segunda-feira, 21 de maio de 2018

Vamos falar de dinheiro?

Na hora de tomar decisões sobre carreira, poucas pessoas analisam friamente um tema fundamental: o dinheiro. Para ajudar nesse tipo de exercício, vou trabalhar com uma situação hipotética.

Renata é apaixonada por História. Na infância, uma de suas brincadeiras favoritas era lecionar para os amigos. Ao concluir o ensino médio, pensou que o caminho natural seria ingressar no curso de História e, depois, seguir carreira no magistério. Porém, de tanto ouvir que professores ganham pouco e não têm o valor que merecem, começou a pensar num curso mais charmoso, e em carreiras mais promissoras. Foi assim que lhe ocorreu a ideia de estudar Direito e, em seguida, fazer concurso para ingressar no ministério público ou na magistratura.

Caso escolhesse se tornar professora no ensino médio, trabalhando em dois turnos, Renata não ganharia mais do que 15 valores por mês ou 180 valores por ano; e caso exercesse a função de promotora ou juíza não ganharia menos do que 60 valores por mês ou 720 valores por ano.

Mas de que modo ela poderia olhar para esses números?

Talvez o primeiro cuidado fosse justamente o de não desconsiderá-los. É preciso encarar esse tipo de realidade de frente. Algumas carreiras pagam significativamente menos que outras. E isso não tem nada a ver com a beleza, a complexidade ou a relevância das tarefas que abrangem.

Em seguida, parece que o melhor seria refletir no padrão de vida que se deseja experimentar no futuro.

Vejamos duas situações bem diferentes. Para descrevê-las, com o objetivo de simplificar, considerarei que os gastos mais elevados de uma pessoa ficam distribuídos em apenas três categorias: habitação, transporte e lazer.

Na primeira hipótese, Renata espera desfrutar de um padrão bastante elevado. No que se refere à habitação, uma vez que pretende morar em bairro elegante e em apartamento amplo, deverá gastar em torno de 200 valores anuais. Em relação ao transporte, já que espera ter um carro para cada integrante da família, todos de luxo, gastará em torno de 100 valores anuais. Por fim, quanto ao lazer, uma vez que não abre mão de realizar duas viagens internacionais por ano e comparecer aos principais espetáculos e eventos esportivos de seu entorno, terá um gasto anual de aproximadamente 300 valores. No total, os gastos anuais ficariam em torno de 600 valores.

No segundo cenário, em que Renata se contenta com um padrão mais modesto, seus gastos anuais com habitação ficariam em torno de 80 valores, já que pretende morar em apartamento pequeno, localizado em bairro simples. No que se refere ao transporte, uma vez que espera possuir apenas um automóvel, de categoria popular, e utilizá-lo juntamente com o sistema público, terá despesas anuais de aproximadamente 50 valores. No caso do lazer, priorizando passeios regionais e explorando espaços públicos e gratuitos, terá gastos ao redor de 20 valores por ano. No total, os gastos anuais ficariam em torno de 150 valores.

O padrão mais elevado, descrito na primeira hipótese, é claramente incompatível com a remuneração típica do magistério. Já o padrão mais humilde pode funcionar tanto para uma professora quanto para uma juíza.

Para algumas pessoas, um padrão de vida elevado é algo de que não se pode abrir mão. Para elas, será necessário encontrar uma profissão que permita ganhar bem, ainda que não permita desenvolver o próprio potencial criativo.

Para outras pessoas, fazer coisas relevantes, e nas quais se acredita, é algo de que não se pode abrir mão. Para elas, será necessário definir um estilo de vida mais sóbrio, ainda que isso implique em desistir de certo número de possibilidades. 

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