Professor Lemos
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
(As Meninas, 1999)
Neófitos sempre me perguntam
sobre como redigir a epígrafe perfeita. Aliás, perguntar é o que os neófitos
fazem melhor e, desse modo, revelam ao mundo toda a extensão de sua insensatez.
Perguntar pela epígrafe perfeita,
no caso de um neófito, é perguntar pelo impossível. A perfeição é para os
gênios. E genialidade não se ensina, não se aprende. Falarei, portanto, da epígrafe
possível, na esperança de ser útil aos consulentes.
O segredo de uma epígrafe é
escolher uma frase completamente incompreensível, o que se pode obter de dois
modos. O primeiro é retirar do contexto uma frase compreensível, tornando-a,
assim, suficientemente obscura. O segundo, e mais fácil, é escolher uma frase
qualquer de um escritor incompreensível. E há autores especialmente apropriados
ao propósito. Experimente, por exemplo, Lacan, Sartre, Derrida ou qualquer outro sujeito que jamais escrevia sem antes fumar ou beber alguma substância de
procedência duvidosa.
A razão para escolher uma epígrafe
misteriosa é óbvia. E se me dou ao trabalho de explicá-la é porque me dirijo a
neófitos. Uma vez que é certo que todo gênio é um incompreendido, nada melhor
que a obscuridade para simular genialidade que, como disse, é algo que não se
ensina, não se aprende, mas com o que se nasce.
E talvez seja melhor um gênio
simulado que um gênio de verdade, pois a genialidade é uma ilha num oceano de
estupidez. O gênio é um solitário. Sua única forma de ter comunhão é escrever
e, depois, ler o que escreveu. Somente consigo é que um gênio pode dialogar. Ninguém
deveria aspirar à genialidade. Primeiro, porque é inútil. Depois, porque ser gênio
não é fácil. E eu digo por experiência própria.
Uma epígrafe incompreensível,
portanto, é o melhor que se pode fazer. Diante dela, o leitor, cansado de
imaginar algum sentido razoável, desiste, sucumbe, desmorona, reconhecendo,
assim, a estreiteza de sua capacidade intelectual, sem ter outra coisa a fazer
senão confessar que está na presença de um gênio.
Post scriptum
Nenhum comentário:
Postar um comentário