Na segunda edição das Poesias Completas, de Machado de Assis, publicada em 1902, no lugar em que o autor tinha escrito “cegara o juízo”, o funcionário da tipografia, involuntariamente, trocou o “e” por um “a”, produzindo um defeito editorial nada agradável.
Numa edição inglesa da Bíblia, feita em 1631, o tipógrafo teve a ideia de brincar com o texto do sétimo mandamento, simplesmente suprimindo a palavra “não”. Como tinha de ser, os exemplares que traziam o comando “Cometerás adultério” foram recolhidos e o profissional foi condenado ao pagamento de elevada quantia em dinheiro.
A impressão de A Arte de Furtar, do Padre Antônio Vieira, feita em 1821, a pedido de Hipólito da Costa, tinha a seguinte dedicatória: “Oferecida ao Ilmo. Sr. S.F.R. Targine, ex-tesoureiro-mor do erário do Rio de Janeiro”. A associação entre o título do livro e o cargo do homenageado já seria suficiente para revelar as verdadeiras intenções do jornalista. Para não deixar dúvidas, no entanto, ele acrescentou a seguinte frase: “Qual pirata iníquo dos trabalhos alheios feito rico”.
Flor de Sangue, romance pouco expressivo de Valentim Moraes, publicado em 1897, trazia uma errata absolutamente singular, que dizia: “à página 285, quarta linha, em vez de “estourar os miolos” leia-se “cortar o pescoço”.
Essas e outras historinhas estão em O Bibliófilo Aprendiz, delicioso guia de Rubens Borba de Moraes, especialmente útil para quem deseja colecionar livros.
Das orientações do autor, algumas podem ser indicadas aqui.
Primeiramente, o interessado escolheria um gênero de livro a que se dedicar. Quem compra tudo o que vê pode construir “uma vasta livraria”, mas nunca terá uma verdadeira coleção. Os dois caminhos mais naturais são a escolha de um assunto ou a escolha de um autor. Assim, pensando nos em próprios meus interesses, seria possível colecionar livros de Direito Civil, publicados no Brasil Imperial, ou livros de Clovis Bevilaqua, importante jurista brasileiro.
Em segundo lugar, conceberia um plano sobre o tipo de coleção que se deseja, sendo necessário estudar o assunto com o máximo cuidado.
Uma terceira sugestão seria restringir a coleção aos meios que possui. A falta de espaço, por exemplo, pode ser um grave problema. E a de dinheiro, também.
De todo modo, o mais importante é lembrar que os estudiosos podem e devem organizar sua própria biblioteca, compatível, é claro, com os recursos disponíveis.
E à medida que o trabalho for avançando, o bibliófilo ouvirá, cada vez com mais frequência, a seguinte pergunta: Você já leu todos esses livros?
Se não puder respondê-la com brandura e educação, explicando que ninguém lê todos os livros de sua biblioteca, é porque ou não leu nada de valioso ou leu mas não chegou a aprender.
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