Ao meu amigo César Fiuza que,
se não me engano, dirá que tudo isso é bobagem.
Talvez não haja muitas profissões em que as pessoas trabalhem sem pensar em aposentadoria. Mas essa é a regra no magistério superior. Em universidades públicas, então, o momento de encerrar a carreira costuma ser indicado, sem muita gentileza, é verdade, pela compulsória.
Já vi isso acontecer um bom número de vezes e, olhando de fora, parece bastante doloroso.
As causas do sofrimento são variadas: o amor pelo magistério, a convivência com colegas e estudantes, os projetos inconclusos, o costume. Tudo isso me soa bastante natural. Temo que possa me acontecer algo parecido.
Mas há um fator que pode aumentar dramaticamente o pesar do professor aposentado. Ao contrário dos outros, é um dado negativo. Penso muito nele. Tento evitar que ele me atinja.
Ao longo da carreira, o professor universitário vai colecionando uma série de pequenos poderes. Vagas de mestrado, de doutorado. Bolsas de iniciação científica, de extensão, de monitoria. Uma chefia de departamento, a coordenação de um colegiado. Uma nota baixa, uma nota alta, uma reprovação, uma aprovação. Um parecer, uma assinatura.
Além disso, é provável que, ao longo do tempo, uma pequena legião de orientandos, de antes, de agora e de depois, comece a ter interesse, legítimo ou falso, no que ele diz e no que ele faz.
O professor corre o risco de acreditar que tudo isso lhe pertence. Nesse caso, a aposentadoria, ao revelar o que era seu e o que era próprio do cargo que ocupava, pode ser especialmente triste.