A principal obrigação do professor é proporcionar situações de aprendizagem relacionadas à sua matéria. Assim é que professores de Direito Civil devem cuidar de discutir Direito Civil e professores de Direito Penal devem cuidar de discutir Direito Penal.
Mas é apenas esse o papel do professor?
Recentemente, uma conversa que tive com o meu cabeleireiro me fez pensar que não. Ele me contou a história de um de seus clientes. O sujeito, geralmente alegre e muito falante, passou a se comportar de um modo estranho. Não contava as piadas de sempre, não sorria, e nem respondia às perguntas que lhe eram feitas. E assim permaneceu por uns quatro meses. Até que um dia, muito discretamente, resolveu explicar que o período de tristeza e silêncio tinha a ver com a ideia de por fim à própria da vida, abandonada depois da ajuda de um amigo. A revelação fez com que o cabeleireiro ficasse pensativo. Depois disso, a possibilidade de que a pessoa sentada na cadeira à sua frente estivesse pensando em algo tão extremo e talvez precisasse de uma palavra de alento passou a lhe parecer terrivelmente perturbadora.
Mas qual o papel do cabeleireiro?
2 comentários:
Meu caro professor,
Sua indagação é profundamente oportuna. No meu humilde entender, o papel do professor de Direito é muito maior do que a transmissão de enunciados sobre a lei, a jurisprudência ou as correntes doutrinárias em entrechoque. O principal papel do magistério jurídico deve ser o de formar soldados da Constituição.
O Direito, ao contrário de qualquer outro campo, não pode ser ensinado de modo asséptico, avalorado. O Direito consiste num conjunto de disposições normativas orientadas pelo texto constitucional. Fora da Constituição, do Estado Democrático de Direito, não há Direito que valha ser operado ou estudado. Assim, o ensino do Direito passa, necessariamente, pela defesa intransigente dos valores consagrados pela Constituição, pela defesa da pessoa humana e de seus direitos fundamentais, pouco importa a disciplina ministrada. É preciso formar, nos alunos, a consciência de sua função social como guardiões e intérpretes privilegiados da ordem jurídica, sob a égide da Constituição.
Todos nós temos um compromisso com a ordem constitucional e com o Estado democrático. Para os professores de Direito, este compromisso deve ser exponencialmente maior. Que aqueles que buscam a formação jurídica tenham consciência de que a luta pelo Direito se faz todos os dias, não é um fato esquecido ou um dado histórico.
Abraços do leitor assíduo, contente em poder ver, nestas páginas, esta reflexão tão importante.
Caríssimo Marcelo,
Suas observações são brilhantes, e muito coerentes com sua prática pedagógica.
Mas a minha angústia continua: colaborar para que o aluno se torne um soldado da Constituição é suficiente?
O que o meu cabeleireiro diria sobre isso?
Um abraço,
Giordano.
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