Hoje, apliquei prova nas quatro turmas de Teoria Geral do Direito Privado.
Quando dava informações sobre a realização da prova, quando pedia para que os alunos guardassem livros, códigos e aparelhos eletrônicos, quando ficava olhando para a turma de cima pra baixo, quando pensava no modo como tiraria pontos dos alunos que não dessem boas respostas, eu me sentia feito um policial que revista torcedores na porta do estádio ou que pede documentos ao motorista numa fiscalização de trânsito.
Enquanto os alunos trabalhavam, eu alternava a leitura de dois livrinhos.
O primeiro continha a famosa Aula, de Roland Barthes, proferida em 1977. Nele, minha atenção se voltou para o seguinte trecho:
"O que eu gostaria de renovar, cada um dos anos em que me será dado aqui ensinar, é a maneira de apresentar a aula ou o seminário, em suma, de 'manter' um discurso sem o impor: esta será a aposta metódica, a questio, o ponto a ser debatido. Pois o que pode ser opressivo num ensino não é finalmente o saber ou a cultura que ele veicula, são as formas discursivas através das quais ele é proposto" (p. 41).
O segundo livro era Ensino e Saber Jurídico, de Luiz Alberto Warat e Rosa Maria Cardoso da Cunha, publicado em 1977. Nele, fui atraído pelas seguintes palavras:
"Toda transmissão autoritária do conhecimento gera como resposta a passiva memorização dos alunos, a construção, por parte dos mesmos, de um conjunto de imagens pré-fabricadas, que servem para lograr um título universitário mas que não habilitam a decisões maduras e autônomas" (p. 61).
Depois de aplicar a última prova, trouxe os pacotes para casa. Amanhã, ao iniciar a correção, tentarei verificar se os meus alunos memorizam tudo que ensinei.
Referências bibliográficas
BARTHES, Roland. Aula: Aula Inaugural da Cadeira de Semiologia Literária do Colégio de França, Pronunciada Dia 7 de Janeiro de 1977. 15. ed. São Paulo: Cultrix, 2007.
WARAT, Luiz Alberto; CUNHA, Rosa Maria Cardoso da. Ensino e Saber Jurídico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1977.