quarta-feira, 23 de maio de 2018

O que meus alunos me ensinaram sobre falar em público

Meus alunos foram meus mestres também na tarefa de falar em público. 

Nos primeiros anos de magistério, com alguma frequência, eles me advertiam sobre uma série de fragilidades. Na maioria das vezes, reclamavam da voz, que era muito baixa. Em outros momentos, davam claras demonstrações de que as aulas não eram atraentes.  

Mas foi nos últimos anos que o aprendizado se deu de modo intenso e metódico. A Faculdade de Direito da UFMG, onde trabalho, tem o privilégio de sediar o Senatus, grupo de debates liderado por estudantes. De uns semestres pra cá, nas disciplinas de graduação, tenho reservado uma ou duas aulas para que eles apresentem os princípios mais elementares da oratória. As turmas têm gostado muito. E eu, também.

Do que aprendi com meus mestres, pretendo apresentar, inicialmente, as quatro fases que um orador pode atravessar em seu processo de aprimoramento e, em seguida, os cinco itens básicos para uma boa expressão oral.

A primeira fase na vida de quem deseja adquirir a habilidade de falar em público é a dos vícios inconscientes. Nela, o orador erra e não sabe que erra. A segunda é a dos vícios conscientes. Nela, o orador erra e sabe que erra. A terceira é a das virtudes conscientes. Nela, o orador acerta porque se esforça para acertar. E a quarta fase é a das virtudes inconscientes. Nela, o orador acerta mesmo quando não se esforça para acertar. Trata-se, na verdade, do caminho natural da aquisição de qualquer hábito. O objetivo é ter a qualidade internalizada de tal modo que os comportamentos possam expressá-la com a máxima naturalidade.

A expressão oral pode melhorar de forma significativa se alguns aspectos forem observados.

O primeiro é a base. Para falar em público, é preciso estar confortável. Antes de cumprimentar os ouvintes, portanto, é necessário dispor o corpo de maneira apropriada. Os pés devem estar bem colocados no chão, nem muito juntos, nem muito distantes, com o peso igualmente distribuído entre eles. É bom evitar atitudes como cruzar as pernas, apoiar as mãos na parede ou ficar balançando de um lado para o outro. Uma boa base transmite segurança e ajuda a comunicar as ideias com clareza.

O segundo é a movimentação. Explorar o espaço disponível pode útil. Mas também pode tirar a atenção dos ouvintes. Por isso, o orador deve se movimentar só quando tiver algum propósito em mente. Caso queira sugerir que pretende contar um segredo, por exemplo, pode movimentar-se para frente. Caso deseje enfatizar que um pensamento é perigoso, pode movimentar-se para trás. E se a ideia for sugerir dúvida ou ansiedade, pode andar de um lado para o outro. Em todos esses exemplos, o movimento reforça a fala. Mas não há nada pior que um palestrante nervoso, que se movimenta freneticamente, exigindo que a platéia se comporte como se estivesse numa partida de ping-pong.

O terceiro é a gesticulação. Durante a fala, todo o corpo participa, mas braços e mãos possuem funções de destaque. O ideal é utilizá-los para tornar as ideias ainda mais claras. Ou ao menos evitar que eles atrapalhem a comunicação. Balançar a cabeça verticalmente reforça a ideia de que algo é positivo. Balançar a cabeça horizontalmente faz o mesmo em relação ao que é negativo. Colocar as mãos no queixo e olhar para cima é o bastante para sugerir dúvida. Estalar os dedos mostra o aparecimento de alguma ideia nova. Por outro lado, cruzar os braços revela desinteresse, deixá-los pendentes junto ao corpo passa a ideia de desânimo e estender as mãos com as palmas voltadas para baixo pode soar excessivamente impositivo.

O quarto é a voz. No se refere à intensidade, o orador deve estar seguro de que seja suficiente para alcançar a audiência inteira. Se for muito baixa ou muito alta, provocará a desistência de uns e certamente causará incômodo a todos. No que se refere ao tom, o ideal é modulá-lo criativamente ao longo da fala, de modo a não cansar os ouvintes e enfatizar os conteúdos principais.

O quinto aspecto é o olhar. A ideia principal é distribuí-lo por toda a audiência, indicando, assim, que todos os destinatários são igualmente importantes. E nunca manter os olhos fixos no chão, no teto, numa certa parte do auditório ou, o que é ainda pior, numa única pessoa.

Creio que essas informações ajudam na desafiadora tarefa de comunicar ideias ao público. Mas é evidente que elas não nos desobrigam dos deveres de estudar, observar e meditar. Afinal, ninguém pode oferecer o que não tem.

Um comentário:

Alan Marcos disse...

Ótimo assunto, essas dicas fazem toda a diferença quando se trata em falar em público, utilizo muito essas técnicas. Parabéns pelo post.