terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
O QUE VOCÊ VÊ DA JANELA DA SALA DE AULA?
A Faculdade de Direito da UFMG tem um prédio utilizado quase que exclusivamente para as aulas da graduação. À exceção dos quatro primeiros andares, todos os outros, do 5º ao 14º são reservados para essa finalidade. De uns tempos pra cá, o modo de distribuição das turmas foi alterado. Antes, cada turma ocupava um andar, do início ao fim do curso. Agora, os calouros começam no 14º andar e vão descendo um andar por semestre. A mudança aconteceu para facilitar a vida dos mais veteranos, permitindo-lhes chegar ao local das aulas sem passar pelo suplício de ter que utilizar um dos três elevadores que servem – ou deveriam servir – ao prédio. Nunca imaginei que esse fato escondesse algum segredo. Mas um aluno, o Celso Bittar Junior, me fez pensar no assunto. Segundo ele, há um forte simbolismo no fato de começar o curso de Direito no 14º andar e terminá-lo dez andares a baixo. É que os estudantes, à medida que avançam nos estudos, semestre após semestre, perdem o amplo horizonte que possuíam, abandonam os sonhos e as aspirações mais idealistas, e se voltam progressivamente para questões mais concretas, como obter um bom estágio, ter boas notas, e estar preparado para passar num concurso público, isso para não falar dos maus hábitos que acumulam e da arrogância que, em geral, passa a acompanhá-los.
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10 comentários:
A minha leitura sempre foi um pouco diferente: os veteranos simplesmente ficam mais perto da saída ...ou do prédio da Pós(!)... Aí vai depender de cada um ...
Hulia,
Sim, tudo bem. Mas é só isso? O tempo não produz nenhum efeito na estrutura interna dos estudantes?
Um abraço,
Giordano.
Se o tempo na faculdade altera a estrutura interna dos estudantes? Sim, como no modelo de Kubler-Ross: 1º ano: negação ("não!, o problema não é o meu curso, mas as matérias na FAFICH..."); 2º ano: cólera ("Por quê eu escolhi direito?! Não é justo!"); 3º ano: negociação/barganha mágica ("Vou fazer estágio, vou ser monitor, vou fazer grupo de estudo, e o curso irá melhorar..."); 4º ano: Depressão: ("Só vou empurrar com a barriga até o curso terminar!"); 5º ano: aceitação ("Ah, quer saber? Quero é pegar meu diploma e ganhar dinheiro...")... São estas as etapas pelas quais passa um estudante de direito, até se formar e superar o luto pela perda da esperança.
O ensino juríco anda mal das pernas. Quase que unicamente voltado para preparação de concurseiros ou preparatório para prova da OAB. As universidades não estão mais formando cidadãos, formam profissionais e ponto final, esquecendo da formação do cidadão.
giordano e suas provocações rsr tão necessárias para que ao menos prestemos atençao no que vai nos acontecendo, em que vamos nos transformando... enquanto há tempo! impossível não pensar nas vetustas máquinas de moer sonhos.
rsrs...
Interessante isso... Me lembrei do clipe da música "Another Brick in the wall" do Pink Floid, na parte onde as criancinhas estão na escola e a escola funciona como uma máquina de moer carne.
Esse simbolismo me entristeceu... A Escola deveria alimentar e lapidar os sonhos. Gosto da concepção de Escola do Paulo Freire.
Quando li a postagem, a primeira coisa que me veio a cabeça foram as aulas de Direito Penal, sobre os sistemas prisionais, modelo da Filadélfia, o modelo de Auburn... rsrs
Até mesmo nas artes marciais (luta, violência... que ironia... rsrs...) a simbologia é contrária. Uma das faixas usadas pelos noviços é amarela, simbolizando a terra. A Verde, que é intermediária, (lembrando uma planta) significa crescimento. Um dos graus avançados é a faixa azul, significando o céu, o alcance da maturidade que possibilita alças vôos.
Gostaria de pensar nessa atual partição da Faculdade de Direito, os veteranos embaixo e os bichos em cima como uma pirâmide. A base sólida, alicerçando o ápice, os neófitos. Uma espécie de solidarismo militante... (utopia minha)
O simbolismo mencionado é sombrio. Embora muito mais afeito à realidade... E pra piorar, identifico a decida e a perda de sonhos não somente com a ocupação com questões mais concretas, mas com outra situação bastante frequente... Deixar de pensar o Direito como instrumento de transformação da Sociedade e se fixar no Controle Social. "Entender" que o Direito da prática cotidiana não tem nada haver com o ensinado na faculdade. Aceitar o "Establishment" e mais especificamente o "Establishment Jurídico"
Celso Bitar Junior - 10 período/Noite
Após ouvir atentamente a um comentário por um lado pessimista, mas por outro certamente necessário, sobre a defasada instituição em que estudamos, durante uma aula do prof. giordano, senti liberdade de comentar com ele a respeito de um texto que eu havia escrito, que guardava, de certa maneira, relação com o tema.
Infelizmente, perdi esse texto, não sei como.
Infelizmente porque era interessantíssima a maneira como eu tratava a "concretização" das idéias daqueles que estão na iminência de formar, relacionando-as com a amargura que se sente ao olhar do quinto andar e enxergar tão somente prédios e mais prédios, todos muito bem definidos, cinzas, de certa maneira, tristes...
muito diferente da ampla visão que se tem ao olhar do décimo quarto andar, mais prazerosa, "pura", bela e interessante, que eu relacionei com o pensamento idealizado do calouro ao ingressar na faculdade de Direito da UFMG, ou como muitos dizem, entrar para a elite intelectual do país...
Bom, foi uma síntese rápida que fiz da biblioteca da faculdade após saber através de um colega que o professor havia mencionado nossa conversa aqui;
Obrigado professor, pois se é notória a situação deprimente em que a faculdade se encontra, certamente encontramos no sr. uma luz no fim do túnel.
Mesmo que existam pouquíssimos professores que nos inspirem e nos encham de esperança de ver um dia esta nossa casa (não deixa de ser nossa casa devido às anomalias) formando verdadeiros intelectuais ao invés de técnicos, sabemos que eles estão presentes e, sem sombra de dúvida, o sr. é um deles.
Celso
Muito interessante essa perspectiva, e nada mais sublime que uma indagação para nos forçar a refletir.
Parabéns.
Deivide Júlio
vale a pena ler o texto "Descobrindo um novo sonho" do Voz desse mês. bom p nos lembrar dos sonhos calouros e fazer refletir sobre o que fizemos deles...
Philippe Almeida muito interessante seu comentário. Descreveu muito bem a mudança por qual estou passando. rsrrsrs
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