terça-feira, 1 de agosto de 2017

O tablado e a educação bancária



As salas de aula da Faculdade de Direito da UFMG tinham um tablado de madeira, com uns 20 centímetros de altura, na parte da frente, perto do quadro. As dimensões da sala e o número de alunos por turma não justificavam a sua presença. Era perfeitamente possível falar e ser ouvido sem ele.

Ainda assim, os professores davam aula no tablado e, por isso, olhavam os alunos de cima pra baixo.

Não consigo pensar em símbolo mais adequado para aquilo que Paulo Freire chamou de educação bancária.

O educador pernambucano, formado em Direito, sabia muito bem como eram as aulas em que uma pessoa, dotada de grande conhecimento, depositava informações na cabeça vazia de seus alunos.

E nada melhor para justificar o método do que uma peça de mobiliário apta a criar distância entre o mestre e os discípulos, sugerindo, portanto, a hierarquia que todos deveriam respeitar. Quem conhece a matéria sobe no tablado e, do alto de sua sabedoria, lança migalhas aos ignorantes que, calados e encantados, recebem o depósito do saber alheio.

Os tablados foram retirados nas férias. Na próxima semana, com o início do semestre letivo, professores e estudantes não poderão ver a estrutura de madeira a que estavam habituados. 

Mas eu temo que muita gente sinta saudade do velho símbolo. Temo principalmente que o velho símbolo continue assombrando nosso modo de pensar e viver a educação jurídica. 

Não é difícil jogar fora uns pedaços de madeira velha e apodrecida. Difícil é aceitar, como queria o Paulo Freire, que professores e estudantes aprendem uns com os outros e ensinam uns aos outros.


Observação: a fotografia de uma sala de aula do 12º andar, feita ontem, foi gentilmente cedida pela professora Lisandra Moreira, a quem agradeço.

2 comentários:

Rf disse...

Excelente notícia, Giordano! Depois quero ouvir o seu relato sobre as possíveis mudanças observadas na relação professor- aluno dentro da sala sem o''altar do ensino''. Abraço!

Anônimo disse...

Será que a ideia era essa mesmo????? Ou seria uma forma de o professor ser observado por todos da sala inclusive os que ocupavam as últimas cadeiras? As vezes as coisas são simples, algumas pessoas é que complicam e veem problemas onde não existe.