MEU TESTAMENTO
Vem cá, traze a tua caixa de costura,
E, em vez de agulha, tira o teu rosário,
O caso é sério,
Pode causar-te riso...
Tu vais servir-me agora de notário.
Em nome da Santíssima Trindade,
Livre o juízo e são o entendimento,
Sentado em teu banquinho,
Inda a teus pés sonhando,
Eu dito, escreve tu meu testamento.
De todos os meus bens desembargados,
Faço-te minha herdeira universal;
Mas não sem condições,
Guardarás, se puderes,
Meu coração no fundo do dedal.
Deixo-te um longo beijo bem ao meio
Da fina boca...oh! sim, guarda-o com medo!
Pode haver curioso
Que por instinto ou hábito
Tente roubar do cofre o meu segredo.
No cantinho do lábio entre umas dobras
De púrpura sutil e junto à neve,
Deixo-te meus suspiros
A procurar carinhos
De longas horas em momento breve.
Não te deixo um abraço...foram tantos!
Não sei se o diga, corará teu rosto...
Talvez nas aperturas
Das nacionais finanças
Ouse o fisco lançar-te algum imposto.
Deixo-te aquele olhar tão feiticeiro,
Meio luz, meio sombra, assim, assim,
Ao pé do jasmineiro,
Aquele olhar tão lânguido,
Aquele olhar do banco do jardim.
O mais é reservado e escrito fica
Em teu quartinho e ao lado do teu leito,
Flores, quadros, perfumes,
Meus sonhos a voar...
Queres um codicilo mais bem feito?
Guarda estes versos; são meu testamento.
Podem cerrá-lo anéis de teus cabelos;
Mas se ingrata o perderes,
Virei roubar-te à noite
Minhas cartas de amor entre os novelos.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
DIREITO, MAGISTÉRIO E POESIA
De 1858 a 1881, José Bonifácio, o Moço, foi professor de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Paulo. Era muitíssimo querido pelos alunos. Discípulos como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Castro Alves deram testemunho de como foram influenciados por ele. Entre os múltiplos interesses do mestre, estava a poesia. Nada mais natural. Direito, especialmente Direito Civil, é poesia. Magistério, da educação infantil ao ensino superior, é poesia também. Transcrevo a seguir uma das composições do Andrada, a de que mais gosto:
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