Pergunta enviada por um jovem professor:
Como vencer votações no Colegiado do Curso?
Resposta do Professor Doutor (e Pós-Doutor) Lemos:
Notei, caro colega, que você usou o verbo “vencer”. Então, aprenda logo a primeira lição: o importante não é vencer as votações. É simplesmente não perdê-las. Tudo bem. Imagino que a diferença não tenha ficado clara. Vou explicar. Vencer uma votação implica que ela tenha sido realizada e que você tenha obtido a maioria dos votos. No entanto, para evitar a derrota será suficiente que ela não se realize. E esse é o grande segredo. Se você tiver a mínima suspeita de que não tem os votos necessários, basta seguir as minhas dicas. Você pode até não vencer, mas nenhuma outra pessoa vencerá.
A primeira providência é controlar a formação da pauta. Se for possível, tire o tema de lá, simplesmente. Se não, tente ao menos colocá-lo mais para o final da reunião.
A segunda providência é, durante os debates, falar pelo maior tempo possível, de modo a vencer os colegas pelo cansaço. Na melhor das hipóteses, o tema será deixado para a reunião seguinte. Se isso não acontecer, no entanto, os colegas estarão tão exaustos que ficarão mais suscetíveis à manobra seguinte.
A terceira providência é causar confusão. O caminho mais fácil é acusar o presidente de agir com autoritarismo, de não garantir o seu direito de fala, enfim, de tentar censurar suas opiniões. Outra possibilidade, perigosa, mas eficaz, é sugerir sutilmente que alguém ali tem interesse pessoal na questão. Também costuma dar certo pisar no velho calo de um colega mais exaltado. Se um deles tiver enfrentado acusação de plágio, por exemplo, a mais vaga referência ao assunto pode ser o suficiente. Se outro tiver fama de puxa-saco, simplesmente use palavras como “servilismo”, “subserviência” e “bajulação”. Aumentar o tom de voz, colocar o dedo em riste, interromper o presidente da sessão, entre outras, são atitudes que podem produzir o clima desejado.
Também é possível tentar, a qualquer momento, uma saída regimental. Pense em algo como localizar um vício no procedimento, sair da sala para impedir a manutenção do quorum ou o bom e velho pedido de vista.
Mas lembre-se, jovem colega, que todas essas informações só devem ser utilizadas a bem da instituição e como forma de proteger a democracia. As pessoas nem sempre sabem o que querem. E nem sempre querem o melhor. Às vezes, meu caro, é preciso intervir, mas só para garantir a preservação do bem comum.
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