São muito peculiares os concursos públicos para ingresso na carreira de magistério superior. A partir de minhas experiências em comissões examinadoras, gostaria de sugerir algumas ideias aos candidatos. Nenhuma delas tem a ver com a formação acadêmica propriamente dita. São apenas sugestões para quem já está se preparando para participar de processos seletivos.
1. Escolha um campo de atuação. No caso do Direito, penso que o candidato deve escolher uma área mais específica, como Direito Civil ou Direito Penal, por exemplo. Não é muito natural que se apresente para um concurso de Direito Civil quem tratou de Direito Penal na monografia, na dissertação, na tese e na maioria dos trabalhos publicados. É evidente que se deve incetivar o diálogo entre as áreas do Direito e do Direito com outras ciências. Mas cada interlocutor deve estar seguro em relação ao lugar de onde fala. Do contrário, não haverá diálogo, mas fluxo unidirecional de informações. Percebo que algumas pessoas escolhem uma ou duas instituições e se apresentam para todo tipo de concurso que nelas se realize. Pode ser mais interessante escolher uma ou duas áreas e se apresentar em instituições espalhadas por esse país maravilhoso.
2. Invista nos fundamentos teóricos. Mesmo tendo elegido uma área mais específica, o interessado deve estar consciente da impossibilidade de dominar todos os pormenores. Por isso, ganha relevo a aquisição consistente dos fundamentos teóricos da disciplina escolhida. No Direito Civil, por exemplo, andaria bem o candidato que tivesse muita segurança na indicação do conteúdo de princípios como autonomia privada, dignidade da pessoa humana e boa-fé, e de conceitos como os de personalidade, capacidade e ato jurídico. Desse modo, mesmo não podendo oferecer a resposta a uma questão mais específica, seria possível sugerir elementos para a compreensão do tema.
3. Cuide da expressão escrita. Dificilmente o concurso dispensará a realização de uma prova escrita. Nesse caso, mesmo que o conteúdo seja bom, os problemas com a vernaculidade podem limitar o aproveitamento. A sugestão mais simples é a de rever o próprio texto. Muitos erros poderiam ser corrigidos se o autor lesse cuidadosamente o que ele mesmo escreveu. Também não é demais lembrar que os textos devem ter uma introdução e uma conclusão, sempre. E para quem acha que produzi-los é uma tarefa difícil, pode ser interessante inserir no cotidiano uma boa dose de clássicos da literatura em língua portuguesa. Machado de Assis é o começo mais óbvio. Padre Vieira e Rui Barbosa fazem bem à saúde.
4. Estude metodologia do ensino. Em geral, a prova didática é o grande momento dos concursos para o magistério superior. Eu, que nunca gostei de aula, costumo sofrer nessas horas. Aliás, fico pensando na quantidade de sofrimento que já causei aos meus alunos. Não é pouca coisa, seguramente. Mas algumas providências poderiam produzir resultados imediatos. Começar a aula com uma imagem curiosa ou uma história interessante. Indicar com clareza os passos que serão dados. Utilizar adequadamente o espaço disponível. Manejar com precisão e técnica os recursos audiovisuais. Concluir a exposição com itens para debate e sugestões de aprofundamento.
5. Prepare adequadamente o currículo. A prova de títulos se dá com base no currículo dos candidatos. O primeiro cuidado deve ser o de preencher adequadamente cada um dos campos. O segundo pode ser a boa organização dos documentos, de modo a tornar a análise mais confortável. Deixar de comprovar as informações é uma falha que pode ser facilmente evitada.
Também seria possível falar da importância de ler atentamente o edital do certame, buscar informações sobre a instituição que oferta a vaga, conversar com pessoas mais experientes, aprender com os fracassos, ser franco sobre as próprias fragilidades, entre outras coisas.
Se você realmente deseja exercer o magistério numa universidade pública, siga em frente.
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