terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A ARTE DE PERGUNTAR

Estudiosos de metodologia da pesquisa concordam que um dos itens mais importantes na elaboração de um projeto é a formulação da pergunta.

Nas várias etapas do processo de ensino e aprendizagem, o levantamento dos problemas também é ponto dos mais relevantes.

Mas é no momento das arguições, desde as que se realizam por ocasião de provas orais, até as que se dão em sessões de defesa de teses de doutoramento, que se pode descobrir quem domina a arte de perguntar.

A partir da leitura do episódio que passo a transcrever, preservado pela crônica acadêmica, pergunto se seria possível concluir que essa era uma das muitas qualidades pedagógicas de Antonio Joaquim Ribas que, entre 1860 e 1870, foi professor catedrático de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Paulo.

"De uma feita, perguntava ele a um examinando:
– Que se entende por – pessoa?
– Pessoa é – todo ente capaz de direitos e obrigações – respondeu-lhe o estudante.
– Que é – ente? – prossegue o dr. Ribas.
– Ente é tudo o que existe; mas entro em dúvida...
– Que é – dúvida?
Aí, o estudante hesitou, e, instintivamente, pôs-se a fazer movimento oscilatório com o indicador e o dedo maior da mão direita, dizendo:
– Dúvida, sr. dr., dúvida...
E continuava com a mímica dos dois dedos estendidos em movimento oscilatório:
– Dúvida...dúvida...
– Não diga nada! – acudiu o examinador. – O senhor não poderá encontrar definição oral tão expressiva como esse gesto que está fazendo. Dúvida é isto mesmo: é a vacilação entre dois juízos".

(NOGUEIRA, José Luís de Almeida. A Academia de São Paulo: Tradições e Reminiscências. Volume II. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 143, 144).

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