prestem bastante atenção, que eu não vou repetir. Gostaria que vocês soubessem que…”. Nesse momento, com o clima de tensão no limite, o moribundo faz uma pausa. Os presentes, muito ansiosos, chegam ainda mais perto. Mas antes de completar a frase, ele apenas suspira, e morre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lamento decepcioná-los logo de cara, mas não tenho nenhum segredo para contar. Não posso lhes ensinar a mágica de obter sucesso no magistério, simplesmente porque não sei como fazê-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu tenho a dizer é simples e se baseia na compreensão de que, para agir bem, é preciso pensar bem. É que embora não sejam suficientes, os pensamentos corretos são necessários para as boas atitudes. E se aqueles que se preparam para o magistério desejam fazer as coisas da melhor forma - e eu sei que desejam - é o caso, então, de escolher as melhores ideias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, na expectativa de proporcionar reflexão e debate, gostaria de fazer quatro afirmações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>1. As atitudes refletem a personalidade</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O professor não consegue se esconder dos alunos. Por mais que tente controlar os gestos e escolher as palavras, ele acaba revelando mais do que deseja. A dinâmica da sala de aula é cheia de armadilhas. E é difícil se esquivar de 40 ou 50 observadores atentos e inteligentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, parece que o melhor é buscar o máximo de <i>autoconhecimento</i>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, ao descobrir os próprios limites, o professor respeitará si mesmo; ao perceber as fragilidades, saberá em que áreas precisa investir; e ao identificar os pontos fortes, perceberá de que modo pode dar as melhores contribuições. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>2. Ninguém pode oferecer o que não tem</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não acredito que o professor possa transferir conhecimentos da sua cabeça para a cabeça do aluno. Nesse ponto, e em muitos outros, estou de acordo com o Paulo Freire. Mas, por outro lado, o professor não deveria esperar que o aluno se tornasse algo essencialmente diferente de seu mestre. Jesus ensinou que “basta ao discípulo ser como o seu mestre”. Convenhamos que, quando os mestres são humanos, e especialmente quando são bem fraquinhos, os discípulos podem superá-lo. Mas, nesse caso, o importante é que o professor saiba que, querendo ou não, acabará servindo de modelo aos alunos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabendo disso, para o seu próprio bem e o bem de seus alunos, deve construir a mais adequada <i>formação</i> filosófica de que for capaz e a melhor formação na especialidade a que se dedica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>3. Não dá para alimentar quem não tem fome</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que está em jogo na sala de aula é basicamente ensinar e aprender. Não apenas os conteúdos, mas também as habilidades. Não somente o professor ensinando, mas os alunos também. Não somente os alunos aprendendo, mais os professores também. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O professor, de quem tradicionalmente se espera que ensine, não deve imaginar que é isso o que lhe cabe, mas também não pode admitir que não lhe reste o que fazer. Na dinâmica da escola, o professor sempre terá um papel especial. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando o aluno já sabe o que quer, o professor pode adotar estratégias para ajudá-lo a se apropriar de conteúdos e habilidades. Mas quando o aluno não sabe para onde ir, o professor deve começar o seu trabalho com o que Feuerstein chama de <i>mediação do interesse</i>, que consiste na adoção de estratégias para ajudá-lo a perceber o universo de possibilidade que tem diante de si. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O desafio não é pequeno, sobretudo num tempo em que as pessoas se dispersam com facilidade e costumam chegar ao ensino superior sem a mínima noção do que esperam para o futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para ajudar, é recomendável investir nos estudos de <i>metodologia</i> do ensino.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>4. É impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, uma observação para quem está prestes a ter sua primeira oportunidade de assumir uma sala de aula, nem que seja apenas por um dia: não a desperdice. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E também não acredite na ideia corrente de que professor universitário se realiza mesmo é como pesquisador. Não dê ouvidos aos que desvalorizam a sala de aula. Não se deixe prender pelos obstáculos, tais como a falta de estrutura, o desinteresse dos alunos ou a aridez dos temas que serão estudados. E se você é monitor ou estagiário de docência, não fique desanimado com eventuais falhas do orientador, mas utilize esse elemento como incentivo para fazer diferente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em qualquer contexto, o professor não deveria buscar menos que a <i>excelência</i>. E com mais razão se ele está em início de carreira. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, tendo a oportunidade de pisar na sala de aula, o professor deve estar inteiramente ali. Não pode se distrair com outras tarefas. Nem mesmo com os prazos para entregar a dissertação ou a tese.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nossos dias não são os melhores para quem está prestes a ingressar no mercado de trabalho, em qualquer área, inclusive na educação superior. É preciso dizê-lo com franqueza. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, para quem deseja seguir carreira no magistério, o correto é fazer todas as tarefas com o máximo cuidado, aproveitando, assim, cada oportunidade, e cuidando de se aprimorar de modo constante, na esperança de que, no momento certo, a porta certa se abrirá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para finalizar, cito uns versos do Fernando Pessoa, na verdade, de Ricardo Reis, que estão gravados no túmulo do poeta, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e que podem resumir bem o que tentei dizer até aqui:<br />
<br /></div>
<i>Para ser grande, sê inteiro: nada </i><div>
<i>Teu exagera ou exclui. </i></div>
<div>
<i>Sê todo em cada coisa. Põe quanto és</i></div>
<div>
<i>No mínimo que fazes.</i></div>
<div>
<i>Assim em cada lago a lua toda</i></div>
<div>
<i>Brilha, porque alta vive.</i><div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>* Texto que serviu de base à comunicação apresentada no <i>Seminário de Iniciação à Docência</i>, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG, em 3 de agosto de 2018.</b></div>
</div>
</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-47748054947658099982018-08-03T20:36:00.001-03:002018-08-29T17:11:19.202-03:00Palestra inspiradora para estagiários de docência*<div style="text-align: right;">
