sábado, 26 de novembro de 2016

Sinceramente, não sei o que fazer

Acabei de ler o que os alunos escreveram sobre o andamento do semestre. Entre outras coisas, pedi que indicassem pontos positivos, pontos negativos e sugestões. Mas não sei como interpretar os dados. E o pior é que, sinceramente, não sei o que fazer.

Entre os pontos positivos, muitos estudantes mencionaram a utilização de novos métodos de avaliação, o caráter mais aberto e reflexivo das aulas e a maior liberdade para a construção das trajetórias acadêmicas.

No entanto, encontrei, entre outras, as seguintes frases:

“A liberdade de escolha em excesso pode ser mais prejudicial do que benéfica”.

“Apesar de considerar a prova uma coisa negativa, penso que é muito importante, pois força o aluno a estudar”.

“Em alguns momentos, faltou engajamento da turma, pois estamos acostumados com provas e damos menos importância para as demais atividades”.

“Sugiro a realização de ao menos uma prova com o conteúdo estudado”.

“Eu gostaria de realizar mais provas no método tradicional”.

“Sugiro aumentar o número de aulas expositivas”.

“A quantidade de aulas expositivas ficou aquém do necessário”.

“Sugiro mais aulas e atividades focadas na matéria em si”.

“Sugiro trabalhar mais os conceitos presentes no Código”.

“Senti muita falta do professor passar a matéria no quadro”.

“O professor deveria ter passado mais conhecimento para os alunos”.

“Senti falta do ensino dogmático tradicional”.

“O número de aulas alternativas foi muito frequente”.

“Senti falta do conteúdo de Direito Privado propriamente dito”.

“Faltou objetividade nas aulas teóricas”.

“Considero que, no caso do curso jurídico, ministrar o conteúdo de forma direta funciona melhor que do que ensinar por meio de dinâmicas”.

“Poucas aulas teóricas, falta de interesse do professor”.

“Faça chamada, professor!”.

Agora, estou aqui, sentado, de frente para o computador, pensando. 

Se o papel do professor é ensinar, meu desempenho deve ter sido um fracasso. Ensinei muito pouco.

Mas não estou seguro se esse é o papel do professor.

Guardo comigo a estranha mania de não desconectar meios de fins. Os fins, quando bons, devem ser obtidos por meios igualmente bons. Não consigo, por exemplo, achar que passar horas e horas estudando é uma coisa boa se, na base, está apenas o medo de ser reprovado. Não consigo ver a graça de ter a sala repleta de alunos simplesmente aguardando o momento de dizer que estão presentes.

Se estudo e participação resultam de escolhas verdadeiras, penso que são coisas boas. Mas não sei o que dizer quando nascem de outras fontes.

De todo modo, ao planejar o próximo semestre letivo, preciso meditar no papel do professor.

Sinceramente, não sei o que fazer.

Mas não estou triste. Nem preocupado. Só não sei o que fazer.

3 comentários:

Anônimo disse...

Um prédio vertical (pleonasmo?). Um tablado onde um docente sobe(simbolicamente detém o poder?). Ternos. Gravatas. Saltos. Competitividade ao extremo. Medalhas. Quantas medalhas! Prêmio para o melhor na disciplina X, Y, Z, W, Q, Alfa, Beta entregues ao final pelo Sr. Prof. Dr. Desb. Do Tribunal X da Comarca de ___ pertencente à X região. APLAUSOS!!!! Que festa!

Instrumentalização do saber com os objetivos de estabilidade? Será?! Enorme quantidade de material na internet (novas tecnologias que o Direito Romano não acompanha) com o qual o aluno compara e faz um julgamento precoce por não compreender o que é a academia e o que é um concurso público. (Será que isso foi a ele explicado? Será que a proposta pedagógica do curso como um todo consegue demonstrar isso a ele? Ishiii! acho que não! Será que os gabinetes estão abertos?
Códigos, códigos, códigos. Leis. Leis. Leis. Juízes. Promotores. Procuradores. Desembargadores. Fiscais. Advogados. Bacharéis. Estreito labirinto que tolhe a crítica e reproduz as mesmas práticas. "Voilà" Fordismo! Another Brick in the Wall!!!

Resultado da equação (Mas não somos de ciências sociais aplicadas? O que uma equação faz aqui?): Pense por mim porque não quero gastar a minha energia pensado, afinal não sei outro modelo de pensar, ou, até sei, mas será que ele é o certo? Ah!, Deixa para lá! Você pode simplesmente pensar e me dizer! Se não fizer isso, há algo errado. Mas onde está o erro? Não sei... vou demorar muito tempo a descobrir. Depois de anos de formado talvez entenderei que tive um chão para construir aquilo que eu mais desejava. Minha própria identidade e o meu saber do qual sou inteiramente responsável, mas não tenho essa visão inserido nesta "tuppware" .

Mas, se o mundo científico vive de hipóteses, uhm (deixe me pensar um pouco... Oras! Estou pensando!Puxa, consigo! Não devo estar errado o professor nunca falou nada disso.... Ah, vou arriscar...):Será que a legitimação do docente na mente do aluno, em seu mais íntimo imaginário reside a figura do prédio vertical(pleonasmo?). Um tablado... Será? Brindemos a sociedade aberta aos seus intérpretes! (Peraí... isso é constitucional, não é civil... Opa, será que as matérias se relacionam??? Terei que pensar mais sobre isso...)

Juliana disse...

Querido professor Giordano,
É uma pena que o senhor tenha recebido feedbacks nesse sentido. Estou prestes a me formar agora e, ao longo do curso na Vetusta, senti falta de professores como o senhor.
Nunca me esquecerei da avaliação final à qual fomos submetidos em sua matéria: fazer uma análise de um texto do agrado com aluno, à luz do Direito Civil. Tenho certeza de que nunca teria aprendido tanto sobre a infungibilidade dos bens, se não fosse o conto "A chinela turca", de Machado de Assis.
É uma pena que esses alunos não enxerguem os benefícios de um método de ensino que não se atém a dogmas, códigos.
Se me permite a intromissão: não se deixe abalar! Eles que não sabem o que fazem.

Anônimo disse...

Professor, a primeira coisa que gostaria de dizer é que amo de forma secreta e íntima seus textos, algo muito parecido com uma paixão platônico-literária sempre te percebo sincero nas suas exposições.
Infelizmente, não fui seu aluno, mas admiro que tenha coragem de propor novas narrativas de ensino, e, também, que desperte e instigue seus alunos a encontrar sua forma de estudo. Mesmo o tempo estando propicio ao florescer de novas ideias (Primavera), o sistema é o de decorar a matéria e repetir citações de pessoas importantes nas provas, pois a opinião do aluno muitas vezes é tida como pedantismo intelectual.
Se não sabe o que fazer com esse feedback faça outra coisa que seja mais agradável, não é saudável deixar que nossos problemas pesem no nosso travesseiro, dá uma afastada disso e depois repense.
A educação é algo revolucionário não se sinta desestimulado se alguns não entenderam a revolução que contém na sua aula. li todas as criticas e a única coisa que vejo é a oportunidade de repensar, e aprimorar para o próximo semestre, e eu sei que tem capacidade para tanto. =)

Autor: H.H.