sábado, 27 de junho de 2009

A LINHA, UMA VIDA INTEIRA*

Colaboração enviada por David Francisco Lopes Gomes,
aluno do 9º período do Curso de Direito da UFMG


À ingrata questão acerca de qual seria o modelo de um professor ou uma professora ideal, escolho como resposta não um, mas quatro exemplos. Nomes diferentes, pessoas distintas quanto ao conteúdo que lecionam, quanto às perspectivas a partir das quais enxergam o mundo e possivelmente também quanto àquilo em que acreditam. Mas, em que pesem todas essas diferenças, pessoas que podem ser unidas neste breve texto pela escolha da docência como trajetória a seguir e a ser seguida. É bem verdade que cada um desses nomes possui não uma ou duas características que mereceriam ser comentadas. Ao contrário, todos eles carregam consigo uma gama de adjetivos, positivos e – por que não? – negativos, que confluem para formar a figura que deles resta no imaginário discente. Porém, alguns daqueles adjetivos destacam-se mais que outros na construção desse imaginário e na força com que com ficam gravados na memória e no horizonte de quem deles se aproxima. Minha primeira escolha – e a ordem aqui é totalmente aleatória, posto que as qualidades sobre as quais falo são, para mim, igualmente fundamentais – repousa no professor João Baptista Villela. Dele tomo como características a firmeza e a convicção, a confiança passada aos estudantes e a certeza, neles incutida, da dignidade da docência e do longo percurso que ela exige que se cumpra para se poder exercê-la com mérito. Meu segundo nome é a professora Miracy Barbosa de Sousa Gustin. Dela colho a capacidade de educar, mais do que ensinar, priorizando sempre um olhar voltado à emancipação. E colho igualmente o dom imenso de inovar, bem como a força e a esperança insuperáveis para seguir acreditando num mundo melhor e lutando por ele. A terceira escolha recai sobre o professor Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira. Aqui encontro o talento singular para ensinar por meio de perguntas, para não fornecer respostas prontas, mas suscitar dúvidas que incentivam – empurram, obrigam – a ir sempre mais longe, a desafiar limites e não respeitar barreiras. O quarto nome é o da professora Daniela de Freitas Marques. Dela decorre a prova sublime de que competência e inteligência não precisam andar separadas da humildade. O jeito simples, humano, amigo, não permite a reprodução do abismo tantas vezes verificado entre professores e alunos, sendo um convite ao diálogo sempre enriquecedor. Por fim, se é preciso, ou ao menos desejável, citar uma característica que os reúna e que seja, ao mesmo tempo, síntese dessa pequena resenha, uma coisa, mais do que todas as outras, pode ser aprendida deles e delas: talvez o conhecimento possua limites. Mas, certamente, a busca por ele é sempre uma busca infinita e um caminho inesgotável.

* O título é um verso retirado do poema abaixo, que, acredito, diz muito sobre as atividades de ensino, pesquisa e também extensão.

“Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.”
(Paulo Leminski.)

2 comentários:

Giordano Bruno Soares Roberto disse...

Caríssimo David,

Obrigado pela preciosa colaboração. O seu texto, além de muitíssimo bem escrito, é inspirador.

Um grande abraço,

Giordano.

Unknown disse...

Oi, professor Giordano, tudo bem?

Mais uma vez, eu é que agradeço pela oportunidade.

Novamente, parabéns pela iniciativa!

Grande abraço,

David