Na tradição judaica, a sabedoria está mais próxima do homem que consegue guardar silêncio do que daquele que consegue usar bem a palavra.
A ideia pode ser encontrada nos seguintes provérbios de Salomão:
Na multidão de palavras não falta transgressão.
Aquele que possui o entendimento refreia as suas palavras.
Até o tolo, quando calado, é tido por sábio.
O conceito também não é estranho à tradição cristã. Tiago, líder da igreja no primeiro século, ensinou que os cristãos deveriam ser prontos para ouvir e tardios para falar.
Em nossos dias, contudo, muito embora inseridos numa tradição judaico-cristã, nada poderia ser mais distante da noção de sabedoria do que o silêncio.
Qual o lugar do silêncio num mundo em que tudo é movimento e comunicação?
Qual o lugar do silêncio num mundo em que todos podem falar, cantar ou escrever, a respeito de absolutamente tudo ou de simplesmente nada, para uma extraordinária multidão de destinatários?
E ainda que alguém consiga descobrir o valor do silêncio e tenha êxito em praticá-lo em seu dia-a-dia, como essa concepção poderia se compatibilizar com o exercício do magistério?
É possível imaginar um professor que revele sua sabedoria por meio do silêncio?
Acho que não.
O professor precisa professar. O professor precisa ensinar.
E o professor ensina, basicamente, falando.
Há professores que nada perguntam aos seus alunos, mas passam todo o tempo dando respostas.
Há professores que até perguntam, mas ou não ouvem a resposta ou não têm paciência para esperá-la.
Uns e outros são do tipo que monopolizam o direito de fala. Esses são daqueles que conseguem dar a matéria toda. E é bem possível que se considerem excelentes professores.
Mas eu sonho com uma escola em que os professores sejam especialistas em perguntar, ou ainda melhor, em escutar as perguntas e as respostas de seus alunos.
E, quanto a mim, sinto a urgente necessidade de aprender a falar menos, inclusive nas tarefas ligadas ao magistério.
Hoje, um acontecimento nada extraordinário me faz pensar no assunto.
No final da tarde, fui ao Hospital e, enquanto esperava para ser atendido, escutei uma senhora reclamar da fila de espera. E ela reclamava para si e para todos os outros, inclusive para aqueles que, assim como eu, nem estavam incomodados com a demora. E eu não estava incomodado porque nunca vou a repartições públicas, bancos ou hospitais sem levar um bom livro. E, quando estou com um livro, nenhuma demora me incomoda. Mas a mulher não parava de reclamar da fila, do clima, e de tudo o mais.
Depois de algum tempo, tendo puxado assunto com quase todos os outros pacientes, a dona me perguntou: - Você é médico, ou dentista?
Tirando os olhos do livro, e depois de confirmar que ela só podia estar falando comigo, respondi, com um sorriso, mas sem maiores explicações: - Não.
Ela, que já havia se levantado e estava pronta para me fazer várias outras perguntas, provavelmente a respeito dos exames que tinha nas mãos, recuou, acomodou-se novamente na cadeira, e disse: - Eu pensei que você era médico, ou alguma coisa do tipo, por causa desse livro que você está lendo.
Eu apenas sorri e confirmei: - Não, eu não sou não.
Depois disso, não consegui parar de pensar no valor do silêncio.
O médico disse que eu estava com sinusite.
Passei na farmácia e comprei os remédios.
Mas eu não parava de pensar na mulher e na sua multidão de palavras.
Depois, retomei a leitura de Ortodoxia, de Chesterton, o livro que eu havia levado ao Hospital.
Um comentário:
Olá Giordano, tudo bem? Cheguei ao seu blog pois gosto de ler o que as pessoas estão escrevendo! Quando quiser visite meu blog!
Um abraço,
Eduardo
www.maneirasimples.wordpress.com
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