domingo, 21 de maio de 2017

O Professor Mutante e a Experiência de Aprendizagem Mediada

Conheci um professor universitário, coitado, que não teve a sorte de ter sido sempre o mesmo o tempo todo. Mudou e mudou radicalmente ao longo de sua trajetória. Não que tenha chegado a algum lugar, mas passou de um extremo ao outro na ampla lista de possibilidades pedagógicas, sempre em busca de algo, cujo conteúdo e natureza nem mesmo sabia definir. Sempre em busca, mas sem jamais encontrar. 

No começo, inseguro quanto à sua competência, mas cheio de confiança em relação ao papel da educação e ao valor de seu campo do conhecimento, imaginava que o dever do professor era primeiro estudar e depois ensinar. Em outras palavras, transferir conhecimento. Ao alunos, restava apenas a tarefa de receber a matéria e fazer o máximo de esforço para retê-la. A avaliação, além de funcionar como estímulo externo, servia para medir a quantidade de conteúdos absorvidos.

Depois de um tempo, um pouco mais confiante em relação a si, mas cheio de dúvidas sobre o papel da universidade e o valor de sua disciplina, passou a questionar a relevância da figura do professor. Flertou com pensamentos perigosos. Quem quiser, aprende. Quem não quiser, não aprende. Ninguém ensina nada a ninguém. O professor, no máximo, aponta caminhos. Percorrê-los já é outro problema. 

E como se não bastasse, tendo passado de um extremo ao outro, o pobre coitado começou a acreditar na possibilidade de encontrar o meio termo. O professor nem seria o que tudo ensina nem o que nada pode ensinar. O aluno nem seria a tabula rasa, em que o professor grava o que quiser, nem o organismo completamente autônomo, que nada aprende a não ser por contato direto com o mundo. Entre seres humanos, a aprendizagem poderia ser mediada.

Em nosso último encontro, o professor excêntrico, verdadeira metamorfose ambulante, foi logo dizendo que continuava em busca de algo, cujo verdadeiro sentido ainda não alcançara. Trazendo consigo o livro de Feuerstein, ilustre desconhecido, confessou que a leitura produzira nele algo semelhante ao que as obras de cavalaria fizeram com o Quixote. 

Depois, absorto em seus próprios pensamentos, seguiu em frente, o coitado.

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