<b>Professor Lemos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto-me honrado com o convite para falar aos senhores sobre o trabalho do professor. De acordo com as informações que recebi da organização, os senhores são estagiários de docência e estão se preparando para o início do semestre. É isso mesmo, não é? Pois bem, foi-me dito que a minha fala deveria “inspirar os pós-graduandos para atuação no magistério jurídico”. Então, vamos lá, que essa é uma das coisas que eu faço melhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira ideia é: <i>seja um bom estagiário hoje e torça para ter bons estagiários amanhã! </i>Sim, porque ninguém aceitaria as tarefas do estágio se não soubesse que isso é por pouco tempo e sobretudo por conta da expectativa de logo ter os próprios serviçais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda ideia é: <i>mesmo que você já tenha sido aluno, jamais caia na conversa de um aluno! </i>Todo cuidado é pouco com as historinhas que eles gostam de contar, principalmente para justificar o atraso nas aulas e a ausência em dias de prova. O melhor é trabalhar com a presunção de que falam mentira. E presunção <i>iure et de iure</i>, é bom que se diga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A terceira é: <i>não seja idiota a ponto de tentar ser melhor que o professor!</i> É muito comum que estagiários de docência, cheios de uma espécie infantil de arrogância, queiram fazer gracinhas aos estudantes, procurando obter aprovação e admiração. E tudo com o indisfarçado propósito de diminuir a autoridade do professor. Não façam isso, meninos! Lembrem-se de que um dia vocês também poderão estar aqui no topo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a quarta e última ideia é: <i>saiba que a regra de ouro é a de sempre fazer o menor esforço!</i> É preciso ter cuidado com essas baboseiras da área de educação e com esses escritores piegas, do tipo Rubem Alves e Miracy Gustin. Se a gente fizesse tudo o que eles mandam, como sobraria tempo para trabalhar e ganhar dinheiro? Eles é que não sabem como o meu escritório toma tempo! Então, nada de inventar moda. O negócio é aula no gogó, prova fechada e um trabalho em grupo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, concluo a minha conferência, certo de que inspirei todos os senhores. E olha que eu só pensei nessas ideias enquanto vinha para cá. Eu tenho muita facilidade. Improviso é o meu sobrenome. Um dia vocês podem fazer algo parecido, desde que estudem o quanto estudei, e somente se tiverem uma boa dose de sorte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>* Palestra proferida pelo Professor Lemos, no <i>Seminário de Iniciação à Docência</i>, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito, em agosto de 2018.</b></div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-19701144263723229092018-06-27T08:56:00.002-03:002018-08-29T17:11:38.347-03:00Entrevista exclusiva com o Professor Lemos<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois de muitas tentativas
frustradas, finalmente, conseguimos uma entrevista exclusiva com o Professor
Lemos, que é um dos candidatos à diretoria da Faculdade.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: Professor Lemos, em
primeiro lugar...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Desculpe, mas é Senhor
Professor Pós-Doutor Lemos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: Sim, claro, Senhor
Professor Pós-Doutor Lemos, em primeiro lugar, agradecemos a disponibilidade de
nos conceder a entrevista.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Estou à disposição. Fiquem
totalmente à vontade para perguntar. Nos próximos 15 minutos, estou
inteiramente à disposição dos senhores.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: É verdade que o Senhor
será candidato à direção da Faculdade?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: É.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E o que o levou a tomar
essa decisão?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: A História. Por conta de
minha larga experiência, inclusive no plano internacional, tenho a exata medida
da importância histórica desse tipo de escolha. Sei que o fato ficará
registrado em páginas imorredouras. Por isso, resolvi me candidatar e, assim,
ligar o meu nome ao nome da Faculdade. Tenho a certeza de que isso engrandecerá
enormemente a história da instituição.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E que outros benefícios a
candidatura pode trazer?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Aprendizado. O exercício
de uma função pública é, antes de tudo, uma oportunidade de aprendizado. Claro,
se houver humildade, o aprendizado ocorrerá. É inevitável. E isso é importante
principalmente num país atrasado e sem cultura, como é o nosso. Então, espero
que minha passagem pela diretoria da Faculdade proporcione aprendizado. Na
verdade, trata-se de uma oportunidade única para que os outros professores e os
alunos aprendam como devem se comportar na presença de uma autoridade, como
devem cumprir ordens com exatidão e eficiência, como fazer críticas
verdadeiramente construtivas, além de outras coisas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E o senhor pretende
divulgar um plano com suas ideias e propostas?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Evidentemente. Considero
que não há democracia se os votos são concedidos unicamente em razão das
qualidades pessoais dos candidatos. Terei um plano de governo e ele será
amplamente divulgado. Na verdade, a empresa contratada para elaborá-lo me disse
que já está quase tudo pronto. Falta apenas concluir as pesquisas qualitativas,
eleger as ideias que foram mais mencionadas pela comunidade, e depois redigir
um texto vago e impreciso. Mas teremos um plano de governo, sim. Claro que sim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E caso eleito, qual seria
a sua primeira medida?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Além de óbvia, a pergunta
é simplista. A Faculdade é um universo. Não dá pra pensar em soluções mágicas. É
difícil falar qual seria a primeira de todas as medidas. O que posso prometer é
que vou trabalhar com prioridades, atacando, portanto, as questões mais
urgentes. Vocês já entraram no gabinete do Diretor?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: Sim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Aquilo é um horror! É
preciso fazer intervenções imediatas naquele local. Vou contratar os melhores arquitetos
e decoradores.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E a Faculdade tem verba
para esse tipo de iniciativa?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Lemos</b>: Não sei. Mas não preciso
saber. Meu escritório vai custear tudo. Pode não parecer, mas sou uma pessoa
generosa. E antes que eu me esqueça, quero dizer que também vou atacar outras
prioridades. O elevador dos professores, por exemplo. De uns tempos pra cá,
tenho notado a presença de alunos naquele meio de transporte. Vou implantar uma
catraca ali e colocar dois ou três seguranças. E a garagem? Não parece chocante
que, em pleno século XXI, não haja uma vaga reservada ao uso exclusivo do
Diretor? A sala dos professores também precisa de reformas. Onde já se viu
professores Pós-Doutores compartilharem o mesmo espaço, incluindo o banheiro,
