segunda-feira, 26 de março de 2012

UMA CLASSIFICAÇÃO DOS PROFESSORES

Há alguns dias, um aluno me falou da seguinte classificação dos professores, baseada nos diferentes alvos de suas relações de afeto:

O professor da educação infantil ama os seus alunos.

O professor do ensino médio ama a sua matéria.

O professor universitário ama a si próprio.

Aí eu me lembrei de um colega de magistério, já aposentado, que constumava dizer: "lecionar é bom demais, os alunos é que atrapalham um pouco".

sábado, 24 de março de 2012

A CLASSIFICAÇÃO DAS AULAS



Tenho lido um livro bem interessante com meus alunos do segundo período. Trata-se de Aprendizagem da Aprendizagem, de Juan-Ramón Capella, traduzido pelas professoras Miracy Gustin e Maria Tereza Fonseca Dias.

Para o autor espanhol, as aulas podem ser classificadas do seguinte modo: aulas que servem para aprender, aulas que servem para ser aprovado, e aulas que não servem nem para aprender nem para ser aprovado.

As aulas do último tipo, em sua opinião, deveriam ser cuidadosamente evitadas.

Felizmente, meus alunos não levaram a ideia a sério.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O PROFESSOR E O SILÊNCIO

Na tradição judaica, a sabedoria está mais próxima do homem que consegue guardar silêncio do que daquele que consegue usar bem a palavra.

A ideia pode ser encontrada nos seguintes provérbios de Salomão:

Na multidão de palavras não falta transgressão.

Aquele que possui o entendimento refreia as suas palavras.

Até o tolo, quando calado, é tido por sábio.

O conceito também não é estranho à tradição cristã. Tiago, líder da igreja no primeiro século, ensinou que os cristãos deveriam ser prontos para ouvir e tardios para falar.

Em nossos dias, contudo, muito embora inseridos numa tradição judaico-cristã, nada poderia ser mais distante da noção de sabedoria do que o silêncio.

Qual o lugar do silêncio num mundo em que tudo é movimento e comunicação?

Qual o lugar do silêncio num mundo em que todos podem falar, cantar ou escrever, a respeito de absolutamente tudo ou de simplesmente nada, para uma extraordinária multidão de destinatários?

E ainda que alguém consiga descobrir o valor do silêncio e tenha êxito em praticá-lo em seu dia-a-dia, como essa concepção poderia se compatibilizar com o exercício do magistério?

É possível imaginar um professor que revele sua sabedoria por meio do silêncio?

Acho que não.

O professor precisa professar. O professor precisa ensinar.

E o professor ensina, basicamente, falando.

Há professores que nada perguntam aos seus alunos, mas passam todo o tempo dando respostas.

Há professores que até perguntam, mas ou não ouvem a resposta ou não têm paciência para esperá-la.

Uns e outros são do tipo que monopolizam o direito de fala. Esses são daqueles que conseguem dar a matéria toda. E é bem possível que se considerem excelentes professores.

Mas eu sonho com uma escola em que os professores sejam especialistas em perguntar, ou ainda melhor, em escutar as perguntas e as respostas de seus alunos.

E, quanto a mim, sinto a urgente necessidade de aprender a falar menos, inclusive nas tarefas ligadas ao magistério.

Hoje, um acontecimento nada extraordinário me faz pensar no assunto.

No final da tarde, fui ao Hospital e, enquanto esperava para ser atendido, escutei uma senhora reclamar da fila de espera. E ela reclamava para si e para todos os outros, inclusive para aqueles que, assim como eu, nem estavam incomodados com a demora. E eu não estava incomodado porque nunca vou a repartições públicas, bancos ou hospitais sem levar um bom livro. E, quando estou com um livro, nenhuma demora me incomoda. Mas a mulher não parava de reclamar da fila, do clima, e de tudo o mais.

Depois de algum tempo, tendo puxado assunto com quase todos os outros pacientes, a dona me perguntou: - Você é médico, ou dentista?

Tirando os olhos do livro, e depois de confirmar que ela só podia estar falando comigo, respondi, com um sorriso, mas sem maiores explicações: - Não.

Ela, que já havia se levantado e estava pronta para me fazer várias outras perguntas, provavelmente a respeito dos exames que tinha nas mãos, recuou, acomodou-se novamente na cadeira, e disse: - Eu pensei que você era médico, ou alguma coisa do tipo, por causa desse livro que você está lendo.

Eu apenas sorri e confirmei: - Não, eu não sou não.

Depois disso, não consegui parar de pensar no valor do silêncio.

O médico disse que eu estava com sinusite.

Passei na farmácia e comprei os remédios.

Mas eu não parava de pensar na mulher e na sua multidão de palavras.

Depois, retomei a leitura de Ortodoxia, de Chesterton, o livro que eu havia levado ao Hospital.

domingo, 18 de setembro de 2011

A REMUNERAÇÃO DOS PROFESSORES


Recentemente, participei de um debate sobre qualidade do ensino jurídico. Depois de ouvir observações sobre falta de preparo metodológico dos professores, falta de interesse dos alunos, tradicionalismo dos métodos didáticos e tantas outras possíveis causas para a chamada crise do ensino jurídico, chegou a minha vez de falar. Resumi a minha participação na indicação de um silogismo.

Premissa maior: Não é possível levar a educação a sério sem remunerar bem os professores.

Premissa menor: O Brasil remunera mal os professores.

Conclusão: O Brasil não leva a educação a sério.
Claro que isso é muito radical. Claro que isso é uma simplificação absurda. Claro que isso desconsidera inúmeros outros fatores. Eu sei de tudo isso. Mas é que me parece o cúmulo da hipocrisia discutir qualidade do ensino - infantil, fundamental ou superior - pagando uma miséria ao professor.

Na última edição da Revista Exame CEO, inteiramente dedicada à educação, Andreas Schileicher, diretor da OCDE, instituição responsável pela organização do Pisa, afirma que "a qualidade de um sistema educacional não pode exceder a de seus professores e diretores"(Exame CEO, Agosto de 2011, p. 33).

No mesmo texto, o autor indica as melhores práticas adotadas pelos países que estão na vanguarda da educação. A primeira é simples: destacar a educação como prioridade. Para isso, no entanto, os discursos são insuficientes. Na opinião do autor, para descobrir nossa situação em relação ao tema, deveríamos fazer as seguintes perguntas:

"Como o Brasil remunera seus professores? Como são esses salários na comparação com o de outros trabalhadores altamente especializados? Você gostaria que seu filho se tornasse professor?" (Exame CEO, Agosto de 2011, p. 33).

Enquanto não pudermos responder bem a essas perguntas, é melhor não ficar discutindo qualidade da educação. Ou, se alguém quiser discutir o assunto, mas sem considerar esse ponto, não me convide, por favor.