domingo, 22 de maio de 2016

Direito, Futebol e Poesia


O futebol, que é conhecido pela estabilidade de suas regras, realizou mudanças recentemente. Uma delas permite que a bola, no início da partida, seja tocada em qualquer direção, inclusive pra trás. E todos devem se lembrar que, antes, a bola só podia ser tocada em direção ao campo do adversário. 

No começo, pensei que a alteração era positiva, pois, se o primeiro toque era mesmo pra frente, o segundo era necessariamente utilizado para recuar a bola ao próprio campo. Seria, então, o simples reconhecimento do que já vinha sendo feito na prática.

Pois bem, a mudança até que faz sentido. O problema é que eu comecei a pensar em poesia. E aí fiquei em dúvida. Não havia certa beleza em começar o jogo tocando a bola pra frente? A regra não traduziria, nesse sentido, um símbolo? Sua aplicação não teria o propósito de insinuar que aquele jogo se joga pra frente, que os jogadores nunca devem deixar de pensar na meta, que o grande momento do futebol é justamente o gol?

O Direito brasileiro ainda proíbe o homicídio. Mas as pessoas continuam matando. O Direito brasileiro ainda proíbe o roubo. Mas as pessoas continuam roubando. É por isso que eu temo as reformas conduzidas por gente que não gosta de poesia.

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