com professores que ainda não deram passo tão elementar? Pretendo dividir a
sala em três ambientes: o primeiro para Pós-Doutores, o segundo para Doutores,
e o terceiro para o resto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Jornal</b>: E quais são os planos
para a Biblioteca?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<b style="text-align: justify;">Lemos</b><span style="text-align: justify;">: Infelizmente, senhores, nosso
tempo está esgotado. O dever me chama. Foi um prazer falar com vocês.</span>Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-77549583252119372022018-06-14T22:51:00.001-03:002018-06-15T17:16:58.646-03:00Florestas, lagos e a aventura de escrever uma tese<div style="text-align: justify;">
O sonho de ingressar no mestrado pode se transformar em pesadelo. No doutorado, as chances são ainda maiores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Costumam concorrer para isso, entre outras coisas, os caprichos do orientador, a grande quantidade de tarefas, as dificuldades financeiras e os problemas emocionais. Mas nada se compara ao desafio de escrever uma dissertação ou tese.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No meu caso, a experiência de mestrado foi tranquila. Mas o doutorado foi diferente. Faltando pouco mais de um ano para o término do prazo, a tese não passava de um esboço e eu tinha poucas esperanças de vencer o bloqueio. O medo de não produzir um trabalho digno praticamente me paralisava. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para contornar o problema, foi importante contar com o apoio da família, a confiança do orientador e o estímulo dos amigos. Também foi bom conversar com colegas experientes e perceber que aquela sensação de impotência não era nada original. Mas, nesse contexto, foi especialmente marcante a conversa que tive com um grande mestre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Conhecedor do poder das parábolas, o professor João Baptista Villela me contou duas. Na primeira, o pintor entrava na floresta e, depois de contemplar tudo o que estava ao redor, decidia pintar uma única árvore, com todos os pormenores. Na segunda, o caminhante arremessava uma pedra ao lago e, depois, observava que as ondas produziam círculos cada vez mais amplos e, no entanto, cada vez mais fracos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como bom discípulo, ao terminar de ouvir as histórias, perguntei que relação elas tinham com a minha angústia. E ele disse que a árvore era como o tema da tese. A floresta pode conter muitas coisas interessantes. Mas o pintor precisa escolher o aspecto que deseja retratar. E disse também que o tema da tese era como o exato lugar onde a pedra cai no lago. Os reflexos do evento podem se estender para lugares distantes, mas sempre o farão de modo impreciso. É somente nas imediações do fato que as consequências podem ser vistas com clareza. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saí do gabinete do professor Villela um pouco mais aliviado. Descobri que nenhuma produção acadêmica, nem mesmo uma tese de doutorado, pode ser vista como ponto final, resultado acabado, momento mais elevado de uma trajetória. Cada trabalho é apenas a descrição de uma árvore, no meio de uma floresta sem fim. Ou um ponto do tamanho de um seixo, no meio de um lago de grandes proporções.</div>
<div>
<br /></div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-13956499698951184352018-06-14T20:36:00.002-03:002018-06-14T23:36:14.876-03:00A mosca azul da pesquisa<div style="text-align: justify;">
Quando ingressei no curso jurídico, tinha a vaga impressão de que seria advogado. Naquele momento, todas as outras possibilidades me pareciam muito distantes. Foi no terceiro período que surgiu um elemento novo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curioso com a publicação de um edital de pesquisa, fui atrás de informações adicionais. Descobri que a candidatura dependia da elaboração de um projeto e da anuência de um orientador. Com o tema na cabeça, tentei contato com a professora da minha matéria favorita, mas não tive sucesso. Como segunda opção, procurei o professor de uma disciplina em que meu aproveitamento fora apenas razoável. E a conversa não poderia ter sido melhor, pois ele não somente aceitou o convite como também sugeriu que o resultado deveria ser publicado. Lembro-me claramente de suas palavras: “Não podemos escrever e depois deixar na gaveta”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A proposta foi aprovada, a pesquisa foi feita e o relatório final, de fato, foi publicado. Ao longo da realização do trabalho, meu entusiasmo era tão grande que o orientador disse algo mais ou menos assim: “Lamento informar, mas você foi picado pela mosca azul da pesquisa”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não compreendia o alcance da frase, mas ele sabia exatamente o que estava dizendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A antiga lenda oriental, retomada por Machado de Assis no poema <i>A Mosca Azul</i>, conta a história de um homem muito simples, que ficou encantado com a beleza do pequeno inseto e, depois de aprisioná-lo, começou o minucioso trabalho de dissecação. Mas a mosca, coitada, não resistiu e acabou morrendo, “e com isto esvaiu-se-lhe aquela visão fantástica e sutil”. Por esse motivo, “dizem que ensandeceu e que não sabe como perdeu a sua mosca azul”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No meu caso, o contato com a pesquisa, proporcionado pela experiência da iniciação científica, foi decisivo para a descoberta da vocação acadêmica. E uma vez conhecida, eu não fiz mais do que correr atrás de sua realização. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além da atividade de pesquisa, a monitoria também pode funcionar como teste vocacional. Trata-se da forma mais adequada de conhecer o cotidiano do magistério, com todos os seus desafios e alegrias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao longo do meu processo formativo, tive apenas um orientador, na monitoria, na iniciação científica, na monografia de final de curso, no mestrado e no doutorado. Foi o professor César Fiuza, uma das pessoas mais generosas que conheço. Devo muito a ele, inclusive a historinha da mosca azul.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-67945259316393562112018-05-29T15:33:00.001-03:002018-05-29T15:35:08.208-03:00Youtube, Padre Vieira e o desafio de falar em público<div style="text-align: justify;">
