Ninguém pode acusar Dom Quixote de não ter sonhos. Talvez lhe faltasse apenas uma certa dimensão prática e a capacidade de antever os alvos com clareza.
Depois de adquirir todos os livros de cavalaria que encontrou e de passar dias e noites lendo e lendo, sem parar, esquecendo-se de todas as outras atividades, vejam o que aconteceu ao nobre fidalgo:
Por fim, perdido o resto de juízo que ainda conservava, ocorreu-lhe o mais estranho pensamento que jamais passara pela cabeça de outro louco neste mundo: pareceu-lhe conveniente e necessário, tanto para o engrandecimento de sua honra como para o proveito da república, fazer-se cavaleiro andante, e sair pelo mundo com armas e cavalo, em busca de aventuras, e a exercitar-se em tudo o que havia lido acerca das práticas dos cavaleiros andantes, desfazendo todo gênero de agravos, enfrentando agruras e perigos, a fim de que, vencendo, pudesse granjear fama e nome eternos.
Tomada a decisão, Dom Quixote ainda se lembrou de algumas providências.
Em primeiro lugar, restaurou as armas que haviam pertencido a seus bisavós, uma vez que, “cobertas de ferrugem, jaziam esquecidas há séculos num canto”.
Em seguida, gastou quatro dias pensando no nome que daria a seu cavalo, escolhendo, por fim, o de Rocinante que, para ele, era “eminente e sonoro, e que, ademais, indicava o que o animal havia sido outrora, quando não passava de um rocim, antes de ser o que agora era: o que vinha primeiro e antes de todos os rocins do mundo”.
A terceira medida foi dar a si, depois de oitos dias de pensamento, o nome de Dom Quixote de la Mancha, “com o que, na sua opinião, declarava alto e bom som sua linhagem e pátria, honrando-a com o tomar-lhe emprestado o seu sobrenome”.
E por fim cuidou de escolher uma dama, para que dela se enamorasse, “já que cavaleiro andante sem amores era árvore sem folhas e frutos, e corpo sem alma”. A escolhida não passava de simples camponesa, moradora da aldeia vizinha, a quem decidiu chamar Dulcinéia del Toboso, nome que, “a seu ver, era musical, peregrino e significativo, como aliás os demais que dera a si e atribuía às suas coisas”.
Depois de concluir preparativos tão singelos, o nobre fidalgo deixou logo sua casa, sem saber exatamente para onde ia, pois, “não quis ele protelar por mais tempo a realização dos seus planos, servindo-lhe como incentivo a falta que, no seu entender, estaria fazendo ao mundo a sua tardança, tantos eram os agravos que tencionava desfazer, os tortos a endireitar, as injustiças a emendar, os abusos a reduzir e as dívidas a saldar”.
Não que o caminho tenha deixado de lhe reservar grandes surpresas e extraordinárias aventuras, mas todos podem concordar que o nosso cavaleiro andante não foi um planejador muito meticuloso.
É por isso que pode ter alguma importância distinguir sonhos, metas e projetos, uma vez que, embora todos se refiram a objetivos futuros, somente os dois últimos cuidam da dimensão prática.
Nas próximas linhas, discutiremos as características que as metas devem possuir, deixando para o texto seguinte o estudo dos projetos.
Baseados principalmente em “A Tríade do Tempo”, de Christian Barbosa, podemos definir meta como um objetivo pessoal, relevante, desafiador, possível, específico, mensurável e temporal.
Pessoal é o objetivo que diz algo sobre quem o formula e, portanto, está ligado à sua missão e aos seus papéis.
Relevante é o objetivo que pode ter impacto no futuro, que tem aptidão para levar o autor a uma nova dimensão.
Desafiador é o objetivo que implica em algum tipo de risco, que demanda a mobilização de recursos significativos.
Possível é o objetivo para cuja realização o interessado disponha de recursos ou, no mínimo, tem possibilidade de obtê-los.
Específico é o objetivo elaborado de modo a permitir que seu autor tenha elementos para suficientes para visualizar, desde logo, a sua realização.
Mensurável é o objetivo formulado de tal forma que, depois de algum tempo, seja possível dizer com segurança se ele foi ou não alcançado.
Temporal é o objetivo com indicação de data para acontecer.
Assim, por exemplo, um estudante do primeiro período do curso de Direito, que deseja trabalhar com tributos, poderia formular a seguinte meta: realizar um ano de estágio em escritório de Direito Tributário, localizado na mesma cidade onde estudo, classificado entre os melhores do ramo, a partir do sétimo período do curso.
Nesse caso, o objetivo seria pessoal, pois está conectado com o desejo de trabalhar com tributos; relevante, pois pode produzir impactos na carreira escolhida; desafiador, pois implica no risco de disputar a vaga em processos seletivos geralmente muito concorridos; possível, pois o escritório está localizado na mesma cidade do curso e esse tipo de vaga é destinada a estudantes de Direito; específico, pois indica não só a especialidade do escritório, mas também a sua avaliação perante a comunidade; mensurável, pois indica o período de um ano para sua realização; e também temporal, pois assinalada o momento a partir do qual deve acontecer.
Pode ser interessante pensar em metas de curto prazo (de até um ano), de médio prazo (de até cinco anos) e de longo prazo (de mais de cinco anos) e, em seguida, registrá-las em alguma base de dados.
No planejamento, a ser feito no início do dia, do mês ou do ano, as metas devem ser observadas e desdobradas em tarefas.
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