sexta-feira, 29 de maio de 2009

MIGUEL REALE E OS CALOUROS

Em 2002, quando fazia mestrado na PUC/MG, fui encarregado de levar ao aeroporto um professor que viera participar de um Congresso de Filosofia do Direito. Àquele tempo, era comum que os alunos bolsistas recebessem esse tipo de obrigação. Sinceramente, nem me lembro do nome do professor. Dias antes do evento, no entanto, uma colega me telefonou e pediu para que trocássemos as nossas tarefas. Ela levaria o tal professor sem nome e eu levaria um outro. A mudança não me causaria nenhum transtorno. Disse imediatamente que estava tudo bem. Em seguida, ela me disse o nome do professor que agora seria meu passageiro: Miguel Reale. Assim, no dia marcado, compareci à recepção do Hotel e, minutos depois, encontrei um senhor de pequena estatura, passos lentos, mas seguros, e um sorriso fácil e encantador. No trajeto, entre outras coisas, perguntei a ele qual teria sido a maior alegria que experimentara no exercício do magistério. E, para minha surpresa, a resposta não foi o fato de ter elaborado uma teoria internacionalmente reconhecida, nem algum dos muitos prêmios recebidos, ou a passagem por cargos importantes, e nem ainda a recente aprovação do Código Civil, cujo projeto coordenara. Para ele, não havia nada mais gratificante, no exercício de sua profissão, do que encontrar, em todos os cantos do Brasil, pessoas que haviam lido suas Lições Preliminares de Direito e que gostavam de compartilhar com ele suas experiências de leitura. Sim, para Miguel Reale, o sentimento que o seu belíssimo texto causava nos calouros dos cursos jurídicos tinha o mais elevado valor. E eu, que havia tido o primeiro contato com as idéias jurídicas justamente com o livro do meu interlocutor, não duvidei da sinceridade da resposta. E, além disso, nunca a pude esquecer.

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