O padre Antônio Vieira é comumente apresentado como o maior orador da língua portuguesa. Nascido em Lisboa, em 1608, e falecido na Bahia, em 1697, levou uma vida agitada, repleta de aventuras e polêmicas. Em um de seus sermões mais luminosos, pregado na Capela Real, ofereceu cinco conselhos aos pregadores cristãos, que são úteis, na verdade, para todo tipo de discurso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro tem a ver com a <i>pessoa</i> do pregador e sugere que deve haver coerência entre o que ele fala e o que ele pratica. É garantia de fracasso quando a vida faz apologia contra a doutrina e quando as palavras são refutadas pelas obras. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo refere-se ao <i>estilo</i>, que deve ser “muito fácil e muito natural”. As palavras do pregador devem ser como as estrelas, altas e claras. Tão claras que mesmo os que nada sabem podem entender. E tão altas que mesmo os que muito sabem podem aprender. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O terceiro está relacionado com a <i>matéria</i> e, para o jesuíta português, “o sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria”. O pregador que deseja tratar de muitos assuntos, na verdade, termina não tratando de nenhum. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O quarto é sobre a <i>ciência</i>. O pregador deve falar daquilo que aprendeu e construiu com esforço próprio. Não deve colher onde não semeou. Não deve utilizar material preparado por outras pessoas. Como diz o Vieira, “pregar o alheio é pregar o alheio, e com o alheio nunca se fez coisa boa”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No quinto conselho, que tem a ver com a <i>voz</i> do pregador, admite-se que possa se mostrar tão forte quanto o trovão, de modo que “faça tremer o mundo”, ou tão mansa quanto o orvalho, “que destila brandamente e sem ruído”, tudo conforme a ocasião exigir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os <i>Sermões</i> do Padre Antônio Vieira foram publicados e podem ser obtidos com relativa facilidade. Mas não é possível assisti-los no Youtube. Infelizmente, como próprio religioso reconheceu, os antigos sermões, uma vez colocados no papel, “sem a voz que os animara, ainda ressuscitados são cadáveres”.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-15157828475922814062018-05-23T10:38:00.001-03:002018-05-23T10:41:34.154-03:00O que meus alunos me ensinaram sobre falar em público<div style="text-align: justify;">
Meus alunos foram meus mestres também na tarefa de falar em público. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nos primeiros anos de magistério, com alguma frequência, eles me advertiam sobre uma série de fragilidades. Na maioria das vezes, reclamavam da voz, que era muito baixa. Em outros momentos, davam claras demonstrações de que as aulas não eram atraentes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas foi nos últimos anos que o aprendizado se deu de modo intenso e metódico. A Faculdade de Direito da UFMG, onde trabalho, tem o privilégio de sediar o Senatus, grupo de debates liderado por estudantes. De uns semestres pra cá, nas disciplinas de graduação, tenho reservado uma ou duas aulas para que eles apresentem os princípios mais elementares da oratória. As turmas têm gostado muito. E eu, também.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do que aprendi com meus mestres, pretendo apresentar, inicialmente, as quatro fases que um orador pode atravessar em seu processo de aprimoramento e, em seguida, os cinco itens básicos para uma boa expressão oral.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira fase na vida de quem deseja adquirir a habilidade de falar em público é a dos <i>vícios inconscientes</i>. Nela, o orador erra e não sabe que erra. A segunda é a dos <i>vícios conscientes</i>. Nela, o orador erra e sabe que erra. A terceira é a das <i>virtudes conscientes</i>. Nela, o orador acerta porque se esforça para acertar. E a quarta fase é a das <i>virtudes inconscientes</i>. Nela, o orador acerta mesmo quando não se esforça para acertar. Trata-se, na verdade, do caminho natural da aquisição de qualquer hábito. O objetivo é ter a qualidade internalizada de tal modo que os comportamentos possam expressá-la com a máxima naturalidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A expressão oral pode melhorar de forma significativa se alguns aspectos forem observados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro é a <i>base</i>. Para falar em público, é preciso estar confortável. Antes de cumprimentar os ouvintes, portanto, é necessário dispor o corpo de maneira apropriada. Os pés devem estar bem colocados no chão, nem muito juntos, nem muito distantes, com o peso igualmente distribuído entre eles. É bom evitar atitudes como cruzar as pernas, apoiar as mãos na parede ou ficar balançando de um lado para o outro. Uma boa base transmite segurança e ajuda a comunicar as ideias com clareza.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo é a <i>movimentação</i>. Explorar o espaço disponível pode útil. Mas também pode tirar a atenção dos ouvintes. Por isso, o orador deve se movimentar só quando tiver algum propósito em mente. Caso queira sugerir que pretende contar um segredo, por exemplo, pode movimentar-se para frente. Caso deseje enfatizar que um pensamento é perigoso, pode movimentar-se para trás. E se a ideia for sugerir dúvida ou ansiedade, pode andar de um lado para o outro. Em todos esses exemplos, o movimento reforça a fala. Mas não há nada pior que um palestrante nervoso, que se movimenta freneticamente, exigindo que a platéia se comporte como se estivesse numa partida de ping-pong.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O terceiro é a <i>gesticulação</i>. Durante a fala, todo o corpo participa, mas braços e mãos possuem funções de destaque. O ideal é utilizá-los para tornar as ideias ainda mais claras. Ou ao menos evitar que eles atrapalhem a comunicação. Balançar a cabeça verticalmente reforça a ideia de que algo é positivo. Balançar a cabeça horizontalmente faz o mesmo em relação ao que é negativo. Colocar as mãos no queixo e olhar para cima é o bastante para sugerir dúvida. Estalar os dedos mostra o aparecimento de alguma ideia nova. Por outro lado, cruzar os braços revela desinteresse, deixá-los pendentes junto ao corpo passa a ideia de desânimo e estender as mãos com as palmas voltadas para baixo pode soar excessivamente impositivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O quarto é a <i>voz</i>. No se refere à intensidade, o orador deve estar seguro de que seja suficiente para alcançar a audiência inteira. Se for muito baixa ou muito alta, provocará a desistência de uns e certamente causará incômodo a todos. No que se refere ao tom, o ideal é modulá-lo criativamente ao longo da fala, de modo a não cansar os ouvintes e enfatizar os conteúdos principais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O quinto aspecto é o <i>olhar</i>. A ideia principal é distribuí-lo por toda a audiência, indicando, assim, que todos os destinatários são igualmente importantes. E nunca manter os olhos fixos no chão, no teto, numa certa parte do auditório ou, o que é ainda pior, numa única pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Creio que essas informações ajudam na desafiadora tarefa de comunicar ideias ao público. Mas é evidente que elas não nos desobrigam dos deveres de estudar, observar e meditar. Afinal, ninguém pode oferecer o que não tem.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-6089472472722905742018-05-21T17:04:00.001-03:002018-05-21T17:08:18.509-03:00Vamos falar de dinheiro?<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Na hora de tomar
decisões sobre carreira, poucas pessoas analisam friamente um tema fundamental:
o dinheiro. Para ajudar nesse tipo de exercício, vou trabalhar com uma situação
hipotética.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Renata é
apaixonada por História. Na infância, uma de suas brincadeiras favoritas era lecionar
