Para Juan-Ramón Capella, a aprendizagem que comumente se realiza no ensino médio pode ser denominada de aprendizagem de manutenção. Feita de modo gradual e baseada na repetição, essa abordagem visa "transmitir, sem perda, alguns conhecimentos que permitem enfrentar situações conhecidas mediante procedimentos também conhecidos" (CAPELLA, A Aprendizagem da Aprendizagem, 2011, p. 37).
Em contraposição a esse modelo, o autor apresenta a aprendizagem inovadora que, segundo ele, "consiste em aprender a enfrentar problemas e situações distintas dos conhecidos pelos professores, e a achar soluções inéditas; e, secundariamente, consiste em solucionar problemas conhecidos com soluções melhores que aquelas dadas" (CAPELLA, p. 39).
De que tipo é a aprendizagem praticada nas universidades brasileiras?
Ou, pra ser mais específico, de que tipo é a aprendizagem que você, estudante universitário, procura realizar, ou que você, professor universitário, procura estimular seus alunos a desenvolver?
Se a transição do ensino médio ao ensino superior for natural, só há duas explicações possíveis.
A primeira é a de que, no ensino médio, os estudantes já praticam aprendizagem inovadora.
A segunda é a de que, no ensino superior, os estudantes ainda praticam aprendizagem de manutenção.
Essa dúvida me faz lembrar de uma experiência que tive no primeiro semestre do curso jurídico. A querida professora de Introdução ao Estudo do Direito, Taisa Maria Macena de Lima, recomendou-nos a leitura de uns trechos de Instituições de Direito Civil, de Caio Mário da Silva Pereira. Preso pela beleza do texto, eu imaginava que cada palavra ali escrita havia sido ditada por uma espécie de oráculo. Jamais me passava pela cabeça a ideia de duvidar de alguma conclusão do autor. Somente mais tarde é que aprendi a fazer perguntas aos textos que lia.
Concluo, portanto, que iniciei meus estudos universitários exatamente do mesmo modo que havia terminado o ensino médio.
Não consigo me lembrar de que forma ou com que velocidade fui migrando da aprendizagem de manutenção para a aprendizagem inovadora.
Esse tipo de mudança não acontece de uma hora pra outra e, além disso, jamais se completa.
Em toda a minha trajétória escolar, aliás, só me lembro de ter havido uma transição abrupta. Foi quando passamos da quarta pra quinta série. Eu e meus amigos, lá na bela e pacata cidade de Mantena, deixamos a Escola Estadual Antônio Carlos e seguimos para a Escola Estadual Fernandes Filho. Naquele novo ambiente, desde o primeiro dia de aula, tivemos que abandonar um hábito muito arraigado. Não podíamos chamar as nossas professoras de tia como havíamos feito até ali. Na quarta série, falávamos tranquilamente tia Sônia. Na quinta série, precisávamos dizer professora Regina, ou professora Áurea, ou professora Glorinha. Pobre de quem se esquecia dessa regra.
Todas as outras mudanças na minha vida de estudante foram lentas. Algumas ainda estão em curso.
terça-feira, 27 de março de 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
UMA CLASSIFICAÇÃO DOS PROFESSORES
Há alguns dias, um aluno me falou da seguinte classificação dos professores, baseada nos diferentes alvos de suas relações de afeto:
O professor da educação infantil ama os seus alunos.
O professor do ensino médio ama a sua matéria.
O professor universitário ama a si próprio.
Aí eu me lembrei de um colega de magistério, já aposentado, que constumava dizer: "lecionar é bom demais, os alunos é que atrapalham um pouco".
O professor da educação infantil ama os seus alunos.
O professor do ensino médio ama a sua matéria.
O professor universitário ama a si próprio.
Aí eu me lembrei de um colega de magistério, já aposentado, que constumava dizer: "lecionar é bom demais, os alunos é que atrapalham um pouco".
sábado, 24 de março de 2012
A CLASSIFICAÇÃO DAS AULAS
Tenho lido um livro bem interessante com meus alunos do segundo período. Trata-se de Aprendizagem da Aprendizagem, de Juan-Ramón Capella, traduzido pelas professoras Miracy Gustin e Maria Tereza Fonseca Dias.
Para o autor espanhol, as aulas podem ser classificadas do seguinte modo: aulas que servem para aprender, aulas que servem para ser aprovado, e aulas que não servem nem para aprender nem para ser aprovado.
As aulas do último tipo, em sua opinião, deveriam ser cuidadosamente evitadas.
Felizmente, meus alunos não levaram a ideia a sério.
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