quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Professor Caridoso

Há três problemas básicos quando um professor de instituição pública afirma que leciona apenas ou principalmente para “devolver à sociedade um pouco do que recebeu”.

Em geral, a frase é dita por colegas que estudaram na instituição onde lecionam, não exercem o magistério com exclusividade e são bem-sucedidos em outras carreiras, tais como advocacia e magistratura, por exemplo.

É evidente que não há nada de negativo nesses elementos. Ter professores que estudaram na mesma escola é positivo sob vários aspectos, sendo que um deles é a comprovação do sucesso da própria instituição de ensino. Ter professores que exercem outra atividade é fator de notável enriquecimento do ambiente acadêmico. Ter professores que são bem-sucedidos em outras carreiras é elemento que pode provocar estímulo e inspiração nos estudantes.

Mas a frase é problemática, no mínimo, por três motivos.

O primeiro é o sentimento de que a educação é oferecida pelo Estado como favor que, por essa razão, precisa ser retribuído. Mas a educação não é favor; é direito e como tal deve ser experimentada.

O segundo é a consideração do magistério como atividade voluntária, dificultando, desse modo, o aprimoramento das condições de trabalho docente. Mas o magistério não é atividade voluntária; é profissão e como tal deve ser exercido.

O terceiro é o ocultamento dos benefícios auferidos com a atividade acadêmica. Em geral, o mesmo docente que alega exercer o magistério como serviço desinteressado não tem dificuldade de usar o título de professor e o nome da instituição de ensino para obter destaque em outras carreiras, juntamente com o respectivo acréscimo remuneratório.

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