para os amigos. Ao concluir o ensino médio, pensou que o caminho natural seria
ingressar no curso de História e, depois, seguir carreira no magistério. Porém,
de tanto ouvir que professores ganham pouco e não têm o valor que merecem,
começou a pensar num curso mais charmoso, e em carreiras mais promissoras. Foi
assim que lhe ocorreu a ideia de estudar Direito e, em seguida, fazer concurso
para ingressar no ministério público ou na magistratura.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Caso escolhesse se
tornar professora no ensino médio, trabalhando em dois turnos, Renata não ganharia
mais do que 15 valores por mês ou 180 valores por ano; e caso exercesse a função
de promotora ou juíza não ganharia menos do que 60 valores por mês ou 720
valores por ano.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Mas de que modo ela
poderia olhar para esses números?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Talvez o
primeiro cuidado fosse justamente o de não desconsiderá-los. É preciso encarar
esse tipo de realidade de frente. Algumas carreiras pagam significativamente menos
que outras. E isso não tem nada a ver com a beleza, a complexidade ou a
relevância das tarefas que abrangem. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Em seguida,
parece que o melhor seria refletir no padrão de vida que se deseja experimentar
no futuro. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Vejamos duas situações
bem diferentes. Para descrevê-las, com o objetivo de simplificar, considerarei
que os gastos mais elevados de uma pessoa ficam distribuídos em apenas três
categorias: habitação, transporte e lazer.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Na primeira hipótese,
Renata espera desfrutar de um padrão bastante elevado. No que se refere
à habitação, uma vez que pretende morar em bairro elegante e em apartamento
amplo, deverá
gastar em torno de 200 valores anuais. Em relação ao transporte, já que espera
ter um carro para cada integrante da família, todos de luxo, gastará em torno
de 100 valores anuais. Por fim, quanto ao lazer, uma vez que não abre mão de realizar
duas viagens internacionais por ano e comparecer aos principais espetáculos e
eventos esportivos de seu entorno, terá um gasto anual de aproximadamente 300
valores. No total, os gastos anuais ficariam em torno de 600 valores.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
No segundo cenário,
<st1:personname productid="em que Renata" w:st="on">em que Renata</st1:personname>
se contenta com um padrão mais modesto, seus gastos anuais com habitação
ficariam em torno de 80 valores, já que pretende morar em apartamento pequeno,
localizado em bairro simples. No que se refere ao transporte, uma vez que
espera possuir apenas um automóvel, de categoria popular, e utilizá-lo
juntamente com o sistema público, terá despesas anuais de aproximadamente 50 valores.
No caso do lazer, priorizando passeios regionais e explorando espaços públicos
e gratuitos, terá gastos ao redor de 20 valores por ano. No total, os gastos
anuais ficariam em torno de 150 valores.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O padrão mais
elevado, descrito na primeira hipótese, é claramente incompatível com a
remuneração típica do magistério. Já o padrão mais humilde pode funcionar tanto
para uma professora quanto para uma juíza.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Para algumas
pessoas, um padrão de vida elevado é algo de que não se pode abrir mão. Para
elas, será necessário encontrar uma profissão que permita ganhar bem, ainda que
não permita desenvolver o próprio potencial criativo. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="line-height: 150%; text-align: justify;">Para outras pessoas,
fazer coisas relevantes, e nas quais se acredita, é algo de que não se pode
abrir mão. Para elas, será necessário definir um estilo de vida mais sóbrio,
ainda que isso implique em desistir de certo número de possibilidades. </span>Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-27136325791867373852018-05-19T13:05:00.006-03:002018-05-19T13:09:03.349-03:00Minha lista de 12 livros para ler (ou não)<div style="text-align: justify;">
Uma lista de recomendações literárias é praticamente inútil para leitores maduros, que já descobriram suas preferências de gênero e estilo. E também não é necessária para quem está rodeado de bons leitores e, portanto, pode receber orientação de modo pessoal e afetuoso. É por isso que pensei numa que pudesse servir de guia inicial para os que desejam adquirir ou desenvolver o hábito da leitura, e não sabem com quem discutir o assunto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antes de começar, tenho três esclarecimentos sobre como pretendo realizar a tarefa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiramente, devo dizer que só escolhi livros que tocaram o meu coração, que me fizeram refletir e que ainda me sinto bem só de pensar neles. Não incluí os de poesia, mas fica logo dito que meus poetas favoritos são Fernando Pessoa, Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade e Manuel de Barros. Em relação a eles, não me parece adequado recomendar um livro específico, pois todos podem ser lidos com prazer. As antologias, organizadas pelos próprios poetas ou por especialistas, podem ser úteis para um primeiro contato. E no que se refere a livros publicados em outros idiomas, sugiro cuidado com as traduções, quando houver mais de uma alternativa. Algumas são feitas em linguagem excessivamente complicada. Para os livros de Shakespeare, por exemplo, recomendo as de Millôr Fernandes, pela leveza com que foram feitas. E para o <i>Dom Quixote</i>, a de Eugênio Amado, pelo mesmo motivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em segundo lugar, esclareço que a ordem de apresentação dos textos não tem a ver com o tanto que gosto deles ou com o valor literário que imagino que possuem, mas com o grau de dificuldade que a leitura sugere. Para que ninguém fique desanimado, vou começar com livros pequenos, escritos em linguagem clara, deixando para o final os que costumam exigir maior esforço dos leitores. Pode parecer estranho, mas algumas das primeiras indicações são facilmente classificadas como literatura infantil. É que nesse caso, como em tantos outros, estou de acordo com C.S. Lewis, para quem “uma história para crianças de que só as crianças gostam é uma história ruim”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, uma vez que não sou crítico literário, fui constrangido a adotar uma forma diferente de apresentar os livros. Não falarei de seus autores e das escolas a que pertencem. Nem mesmo tentarei oferecer algo como um resumo das obras. Vou apenas transcrever as palavras inicias de cada uma ou, no caso das de teatro, um trecho de alguma fala mais interessante. Assim, espero que os próprios autores tenham a chance de conquistar seus novos leitores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, pois, ao trabalho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1. <i>Campo Geral</i>, de Guimarães Rosa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-D`Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2. <i>Hamlet</i>, de William Shakespeare:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
