Na hora de tomar
decisões sobre carreira, poucas pessoas analisam friamente um tema fundamental:
o dinheiro. Para ajudar nesse tipo de exercício, vou trabalhar com uma situação
hipotética.
Renata é
apaixonada por História. Na infância, uma de suas brincadeiras favoritas era lecionar
para os amigos. Ao concluir o ensino médio, pensou que o caminho natural seria
ingressar no curso de História e, depois, seguir carreira no magistério. Porém,
de tanto ouvir que professores ganham pouco e não têm o valor que merecem,
começou a pensar num curso mais charmoso, e em carreiras mais promissoras. Foi
assim que lhe ocorreu a ideia de estudar Direito e, em seguida, fazer concurso
para ingressar no ministério público ou na magistratura.
Caso escolhesse se
tornar professora no ensino médio, trabalhando em dois turnos, Renata não ganharia
mais do que 15 valores por mês ou 180 valores por ano; e caso exercesse a função
de promotora ou juíza não ganharia menos do que 60 valores por mês ou 720
valores por ano.
Mas de que modo ela
poderia olhar para esses números?
Talvez o
primeiro cuidado fosse justamente o de não desconsiderá-los. É preciso encarar
esse tipo de realidade de frente. Algumas carreiras pagam significativamente menos
que outras. E isso não tem nada a ver com a beleza, a complexidade ou a
relevância das tarefas que abrangem.
Em seguida,
parece que o melhor seria refletir no padrão de vida que se deseja experimentar
no futuro.
Vejamos duas situações
bem diferentes. Para descrevê-las, com o objetivo de simplificar, considerarei
que os gastos mais elevados de uma pessoa ficam distribuídos em apenas três
categorias: habitação, transporte e lazer.
Na primeira hipótese,
Renata espera desfrutar de um padrão bastante elevado. No que se refere
à habitação, uma vez que pretende morar em bairro elegante e em apartamento
amplo, deverá
gastar em torno de 200 valores anuais. Em relação ao transporte, já que espera
ter um carro para cada integrante da família, todos de luxo, gastará em torno
de 100 valores anuais. Por fim, quanto ao lazer, uma vez que não abre mão de realizar
duas viagens internacionais por ano e comparecer aos principais espetáculos e
eventos esportivos de seu entorno, terá um gasto anual de aproximadamente 300
valores. No total, os gastos anuais ficariam em torno de 600 valores.
No segundo cenário,
em que Renata
se contenta com um padrão mais modesto, seus gastos anuais com habitação
ficariam em torno de 80 valores, já que pretende morar em apartamento pequeno,
localizado em bairro simples. No que se refere ao transporte, uma vez que
espera possuir apenas um automóvel, de categoria popular, e utilizá-lo
juntamente com o sistema público, terá despesas anuais de aproximadamente 50 valores.
No caso do lazer, priorizando passeios regionais e explorando espaços públicos
e gratuitos, terá gastos ao redor de 20 valores por ano. No total, os gastos
anuais ficariam em torno de 150 valores.
O padrão mais
elevado, descrito na primeira hipótese, é claramente incompatível com a
remuneração típica do magistério. Já o padrão mais humilde pode funcionar tanto
para uma professora quanto para uma juíza.
Para algumas
pessoas, um padrão de vida elevado é algo de que não se pode abrir mão. Para
elas, será necessário encontrar uma profissão que permita ganhar bem, ainda que
não permita desenvolver o próprio potencial criativo.
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