sexta-feira, 5 de junho de 2009
OS ESTUDANTES BRASILEIROS SÃO PREGUIÇOSOS?
Cartas a um Jovem Advogado é um livro interessante.
O autor, Francisco Müssnich, é sócio de um grande escritório de advocacia, especializado em Direito Empresarial, com participação ativa em operações tão complexas quanto a criação da Ambev e a fusão da Sadia com a Perdigão.
Ao longo do texto, há frases contundentes sobre o comportamento dos estudantes brasileiros, como as seguintes:
“Geralmente, os alunos brasileiros não gostam de se preparar para as aulas. Esperam que o professor apresente o conhecimento pronto, mastigado” (p. 17).
“Os estudantes acham que, se chegaram à faculdade, está tudo resolvido. Torna-se uma questão de decurso de prazo, e não uma obra de esforço pessoal” (p. 17, 18).
“Os estudantes brasileiros aproveitariam bem mais a universidade se a encarassem como transição para o meio profissional – e, portanto, fossem mais profissionais em sala de aula” (p. 66).
É verdade? Os estudantes brasileiros esperam tudo pronto? Os estudantes brasileiros são amadores? Ou, perguntando de outro modo, e com mais sinceridade, os estudantes brasileiros são preguiçosos?
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7 comentários:
Considerando que a sala de aula é uma troca constante entre alunos e professores, e a atitude daqueles pode ser determinada por esses, uma vez que o aluno deve acompanhar as aulas e obter aprovação nas provas, talvez o comportamento dos alunos reflita mais o comortamento dos professores do que uma tendência própria. Assim, se o professor tem o costume de não ir às aulas, dar provas fáceis e mastigadas, até para ser um trabalho mais tranquilo para ele mesmo no momento da correção, ou se o professor tem atitude de não se preparar para as aulas que ele mesmo ministra, haja vista um caso recente ocorrido nas salas de aula da Faculdade de Direito da UFMG, no qual por duas vezes consecutivas o professor admitiu não saber direito e não estar seguro sobre o tema do dia, qual seja, "factoring", talvez os alunos percam o respeito e o próprio interesse pela aula e se aperentem, assim, preguiçosos. É tudo uma questão do que se está a analisar. Ana Flávia de Oliveira
Professor, ótimo blog, aguardo os próximos textos. Sobre a pergunta, vários professores estimulam a preguiça dos alunos, quero escrever mais sobre isso quando tiver algum tempo.
Faço um pedido: não seria possível uma entrevista com a Prof. Elza Maria Miranda Afonso?
Abraço.
Ana Flávia,
Obrigado por ter enriquecido o debate com a sua opinião. E, para que ninguém fique em dúvida, sou eu o tal professor da UFMG que não sabia "factoring". Sim, confessei por duas vezes que não estava seguro sobre um ponto da matéria e que precisava estudar mais antes de voltar a falar sobre ele. Não foi a primeira vez que fiz isso e nem será a última.
Um abraço,
Giordano.
Professor,
reproduzo o conteúdo do e-mail do colega João Vítor Rodrigues Loureiro da UFMG, atualmente em intercambio em Saarbrucken:
Sinceramente, se eu for tomar o modelo que tenho vivenciado aqui, a resposta a tal pergunta seria negativa.
Estudantes preguicosos existem em qualquer lugar do planeta. O sistema de ensino aqui, no entanto, é que desfavorece os estudantes preguicosos.
As aulas no sistema universitário brasileiro, por sua vez, favorecem a preguica de docentes e discentes: num mesmo espaco-tempo de uma sala de aula em uma hora e meia se quer concentrar competências distintas, expor conteúdo, responder a perguntas, aplicar provas e exercícios,organizar rodas de discussoes, enfim...
Preparar Referats, apresentacoes, seminários, rever o conteúdo ministrado numa Vorlesung, enfim, coisas que nao sao exigidas do universitário brasileiro: resta essa estupidez de cortar todo o conhecimento de um assunto em pedacos irregulares, as provinhas bocais escritas, e a abominacao das multiplas escolhas concursantes. Nao se incentiva debate, nao se trabalha conteúdo, a Universidade fica com cara de colégio.
Mas isso da peguica é evidente aqui tbm: como pode uma pessoa que estuda Direito, na disciplina Filosofia do Direito, nunca ter nem ouvido falar de Hans Kelsen? Poisé acontece aqui tbm. Uma moca alema aqui ouviu o nome citado pelo Prof., queria transcrever ao caderno o falado, parou e perguntou: Hans was? Keller? achei engracado...
Temos que parar com essa mentalidade de que somos um povo pior, uma gente menos preparada. MUITO pelo contrário.
A sugestão de entrevistar a professora Elza Maria Afonso Miranda é mesmo muito boa. Obrigado. Vou conversar com ela a esse respeito. Obrigado,
Giordano.
Com os devidos cumprimentos ao colega que transcreveu a mensagem, e ao professor, pela iniciativa do Blog, muito interessante.
E fique claro, nao estou fazendo defesa irrestrita do sistema de ensino das universidades europeias: nao há sistemas perfeitos, simplesmente por nao existirem agentes que dele tomam parte que sejam todos, e ao mesmo tempo, perfeitos. Também aqui na Alemanha há salas de aulas vazias, disciplinas em que os alunos se matriculam e nem aparecem em sala de aula, preferindo muitas vezes o autodidatismo solitário em meio aos livros e leituras em casa.
Daí a importância dessa relacao estudante (jamais usar o termo empoeirado e "aluno", "a-lumnus", ninguém está sem luz ou sob as trevas da ignorância)e professor: estímulo, diálogo, discussao- é o que realmente vale a pena. Aulas nao podem ser repeticoes de conteúdos facilmente encontrados em manuais. Sao, a bem da verdade, a oportunidade de se inovar: espaco de reflexao.
Caríssimo João Vítor,
Obrigado por ter enriquecido o debate com a narração de sua experiência aí na Alemanha. Espero que aproveite bastante a oportunidade e volte com boas ideias para o aprimoramento de nossa prática pedagógica.
Grande abraço,
Giordano.
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