quinta-feira, 14 de junho de 2018

Florestas, lagos e a aventura de escrever uma tese

O sonho de ingressar no mestrado pode se transformar em pesadelo. No doutorado, as chances são ainda maiores. 

Costumam concorrer para isso, entre outras coisas, os caprichos do orientador, a grande quantidade de tarefas, as dificuldades financeiras e os problemas emocionais. Mas nada se compara ao desafio de escrever uma dissertação ou tese.

No meu caso, a experiência de mestrado foi tranquila. Mas o doutorado foi diferente. Faltando pouco mais de um ano para o término do prazo, a tese não passava de um esboço e eu tinha poucas esperanças de vencer o bloqueio. O medo de não produzir um trabalho digno praticamente me paralisava. 

Para contornar o problema, foi importante contar com o apoio da família, a confiança do orientador e o estímulo dos amigos. Também foi bom conversar com colegas experientes e perceber que aquela sensação de impotência não era nada original. Mas, nesse contexto, foi especialmente marcante a conversa que tive com um grande mestre.

Conhecedor do poder das parábolas, o professor João Baptista Villela me contou duas. Na primeira, o pintor entrava na floresta e, depois de contemplar tudo o que estava ao redor, decidia pintar uma única árvore, com todos os pormenores. Na segunda, o caminhante arremessava uma pedra ao lago e, depois, observava que as ondas produziam círculos cada vez mais amplos e, no entanto, cada vez mais fracos. 

Como bom discípulo, ao terminar de ouvir as histórias, perguntei que relação elas tinham com a minha angústia. E ele disse que a árvore era como o tema da tese. A floresta pode conter muitas coisas interessantes. Mas o pintor precisa escolher o aspecto que deseja retratar. E disse também que o tema da tese era como o exato lugar onde a pedra cai no lago. Os reflexos do evento podem se estender para lugares distantes, mas sempre o farão de modo impreciso. É somente nas imediações do fato que as consequências podem ser vistas com clareza. 

Saí do gabinete do professor Villela um pouco mais aliviado. Descobri que nenhuma produção acadêmica, nem mesmo uma tese de doutorado, pode ser vista como ponto final, resultado acabado, momento mais elevado de uma trajetória. Cada trabalho é apenas a descrição de uma árvore, no meio de uma floresta sem fim. Ou um ponto do tamanho de um seixo, no meio de um lago de grandes proporções.

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