HAMLET: Ser ou não ser - eis a questão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Será mais nobre sofrer na alma</div>
<div style="text-align: justify;">
Pedradas e flechadas do destino feroz</div>
<div style="text-align: justify;">
Ou pegar em armas contra o mar de angústias -</div>
<div style="text-align: justify;">
E, combatendo-o, dar-lhe fim?</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
3. <i>O Rei Lear</i>, de William Shakespeare:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
LEAR: Enquanto isso revelaremos nossas intenções mais reservadas. Dêem-me esse mapa aí. Saibam que dividimos em três o nosso reino. É nossa firme decisão diminuir o peso dos anos, livrando-nos de todos os encargos, negócios e tarefas, confiando-os a forças mais jovens, enquanto nós, liberados do fardo, caminharemos mais leves em direção à morte.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
4. <i>O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa</i>, de C.S. Lewis:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Era uma vez duas meninas e dois meninos: Susana, Lúcia, Pedro e Edmundo. Esta história nos conta algo que lhes aconteceu durante a guerra, quando tiveram de sair de Londres, por causa dos ataques aéreos. Foram os quatro levados para a cada de um velho professor, em pleno campo, a quinze quilômetros de distância da estrada de ferro e a mais três quilômetros da agência de correios mais próxima.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
5. <i>O Hobbit</i>, de J.R.R Tolkien:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Numa toca no chão vivia um hobbit. Não uma toca desagradável, suja e úmida, cheia de restos de minhoca e com cheiro de lodo; tampouco um toca seca, vazia e arenosa, sem nada em que sentar ou o que comer: era a toca de um hobbit, e isso quer dizer conforto.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
6. <i>Memórias Póstumas de Brás Cubas</i>, de Machado de Assis:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Algum tempo hesitei se devia abrir essas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
7. <i>Diário de Um Pároco de Aldeia</i>, de George Bernanos: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Minha paróquia é uma paróquia como as outras. Todas as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, naturalmente. Ontem, eu dizia ao vigário de Norenfontes: o bem e o mal devem equilibrar-se numa paróquia, só que o centro de gravidade é colocado em baixo, muito embaixo. Ou, se se prefere, um e outro se sobrepõem, sem misturarem-se, como dois líquidos de densidade diferente. O padre riu em minha cara.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
8. <i>O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha</i>, de Miguel de Cervantes:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Num lugar da Mancha, cujo nome não quero lembrar, vivia, não faz muito tempo, um fidalgo, desses de lança guardada em cabide, adarga antiga, rocim fluxo e galgo corredor.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
9. <i>O Homem que Era Quinta-Feira</i>, de G.K.Chesterton:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
O arrabalde de Saffron Park, rubro e esfarrapado como uma nuvem ao pôr do Sol, ficava a poente de Londres. Todo de tijolo vermelho, construído sem plano, tinha um perfil fantástico. Fora o grande rasgo de um construtor especulativo, besuntado de arte, que atribuía às suas construções, umas vezes, o estilo “isabelino”, outras vezes o do tempo da rainha Ana, parecendo confundir as duas soberanas.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
10. <i>Os Maias</i>, de Eça de Queiroz:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinha da R. de São Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o <i>Ramalhete</i>. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o <i>Ramalhete</i>, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
11. <i>Crime e Castigo</i>, de Dostoiewski:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Numa tarde tórrida de princípio de Julho saiu um jovem do quarto mobilado que ocupava num enorme prédio de cinco andares situado na viela S. e dirigiu-se lentamente, e com ar indeciso, para a ponte K.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
12. <i>Grande Sertão: Veredas</i>, de Guimarães Rosa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
- Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha em minha mocidade. </blockquote>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-38345038032921789082018-05-18T15:02:00.001-03:002018-05-19T21:11:57.782-03:00Dê uma chance ao pobre Machado de Assis<div style="text-align: justify;">
Quem foi obrigado a ler Machado de Assis na escola talvez nunca possa gostar de Machado de Assis. Se for esse o seu caso, deixe-me propor uma experiência. Num dia tranquilo, sem a pressão de compromissos urgentes, tome uma edição de <i>O Alienista</i>, que é uma das histórias mais divertidas que já li. Se não tiver o livro, que é sempre o melhor, utilize a versão disponível no Domínio Público, sítio eletrônico do Governo Federal (<a href="http://www.dominiopublico.gov.br/">www.dominiopublico.gov.br</a>). O livrinho tem menos de 40 páginas e pode ser lido em uma ou duas horas. O ideal é fazê-lo olhando o mar, sentado à sombra, tomando água de coco. Ou na montanha, de frente para a lareira, bebendo uma xícara de café. Mas também costuma funcionar em casa, na biblioteca ou na praça. O importante é ler. Mas faça isso devagar, aprecie, sinta o gosto de cada palavra, tal como se faz com um último pedaço de sobremesa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para uma pequena amostra, veja como o nosso autor começa o texto:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.</i> </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.</i></i></div>
<i>
</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bom, depois de fazer a experiência, não deixe de me dizer o que achou das aventuras e desventuras do Dr. Bacamarte e, principalmente, de ter lido o Machado sem tê-lo pendente sobre o pescoço.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para melhorar a expressão em língua portuguesa, não consigo pensar em nada diferente de ler os clássicos. Certamente que têm seu lugar o estudo rigoroso da gramática, o hábito de escrever com frequência, o auxílio de profissionais especializados e mesmo a colaboração de amigos e colegas. Mas nada substitui a leitura de bons autores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No prólogo de <i>Como e Por Que Ler</i>, Harold Bloom disse o seguinte:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>Lemos, intensamente, por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque, na vida real, não temos condições de “conhecer” tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida. Contudo, o motivo mais marcante, mais autêntico, que nos leva a ler, com seriedade, o cânone tradicional (hoje em dia tão desrespeitado), é a busca de um sofrido prazer.</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para o crítico literário estadunidense, esse “sofrido prazer”, articula-se de certo modo com o Sublime e encerra uma possibilidade de “transcendência secular”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em <i>Cristianismo Puro e Simples</i>, C.S. Lewis dirá que essa fome de beleza, que pode ser despertada pela arte, na verdade, não pode ser satisfeita por ela, mas tem a possibilidade de nos remeter à fonte de toda a Beleza. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, pois, podemos ler para conhecer a nós mesmos, aos outros e ao mundo, para experimentar alguma forma de satisfação interior e, também, para despertar a sede por algo que seja maior que a realidade imanente. Agora, no entanto, sugiro apenas que a leitura, sobretudo dos clássicos, é a melhor forma de promover as habilidades de expressão escrita e oral.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez fosse bom oferecer uma lista de sugestões. Mas isso fica para o próximo texto.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-57834402155730849442018-05-18T09:04:00.000-03:002018-05-18T09:07:19.191-03:00Para além de Marvel e DC<div style="text-align: justify;">
