quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Tudo o que é urgente deixou de ser importante!

Imagine a situação de um calouro de Direito que, tendo prova de Filosofia no dia seguinte, sabe apenas que não sabe de nada e, para piorar, pensa que o único Sócrates importante é o jogador da Seleção Brasileira de 82. 

Ele tem consciência de que precisa dar ao menos uma olhada nas anotações de um colega piedoso e, quem sabe, assistir vídeos sobre os tópicos mais complicados. 

Mas acaba ficando dividido por conta de outras possibilidades: ver o último episódio da vigésima temporada de uma de suas séries favoritas, que vai ser liberado exatamente à meia-noite; dar mais uma conferida nas inúmeras redes sociais de que participa, para ver se há alguma novidade; ou reservar duas horas para o estudo de francês, conforme previsto em seu projeto de carreira diplomática

No lugar desse pobre coitado, o que você faria? Sacrificaria as outras coisas e estudaria para a bendita prova? Deixaria a Filosofia somente para os gregos e focaria nos estudos de língua francesa? Ou alternaria a atenção entre as redes sociais e o episódio final da temporada?

Conheço dois modelos de administração do tempo. Um é o proposto por Stephen Covey em “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”. E outro é o sugerido por Christian Barbosa em “A Tríade do Tempo”.

Para o autor americano, existem quatro maneiras de classificar as atividades, organizadas a partir das interações entre “importância” e “urgência. No primeiro grupo, estão as atividades importantes e urgentes. No segundo, as importantes e não-urgentes. No terceiro, as não-importantes e urgentes. E no quarto, as não-importantes e não-urgentes. 

Em sua opinião, tarefas importantes são “as que contribuem para a nossa missão” e urgentes são as que “insistem para que alguma providência seja tomada”. 

De acordo com a sua proposta, o ideal seria não dar espaço para os dois últimos grupos (que não incluem tarefas importantes), diminuir a abrangência do primeiro (que inclui tarefas importantes e urgentes) e expandir o segundo (que abrange tarefas importantes e não-urgentes). Ou, para dizer de outro modo, deixar de trabalhar com “inutilidades” e “crises”, e destinar a maior parte do tempo a compromissos planejados, que podem provocar impactos positivos no futuro.

Mas o problema é que, entre solucionar uma crise e trabalhar num projeto de longo prazo, a resposta acaba ficando óbvia.

No caso do calouro de Direito, por exemplo, parece evidente que o estudo cuidadoso da língua francesa está mais próximo de seus verdadeiros objetivos do que a tentativa desesperada de obter elementos de Filosofia. Mas como a segunda tarefa é urgente, a primeira acaba sendo deixada para outro momento.

No sistema de Stephen Covey, portanto, uma atividade pode ser, ao mesmo tempo, importante e urgente, o que pode dificultar o processo de discernimento. 

O esquema proposto por Christian Barbosa é muito mais simples. Para ele, as pessoas podem usar o tempo em atividades de três tipos: importantes, urgentes e circunstanciais.

O campo da importância “refere-se a todas as atividades que você faz e que são significativas em sua vida - aquelas que trazem resultado a curto, médio ou longo prazo”. O da urgência “reúne todas as atividades para as quais o tempo é curto ou se esgotou”. E o das circunstâncias “cobre todas as tarefas desnecessárias”.

Em sua opinião, portanto, uma tarefa não pode ser, ao mesmo tempo, importante e urgente. Tudo o que é importante tem prazo confortável para ser feito. O que precisa ser realizado agora ou daqui a pouco, ainda que tenha sido importante, já não pode ser considerado assim. A urgência suprime a importância.

No exemplo do calouro, estudar Filosofia, ainda que possa ter sido importante, é agora uma tarefa urgente, que não pode deixar de ser realizada, sob pena de acarretar resultados desagradáveis. Mas estudar francês, embora não seja urgente, é uma atividade importante, que pode contribuir para um objetivo verdadeiro. 

Colocar as tarefas em campos distintos parece simplificar o planejamento.

Por isso, nos próximos textos, aceitaremos a sugestão do autor brasileiro e partiremos do pressuposto de que tudo o que é urgente, exatamente por esse motivo, já não pode ser importante.

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