O padre Antônio Vieira é comumente apresentado como o maior orador da língua portuguesa. Nascido em Lisboa, em 1608, e falecido na Bahia, em 1697, levou uma vida agitada, repleta de aventuras e polêmicas. Em um de seus sermões mais luminosos, pregado na Capela Real, ofereceu cinco conselhos aos pregadores cristãos, que são úteis, na verdade, para todo tipo de discurso.
O primeiro tem a ver com a pessoa do pregador e sugere que deve haver coerência entre o que ele fala e o que ele pratica. É garantia de fracasso quando a vida faz apologia contra a doutrina e quando as palavras são refutadas pelas obras.
O segundo refere-se ao estilo, que deve ser “muito fácil e muito natural”. As palavras do pregador devem ser como as estrelas, altas e claras. Tão claras que mesmo os que nada sabem podem entender. E tão altas que mesmo os que muito sabem podem aprender.
O terceiro está relacionado com a matéria e, para o jesuíta português, “o sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria”. O pregador que deseja tratar de muitos assuntos, na verdade, termina não tratando de nenhum.
O quarto é sobre a ciência. O pregador deve falar daquilo que aprendeu e construiu com esforço próprio. Não deve colher onde não semeou. Não deve utilizar material preparado por outras pessoas. Como diz o Vieira, “pregar o alheio é pregar o alheio, e com o alheio nunca se fez coisa boa”.
No quinto conselho, que tem a ver com a voz do pregador, admite-se que possa se mostrar tão forte quanto o trovão, de modo que “faça tremer o mundo”, ou tão mansa quanto o orvalho, “que destila brandamente e sem ruído”, tudo conforme a ocasião exigir.
Os Sermões do Padre Antônio Vieira foram publicados e podem ser obtidos com relativa facilidade. Mas não é possível assisti-los no Youtube. Infelizmente, como próprio religioso reconheceu, os antigos sermões, uma vez colocados no papel, “sem a voz que os animara, ainda ressuscitados são cadáveres”.
Um comentário:
postagem maravilhosa e bem humorada. Parabéns mais uma vez.
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