Às vezes, perco muito tempo pensando no papel das escolas e dos professores. Para que eles servem, afinal?
Penso, por exemplo, na função que as faculdades de direito devem desempenhar. E sei que a resposta mais óbvia é formar profissionais para as várias carreiras jurídicas.
Mas o que isso significa, exatamente?
Que devemos fazer se as profissões jurídicas estão profundamente viciadas? Que devemos fazer se a própria sociedade a que servem ou a que deveriam servir também não dá sinais de grande vitalidade?
Estou seguro de que entregar os profissionais de que o mercado precisa é o maior desserviço que a universidade pode oferecer.
É obrigação da universidade pública frustrar falsas expectativas de seus alunos e de seus futuros empregadores.
Se for possível pensar no mundo como uma grande engrenagem, na escola como uma fábrica e nos alunos como peças que fazem a engrenagem girar, é nosso dever produzir peças disfuncionais, fora do padrão, com desenhos diferentes do modelo proposto.
Se a engrenagem produz efeitos ruins, as peças que nós ajudamos a fabricar não devem fazê-la girar. Ao contrário, devem contribuir para atrapalhar o seu funcionamento.
No fim de tudo, é até possível que a engrenagem continue girando. Eu é que não quero dar a mínima contribuição para que isso aconteça.