Ao menos três razões têm impedidos professores universitários de pensar com clareza sobre o fenômeno da reprovação escolar.
A primeira liga-se ao fato de que professores, em geral, são exemplos de estudantes bem sucedidos. As pessoas colhidas pelo fracasso escolar muito raramente se dedicam ao magistério. Sendo assim, porque não sofreram a reprovação na pele, os professores não costumam dar muita atenção ao tema.
A segunda tem a ver com o caráter secundário que o ensino de graduação ocupa na vida de boa parte dos docentes. No caso dos cursos jurídicos, alguns se dedicam com prioridade a outras carreiras, tais como a advocacia e a magistratura. E mesmo entre os que exercem exclusivamente o magistério, há sempre o risco de conferir primazia ao ensino de pós-graduação e às atividades de extensão e pesquisa. Por isso, a escolha dos métodos de avaliação pode ter mais a ver com a quantidade de trabalho que o professor está disposto a encarar do que com a sua inserção no processo de ensino e aprendizagem.
A terceira razão relaciona-se com a ausência de preparação metodológica de grande parte dos docentes. Sem momentos para refletir sobre o sentido e as possibilidades da avaliação, é natural que os professores terminem por utilizá-la apenas como instância de controle e certificação. Nesse contexto, um certo número de alunos reprovados pode até ser visto como confirmação do rigor e da qualidade do trabalho docente.
Há duas razões especialmente dramáticas que, em geral, estão ligadas aos eventos de reprovação no ambiente universitário.
A primeira tem a ver com o adoecimento dos estudantes. Tenho notado que muitos alunos que sentem dificuldade com as estratégias de avaliação passam por algum problema de ordem emocional.
A segunda relaciona-se com a situação de alunos irregulares que, desvinculados do restante da turma, acabam sentindo dificuldade na realização de tarefas coletivas e na obtenção de informações importantes para o bom andamento do semestre.
Somente depois de muitos anos de exercício do magistério é que adotei uma estratégia deliberada para minimizar as possibilidades de reprovação. No semestre em curso, entre a apuração do resultado das avaliações parciais e a realização do exame final, convidei para uma conversa os estudantes que ainda não tinham obtido aprovação. Escutei a história de cada um deles. Indiquei os pontos da matéria que deveriam ser objeto de especial atenção. Dei orientações sobre os procedimentos e os materiais que poderiam ser utilizados nos momentos de estudo. Cuidei de sinalizar que todos nós tínhamos o mesmo interesse em atingir um resultado satisfatório.
Ainda não apliquei o exame final. Mas tenho boas expectativas. Na verdade, a ideia de reprovar um estudante sempre me causou desconforto. Mas só agora começo a enxergar possibilidades de intervir antes que isso aconteça.
Quando o médico chega em casa e, muito triste, diz que perdeu um paciente, nós o consideramos um homem sensato. Mas tomaríamos por louco o profissional que comemorasse a morte de uma pessoa submetida a seus cuidados. Do mesmo modo, o professor deve sempre lamentar a reprovação de um de seus alunos. E seria mesmo fora de propósito contar vantagem sobre o elevado número de estudantes deixados para trás num semestre letivo.
2 comentários:
Precisão militar, Professor. Espírito de Corpo, ninguém pra fica pra trás!
Você é genial professor!
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