sábado, 3 de dezembro de 2016

No fundo, no fundo, amo vocês


Nos últimos dias, escrevi textos bem duros. Um protesto contra a preferência pelas aulas expositivas. Um desabafo a respeito do sistema tradicional de avaliação. E sobrou até para os monitores e a monitoria. 

Mas na base de tudo isso, há umas ideias que preciso indicar.

Eu acredito na possibilidade de construção autônoma do conhecimento. Na verdade, se o estudante não participar ativamente do processo, haverá tudo, menos aprendizado. O que pode ficar para a vida é somente o que foi ativamente assumido e criativamente reelaborado. Tratar adultos como se fossem crianças não é uma forma de respeito ou carinho. Eu me recuso a utilizar as prerrogativas do cargo para obrigar os estudantes a fazer isso ou aquilo. Prefiro admitir que não façam e, depois, experimentem as consequências de suas escolhas.

Eu creio no talento dos estudantes universitários. O que me entristece, na verdade, é ver tanto potencial desperdiçado. Se imaginasse que fossem incapazes, poderia admitir a ideia de tomá-los pelas mãos e conduzi-los. Mas creio sinceramente no brilho e na inteligência dos meus alunos. Sinto apenas que eles acabam traçando, em muitos casos, objetivos excessivamente limitados.

Eu penso que o papel do professor universitário não é ensinar. No máximo, cabe a ele construir situações de aprendizagem, que podem ser entendidas como obstáculos, cuidadosamente planejados, para que os estudantes, no esforço de superá-los, possam construir o próprio aprendizado. Em outras palavras, os professores não fazem nada além de convites, que os estudantes podem livremente aceitar ou recusar.

Então, meus caros alunos, ao contrário do que pode parecer, no fundo, no fundo, amo vocês.