Num tempo em que as pessoas negam tudo, resolvi confessar.
Há gente que diz que o seu nome, na verdade, não é o seu nome; que, apesar de ter saído da barriga daquela mulher e de ter sido amamentado por ela, nunca a viu, nem a conhece; que os milhões de dólares vieram parar em suas mãos, assim, de modo completamente misterioso, mágico.
Eu, no entanto, confesso. Um pouco constrangido, é verdade, mas confesso, e não nego.
Fui desonesto com meus alunos. Em muitas ocasiões e de muitas formas, falei sobre a necessidade de ser autêntico, de ter coragem para seguir o próprio caminho. Mas esqueci de mencionar os perigos. E isso é simplesmente desonesto.
E foi um aluno, muito inteligente, que me chamou a atenção para o problema. Depois de uma palestra, quando eu ainda estava me cumprimentando pelo sucesso da exposição, ele disse que até achava aquilo tudo bonito, mas que, na realidade, as coisas funcionam mesmo é de outro jeito. E me contou o recente caso de um concurso para magistério em que o aprovado tinha sido o candidato com a maior quantidade de itens no currículo, perguntando, ao final: “E se eu optar por esse caminho de autenticidade e, depois, numa seleção ou num concurso, perder para alguém que apostou somente nos números?”.
Engoli seco e fiquei em silêncio.
Agora, recomposto, decido confessar.
Sim, é muito cômodo para um servidor público, estável e relativamente bem remunerado, falar em coragem. Sim, o caminho da autenticidade é perigoso. Sim, é preciso medir as próprias forças e contar com a possibilidade de se incompreendido. Sim, é preciso aceitar o risco de ir mais devagar que os outros, de ficar para trás, e até mesmo de não chegar ao topo.
Por isso, constrangido, peço desculpas por transmitir a mensagem incompleta. E prometo, daqui pra frente, nunca mais falar ao viajante sobre as belezas da paisagem sem antes indicar os perigos que o espreitam ao longo do caminho.
No mais, desejo a meus alunos sucesso e verdadeira felicidade. E digo novamente que podem sempre contar comigo, mesmo que seja apenas para chorar as mágoas.
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