“O Peregrino”, um dos maiores clássicos da literatura cristã, foi publicado em Londres, no final do século XVII. Ao escrevê-lo, John Bunyan, que era um homem simples, de quase nenhuma instrução formal, estava preso, por conta de suas pregações independentes, feitas sem autorização da Igreja Anglicana. O livro inteiro é belíssimo e ainda tem muito a nos dizer. No entanto, para ilustrar o tema que me interessa, basta a leitura do primeiro parágrafo:
Andando pelas regiões desertas deste mundo, achei-me em certo lugar onde havia uma caverna; ali deitei-me para dormir e, dormindo, tive um sonho. Vi um homem vestido de trapos, de pé em determinado lugar, com o rosto voltado para o lado oposto da própria casa, um livro na mão e um grande fardo às costas. Olhei e o vi abrir o livro, e lê-lo; e lendo, chorava e tremia, e já não se contendo rebentou num choro sentido, dizendo: “Que devo fazer?”.
Quem deseja percorrer o Caminho de Santiago, ou qualquer outra rota de peregrinação, deve tomar inúmeras precauções. Uma das mais importantes é pensar cuidadosamente no tamanho da mochila. Levar muito peso pode deixar a caminhada insuportável. Mas esquecer um item essencial pode gerar desconforto e sofrimento. E ao peregrino que deseja viajar não apenas nas estradas poeirentas, mas também nos caminhos do coração, cada item da viajem é uma oportunidade para meditar.
Especificamente sobre a mochila, José María Alvear, no manual denominado “El Camino de Santiago: cuaderno del peregrino”, faz a seguinte advertência:
Se tienes que cargar con tus cosas, aprende a hacer bien tu mochila. Non metas em ella nada que non sea imprescindible, porque el Camino te invita a andar ligero de equipaje.
Numa peregrinação espontânea e artificial, como a que certas pessoas fazem no Caminho de Santiago, ou numa peregrinação necessária e real, como a que todos fazemos, a natureza e o tamanho do fardo importam, e muito.
É certo que a ideia permite aplicações profundas, como a que faz John Bunyan, por exemplo. Mas o meu desejo é utilizá-la para falar de algo extremamente simples.
O primeiro passo para fazer um bom planejamento pessoal é tirar da mochila tudo o que não é importante. Isso significa que, antes de pensar em objetivos e metas, é conveniente realizar o exercício que Christian Barbosa chama de “descarregar”.
E para deixar o trabalho um pouco mais fácil, sugiro dividi-lo em três momentos.
1. Liste as pendências
Abra um arquivo novo ou pegue uma folha de papel e escreva todas as atividades que você precisa fazer. Ainda não é o momento de pensar na importância das tarefas. Faça a lista mais abrangente que puder.
2. Pense na missão e nos papéis
Em seguida, compare a lista das tarefas pendentes com as anotações que você tiver feito sobre a sua missão e os seus papéis. Tente perceber como cada uma delas se conecta com os seus interesses mais verdadeiros. Imagine que impactos poderiam ser produzidos no futuro se você fizesse algumas e deixasse de fazer outras.
3. Elimine o supérfluo.
Finalmente, com muita coragem, elimine as tarefas que não sejam nem importantes nem urgentes.
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