Sou incapaz de distinguir heróis da Marvel de heróis da DC. Periodicamente, sou submetido a sessões de tortura quando meu filho me leva para ver os filmes que eles protagonizam. As histórias são interessantes, mas as batalhas parecem não ter fim. Chego a ficar tonto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De todo modo, reconheço que é bastante atraente a ideia de ter superpoderes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A tentação de conquistar faculdades sobre-humanas aparece elegantemente representada nas várias formas de contar a lenda alemã de Fausto, sobretudo na de Goethe, e também no modo como João Guimarães Rosa compôs o Riobaldo, personagem de <i>Grande Sertão: Veredas</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não é disso que tratarei aqui. Quero fornecer uma lista de habilidades valiosas e, no entanto, plenamente humanas. Para organizá-la, utilizei três critérios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar, pensei nas que fossem <i>acessíveis</i> a um grande número de pessoas. Aprender a patinar no gelo pode ser bom, mas não faz sentido para quem mora num país tropical.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em segundo lugar, escolhi habilidades <i>atuais</i>, com amplo potencial de colaborar na solução de problemas contemporâneos. Aprender a caçar foi essencial para a sobrevivência da espécie humana, mas já não muda a vida de quem mora perto do supermercado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em terceiro, lugar, trabalhei com habilidades <i>abrangentes</i>, que podem ter aplicação em contextos diversos. Aprender a bela língua mirandesa é prova de curiosidade e bom gosto, mas só aproveita a quem se interessa especificamente por uma pequena região do Norte de Portugal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A lista, que passarei a desenvolver nos próximos textos, tem os seguintes itens: expressar-se adequadamente em língua portuguesa, comunicar-se em língua inglesa, falar em público, agir de modo não violento, trabalhar em equipe, resolver conflitos e utilizar novas tecnologias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A composição é provisória e ficaria feliz se pudesse receber sugestões de aprimoramento. O essencial é identificar habilidades que, uma vez obtidas ou quando adequadamente desenvolvidas, permitam que o interessado faça melhor as tarefas atuais ou fique melhor preparado para novas oportunidades.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-10886461665458836322018-05-17T17:28:00.000-03:002018-05-17T17:34:45.026-03:00Você já leu todos esses livros?<div style="text-align: justify;">
Na segunda edição das <i>Poesias Completas</i>, de Machado de Assis, publicada em 1902, no lugar em que o autor tinha escrito “cegara o juízo”, o funcionário da tipografia, involuntariamente, trocou o “e” por um “a”, produzindo um defeito editorial nada agradável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Numa edição inglesa da <i>Bíblia</i>, feita em 1631, o tipógrafo teve a ideia de brincar com o texto do sétimo mandamento, simplesmente suprimindo a palavra “não”. Como tinha de ser, os exemplares que traziam o comando “Cometerás adultério” foram recolhidos e o profissional foi condenado ao pagamento de elevada quantia em dinheiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A impressão de <i>A Arte de Furtar</i>, do Padre Antônio Vieira, feita em 1821, a pedido de Hipólito da Costa, tinha a seguinte dedicatória: “Oferecida ao Ilmo. Sr. S.F.R. Targine, ex-tesoureiro-mor do erário do Rio de Janeiro”. A associação entre o título do livro e o cargo do homenageado já seria suficiente para revelar as verdadeiras intenções do jornalista. Para não deixar dúvidas, no entanto, ele acrescentou a seguinte frase: “Qual pirata iníquo dos trabalhos alheios feito rico”.</div>
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<br /></div>
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<i>Flor de Sangue</i>, romance pouco expressivo de Valentim Moraes, publicado em 1897, trazia uma errata absolutamente singular, que dizia: “à página 285, quarta linha, em vez de “estourar os miolos” leia-se “cortar o pescoço”.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essas e outras historinhas estão em <i>O Bibliófilo Aprendiz</i>, delicioso guia de Rubens Borba de Moraes, especialmente útil para quem deseja colecionar livros.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Das orientações do autor, algumas podem ser indicadas aqui.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiramente, o interessado escolheria um gênero de livro a que se dedicar. Quem compra tudo o que vê pode construir “uma vasta livraria”, mas nunca terá uma verdadeira coleção. Os dois caminhos mais naturais são a escolha de um assunto ou a escolha de um autor. Assim, pensando nos em próprios meus interesses, seria possível colecionar livros de Direito Civil, publicados no Brasil Imperial, ou livros de Clovis Bevilaqua, importante jurista brasileiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em segundo lugar, conceberia um plano sobre o tipo de coleção que se deseja, sendo necessário estudar o assunto com o máximo cuidado.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma terceira sugestão seria restringir a coleção aos meios que possui. A falta de espaço, por exemplo, pode ser um grave problema. E a de dinheiro, também.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De todo modo, o mais importante é lembrar que os estudiosos podem e devem organizar sua própria biblioteca, compatível, é claro, com os recursos disponíveis.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E à medida que o trabalho for avançando, o bibliófilo ouvirá, cada vez com mais frequência, a seguinte pergunta: Você já leu todos esses livros?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se não puder respondê-la com brandura e educação, explicando que ninguém lê todos os livros de sua biblioteca, é porque ou não leu nada de valioso ou leu mas não chegou a aprender. </div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-86784679054051904452018-05-15T14:57:00.000-03:002018-05-15T15:07:07.773-03:00Uma historinha para quem não gosta de ler<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Sei de pessoas
