quarta-feira, 24 de junho de 2009

EU TIVE UM PROFESSOR PICARETA

Não sei quanto a você, mas eu tive um professor picareta. Tive muitos que não eram bons de serviço. Alguns faltavam em demasia. Outros passavam a metade da aula falando de suas próprias realizações. Outros se perdiam em intermináveis divagações. Ainda outros davam as mesmas aulas e aplicavam as mesmas provas há trinta anos. Mas todos, de algum modo, contribuíram com minha formação. Todos, à exceção do grande picareta. Esse, quando aparecia, chegava atrasado. Tinha o hábito de ficar todo o tempo encostado na parede ou na mesa. Anotava frases desconexas no quadro. Distribuía pequenos e incompreensíveis resumos da matéria. Adorava contar as trapaças que fazia enquanto advogado. Passava a primeira metade da aula falando o que lhe vinha à cabeça e, a outra, explicando o que iríamos estudar – mas que nunca tínhamos ocasião de fazê-lo. Nunca, jamais discutiu um ponto sequer do programa. Talvez eu tenha sido injusto ao dizer que ele não contribuiu com minha formação. Na verdade, deveria agradecê-lo por me haver ensinado, com a força irresistível do exemplo, tudo o que um professor não deve ser.

4 comentários:

Luanda Lima disse...

Puxa vida!! Você descreveu meu 1º período!!!

Giordano Bruno Soares Roberto disse...

Luanda,

É mesmo? Os picaretas vão dominar o mundo!

Boa sorte nos próximos semestres.

Giordano.

Luiz Guilherme Cruz disse...

Prezado Professor Giordano,

Acredito que saber o que não queremos ser é um dos passos mais importantes. Repetir erros é a pior coisa que alguém em início de carreira pode fazer!

Um grande abraço!

Luiz Guilherme

Giordano Bruno Soares Roberto disse...

Caro Luiz Guilherme,

Não foi muito difícil descobrir que eu não queria ser um professor picareta. As aulas com aquele grande mestre foram suficientes para isso. Muito mais complexo tem sido descobrir outros erros que devem ser evitados. Para tanto, tenho tido a felicidade de contar com o auxílio de alunos observadores e críticos. Você é um deles. Muito obrigado.

Grande abraço,

Giordano.