Depois de muitas tentativas
frustradas, finalmente, conseguimos uma entrevista exclusiva com o Professor
Lemos, que é um dos candidatos à diretoria da Faculdade.
Jornal: Professor Lemos, em
primeiro lugar...
Lemos: Desculpe, mas é Senhor
Professor Pós-Doutor Lemos.
Jornal: Sim, claro, Senhor
Professor Pós-Doutor Lemos, em primeiro lugar, agradecemos a disponibilidade de
nos conceder a entrevista.
Lemos: Estou à disposição. Fiquem
totalmente à vontade para perguntar. Nos próximos 15 minutos, estou
inteiramente à disposição dos senhores.
Jornal: É verdade que o Senhor
será candidato à direção da Faculdade?
Lemos: É.
Jornal: E o que o levou a tomar
essa decisão?
Lemos: A História. Por conta de
minha larga experiência, inclusive no plano internacional, tenho a exata medida
da importância histórica desse tipo de escolha. Sei que o fato ficará
registrado em páginas imorredouras. Por isso, resolvi me candidatar e, assim,
ligar o meu nome ao nome da Faculdade. Tenho a certeza de que isso engrandecerá
enormemente a história da instituição.
Jornal: E que outros benefícios a
candidatura pode trazer?
Lemos: Aprendizado. O exercício
de uma função pública é, antes de tudo, uma oportunidade de aprendizado. Claro,
se houver humildade, o aprendizado ocorrerá. É inevitável. E isso é importante
principalmente num país atrasado e sem cultura, como é o nosso. Então, espero
que minha passagem pela diretoria da Faculdade proporcione aprendizado. Na
verdade, trata-se de uma oportunidade única para que os outros professores e os
alunos aprendam como devem se comportar na presença de uma autoridade, como
devem cumprir ordens com exatidão e eficiência, como fazer críticas
verdadeiramente construtivas, além de outras coisas.
Jornal: E o senhor pretende
divulgar um plano com suas ideias e propostas?
Lemos: Evidentemente. Considero
que não há democracia se os votos são concedidos unicamente em razão das
qualidades pessoais dos candidatos. Terei um plano de governo e ele será
amplamente divulgado. Na verdade, a empresa contratada para elaborá-lo me disse
que já está quase tudo pronto. Falta apenas concluir as pesquisas qualitativas,
eleger as ideias que foram mais mencionadas pela comunidade, e depois redigir
um texto vago e impreciso. Mas teremos um plano de governo, sim. Claro que sim.
Jornal: E caso eleito, qual seria
a sua primeira medida?
Lemos: Além de óbvia, a pergunta
é simplista. A Faculdade é um universo. Não dá pra pensar em soluções mágicas. É
difícil falar qual seria a primeira de todas as medidas. O que posso prometer é
que vou trabalhar com prioridades, atacando, portanto, as questões mais
urgentes. Vocês já entraram no gabinete do Diretor?
Jornal: Sim.
Lemos: Aquilo é um horror! É
preciso fazer intervenções imediatas naquele local. Vou contratar os melhores arquitetos
e decoradores.
Jornal: E a Faculdade tem verba
para esse tipo de iniciativa?
Lemos: Não sei. Mas não preciso
saber. Meu escritório vai custear tudo. Pode não parecer, mas sou uma pessoa
generosa. E antes que eu me esqueça, quero dizer que também vou atacar outras
prioridades. O elevador dos professores, por exemplo. De uns tempos pra cá,
tenho notado a presença de alunos naquele meio de transporte. Vou implantar uma
catraca ali e colocar dois ou três seguranças. E a garagem? Não parece chocante
que, em pleno século XXI, não haja uma vaga reservada ao uso exclusivo do
Diretor? A sala dos professores também precisa de reformas. Onde já se viu
professores Pós-Doutores compartilharem o mesmo espaço, incluindo o banheiro,
com professores que ainda não deram passo tão elementar? Pretendo dividir a
sala em três ambientes: o primeiro para Pós-Doutores, o segundo para Doutores,
e o terceiro para o resto.
Jornal: E quais são os planos
para a Biblioteca?