que aprendem melhor ouvindo do que lendo. Frequentam aulas, assistem vídeos e escutam
palestras. E são bem-sucedidas nas mais diversas atividades.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Também conheço pessoas
que não se lembram de livros nos momentos de descanso e lazer. Gostam de aparelhos
eletrônicos, produtores de imagens, sons ou das duas coisas ao mesmo tempo, que
podem até exibir textos, mas sempre de modo fragmentado e secundário. E essas
pessoas não parecem especialmente tristes. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Não acho que o
hábito de ler seja essencial para todo tipo de aprendizado, muito embora o seja
para alguns. E também não acredito que seja fundamental para o repouso ou a
felicidade. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Então, o que
dizer para quem não sente falta dos livros?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Talvez seja
melhor simplesmente não dizer nada. Mas se você leu até aqui, pode ser que
tenha paciência para uma pequena história, que me foi contada pelo pai de um
amigo de infância. É uma historinha simples, despretensiosa, dessas que os sertanejos declamam
ao redor da fogueira, em noites de lua cheia.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="line-height: 150%; text-align: justify;">Um homem de
condição humilde, presenteado com um passeio de navio, teve o cuidado de levar
consigo boa provisão de água e farinha. No momento das refeições, tão logo
escutava a convocação, recolhia-se a um lugar reservado, para somente então comer
e beber, na máxima simplicidade. Enquanto isso, nos salões bem decorados, os outros
desfrutavam do bom e do melhor. Ele, no entanto, consolava-se ao pensar na
fortuna que tudo aquilo devia custar. Consciente de sua situação econômica, nem
lhe ocorreu perguntar o preço de uma omelete ou de uma limonada. Foi só depois
de concluir a viagem, quando recebia as malas no porto, é que descobriu que a
alimentação estava incluída no valor da passagem.</span>Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-59517442068845006882018-05-15T12:56:00.001-03:002018-05-15T13:01:54.155-03:00Livros e livros<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Vicente Mamede
foi professor na Faculdade de Direito de São Paulo, exatamente na virada
do Império para a República. Devotava tamanha admiração a um de seus mestres, o Antonio Joaquim Ribas, que tinha o hábito de dizer o seguinte:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Quando eu quero
falar no Conselheiro Lafayette, eu digo Conselheiro Lafayette, porque quando eu
disser “o Conselheiro”, é o Conselheiro Ribas.</i></blockquote>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
No meu caso,
quando pronuncio a palavra “livro”, deve ficar claro que me refiro ao objeto de
papel, com letras impressas, em formato retangular. Para indicar textos
publicados na internet, lidos por meio de dispositivos eletrônicos, parece-me
conveniente utilizar outro nome. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Um livro é algo
que se pode contemplar, tocar, manusear, folhear, medir o tamanho, experimentar
o peso, sentir o cheiro, abraçar e, eventualmente, beijar. É um objeto com que
se pode conversar e que serve de companhia tanto em longas viagens quanto
em rápidas visitas ao médico. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Nas páginas de
um livro, o leitor pode fazer pequenas anotações, como se falasse a um amigo, desde que a lápis<span style="line-height: 150%;">, e com a melhor
caligrafia de que for capaz.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Mas há certos
fatores que podem dificultar a utilização dos livros. O primeiro é naturalmente
o econômico. Em virtude de restrições orçamentárias, o leitor pode ser obrigado
a se contentar com cópias virtuais. A raridade de uma obra, o tempo previsto
para a entrega ou o espaço necessário para guardar os volumes, entre outras
coisas, também justificam soluções improvisadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Com algum
esforço, posso até imaginar que alguém prefira a tela fria de um aparelho
eletrônico ao contato deliciosamente ameno com o papel. Acho pouco
provável, no entanto.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4960922036741323453.post-80246896518586269942018-05-14T17:50:00.002-03:002018-05-14T17:50:45.554-03:00O cão vivo e o leão morto<div style="text-align: justify;">
Uma das cenas mais geniais de Chaplin está no filme <i>O Circo</i>. Ao fugir de um jumento que não lhe era simpático, o vagabundo acaba entrando na jaula do leão que, por sorte, curtia a soneca da tarde. Sua primeira reação é de pânico, principalmente ao perceber que não conseguia abrir a porta. Mas tudo muda quando o bicho abre os olhos, cheira o invasor e, depois, volta a se deitar preguiçosamente. Carlitos, percebendo que era observado pela filha do dono do circo, por quem nutria grande admiração, começa a exibir um comportamento corajoso. Certo de que o leão era inofensivo e não estava faminto, mantém a pose de serenidade e não abandona o local nem mesmo quando a porta é aberta. No entanto, basta o felino abrir a boca para que ele saia correndo em completo desespero. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entre outras coisas, a cena mostra que um leão é sempre um leão. Pode ser domesticado, pode parecer sonolento, pode estar bem alimentado, mas ainda é um leão. E um leão deve ser temido, em qualquer lugar, em todo o tempo, a menos que esteja morto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É mais ou menos esse o assunto de um antigo provérbio judaico:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>Para os vivos ainda há esperança, pois mais vale um cão vivo que um leão morto.</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um leão é uma grande fera, mas só enquanto está vivo. Um cão pode não ser lá muita coisa, mas, enquanto vive, é alguma coisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você pode até reclamar do estilo da comparação, que é um tanto rude, mas não deveria perder a oportunidade de celebrar a esperança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez não haja mais tempo para escrever um tratado sobre a natureza humana, mas dá para escrever uma carta de amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez não haja mais tempo para levantar um império empresarial, mas dá para construir uma casa na praia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez não haja mais tempo para fazer doutorado em teologia, mas dá para ler pausadamente o livro de <i>Salmos</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os erros cometidos até o dia de hoje limitam, mas não bloqueiam o dia de amanhã. As possibilidades podem diminuir com o passar do tempo, mas não até o ponto da completa extinção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, quem deseja aprender sobre planejamento deve ter sempre presente que, enquanto há vida, há esperança. Ou, para usar a figura bíblica, deve saber que mais vale um cão vivo que um leão morto.</div>
Giordano Bruno Soares Robertohttp://www.blogger.com/profile/01008649207317676643noreply@blogger.com0