terça-feira, 18 de outubro de 2016

Um caminho entre a paralisia e a correria

Nunca vi alunos do curso de Direito tão preocupados com o futuro profissional. O ambiente de crise econômica certamente tem concorrido para isso. Mas não dá pra desconsiderar o peso da percepção, cada vez mais clara, de que o universo dos concursos públicos jamais será o mesmo.

A angústia tem levado estudantes a adotar dois comportamentos diferentes.

O primeiro é o da paralisia. As dúvidas são tão intensas que o estudante não sai do lugar. Como não sabe exatamente o que fazer, parece que o melhor é não fazer nada. São atitudes comuns o desinteresse pelas atividades acadêmicas, a reprovação em disciplinas do curso, o trancamento da matrícula e, nos casos mais graves, a desistência.

O segundo é o da correria. As dúvidas são tão intensas que o estudante resolve ir para onde o nariz aponta. Como não sabe exatamente o que fazer, parece que o melhor é fazer tudo. São atitudes comuns a busca precoce por estágios profissionais e a participação em número excessivo de atividades acadêmicas.

Estudantes do primeiro grupo sofrem porque pensam que os outros colegas estão muito melhor preparados para o mundo do trabalho. Estudantes do segundo grupo sofrem porque nunca sabem se estão fazendo o suficiente.

Então, o que fazer?

É claro que eu não sei o que fazer. Mas para não frustrar totalmente quem me acompanhou até aqui, algumas observações:

1. Pode ser interessante pensar no tipo de atividade profissional que você realmente deseja executar. Ou para deixar a sugestão mais concreta, no que você gostaria de fazer se as questões financeiras não fossem importantes. Esse tipo de pensamento pode nos levar para o campo do interesse, da vocação, do sonho. Eu digo isso, em primeiro lugar, porque creio que cada pessoa tem uma contribuição que ninguém mais pode oferecer. E também porque acredito firmemente que ninguém pode ser feliz fazendo algo em que não veja sentido.

2. Depois, será útil pensar nas atividades que podem contribuir para o desempenho das funções desejadas e, em seguida, inseri-las no seu planejamento. Por exemplo, para quem pensa no magistério jurídico, pode ser interessante fazer monitoria e iniciação científica. Para quem pensa em advogar, fazer estágio em bons escritórios é uma ideia bem natural.

3. Mas o importante é fazer tudo com carinho. Um estágio bem feito é melhor do que três estágios executados de qualquer modo. Uma boa iniciação científica vale mais do que atuações medianas em duas monitorias e oitos grupos de estudo. Atividades feitas só pra constar no currículo acrescentam muito pouco. E, por favor, acreditem em mim: um currículo extenso não impressiona examinadores minimamente atentos. Bastam duas ou três perguntas para derrubar uma pilha de papel. Também é preciso frisar que a excelência, em qualquer lugar e em qualquer tempo, acabará sendo reconhecida, mais cedo ou mais tarde.

4. Também me parece relevante a capacidade de dizer “não”. Tendo clareza sobre o que fazer, é essencial manter a decisão de não assumir tarefas excessivas. Mantenha o foco. Se a sua trajetória é realmente única, não faz sentido comparar os resultados parciais com aqueles obtidos por outros colegas.

5. E, por fim, não siga sozinho. Converse com outras pessoas. Ajude quem está em dificuldade. Celebre as pequenas vitórias. Tente mais uma vez.

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