Em relação ao sentido da existência humana, talvez seja bom começar com três possibilidades teóricas. Na primeira, acredita-se que simplesmente não há qualquer sentido e que são igualmente vãs as tentativas de descobri-lo ou criá-lo. Na segunda, acredita-se que o sentido da vida é uma criação humana, individual ou coletiva, mas necessariamente humana, podendo variar, portanto, no tempo e no espaço. No terceiro, acredita-se que a vida tem um sentido verdadeiro, cabendo aos seres humanos apenas descobri-lo.
A primeira linha de pensamento, embora pareça elegante, não costuma se realizar na prática. Afirmar que a vida não tem sentido é mais fácil do que viver como se ela, de fato, não tivesse. Mesmo que não saibam ou não queiram articular com palavras, todos vivem em busca de algo, todos se organizam a partir de certos valores, todos possuem alguma ideia de vida boa, todos sabem reconhecer quando perdem algo precioso.
Assim, parece razoável resumir a controvérsia a dois campos: o dos que pensam que o sentido da vida é criado e o dos que pensam que o sentido da vida é descoberto.
No primeiro, a liberdade pode não ser total, pois, de alguma forma, todos nós percebemos que uns caminhos são melhores que outros. Acharíamos estranho, por exemplo, que nos dissessem que pais não devem corrigir filhos pequenos, que filhos não devem cuidar dos pais na velhice, que pessoas saudáveis não devem ajudar a prover o próprio sustento, que enfermos não devem receber cuidados especiais ou que promessas não devem ser cumpridas. Certas realidades parecem excessivamente estáveis e se colocam fora do âmbito de atuação da vontade humana. Mesmo para quem acredita no poder de criar um sentido original para a vida, há limites difíceis de transpor, desde que não se abdique de níveis mínimos de saúde mental e de harmonia na convivência entre pessoas.
Por outro lado, no segundo campo, a liberdade pode não estar completamente ausente, pois, mesmo havendo um sentido último para as coisas, a visão humana só o poderia alcançar de modo parcial, deixando amplo espaço para escolher o que fazer e como fazer.
De todo modo, seja para criar um sentido que organize a vida, seja para descobrir, as pistas podem ser úteis. No primeiro caso, para revelar o que toca mais intensamente o coração ou pode satisfazer as necessidades mais profundas. No segundo, para ajudar no processo de discernimento, de busca.
Por isso, nos próximos textos, indicarei uma série de exercícios para ajudar a refletir sobre o sentido da vida ou, de modo bem mais restrito, a meditar em coisas como vocação, trabalho, carreira.
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