quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

“Pista 6: Que personagens históricos você mais admira?”

Seria muito longa a lista dos personagens históricos que admiro, mas certamente incluiria São Francisco de Assis, Martinho Lutero, Gandhi, Martin Luther King e Mandela.

É verdade que foram pessoas de carne e osso e, por isso, cometeram muitos erros, uns mais evidentes, outros mais discretos. Mas o que eles têm de tão especial? O que eles têm em comum?

Em primeiro lugar, a disposição de perder tudo. 

Fico imaginando se, diante da Dieta de Worms, Lutero tivesse dito algo mais ou menos assim: “Pois é, fui eu que escrevi esses livros, mas, na verdade, são todos muito fraquinhos, cheios de heresia, inclusive, já estava pensando em jogá-los na fogueira…”. 

Ou se o jovem Francisco tivesse recuado diante das ameaças paternas. 

No entanto, nas circunstâncias mais adversas, os dois mostraram coragem e abnegação. 

Lutero, na verdade, recusando-se a desistir de suas opiniões, disse:

A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.

E Francisco, depois de sair da prisão, para onde havia sido mandado a pedido do próprio pai, declarou:

Até agora, chamei pai a Pietro Bernardone, mas a partir de agora sou servo de Deus. E restituirei a meu pai não só o dinheiro, mas tudo aquilo que pode ser considerado seu, incluindo as roupas que me deu.

Posso estar enganado, mas penso que as pessoas, em geral, não têm disposição de perder coisa alguma. Não sabem renunciar. Não sabem desistir. Não sabem perder. Ficam aferradas ao que um dia lhes foi entregue. Os homens que admiro, no entanto, mostraram-se dispostos a perder tudo, riquezas, honra, família, saúde e até mesmo a vida.

Em segundo lugar, a persistência. 

A história da África do Sul teria seguido outro curso se Nelson Mandela, depois de um ou dois anos de prisão, tivesse começado a odiar seus inimigos. Ao contrário, durante os 27 anos em que esteve encarcerado, soube relevar as ofensas e manteve os olhos fixos em seu objetivo final.

Para muitas pessoas, as dificuldades funcionam como avisos para interromper a jornada. No entanto, para esses homens extraordinários, elas sempre foram vistas como indicativo de que estavam no caminho certo e de que era preciso prosseguir.

Em terceiro lugar, a escolha de meios adequados.

Se Gandhi e, depois dele, Martin Luther King, tivessem montado guerrilhas armadas para lutar por seus objetivos, talvez até os tivessem conquistado e garantissem a inscrição de seus nomes na história. Mas eu não estaria falando deles aqui e eles não poderiam servir de inspiração para os nossos dias turbulentos. 

Não vale a pena atingir fins elevados se, para isso, for necessária a utilização de meios escusos. Somente quem se deixou cegar por um alvo, ainda que muito belo, aceita oferecer vidas humanas em sacrifício.

É verdade que Gandhi e Luther King foram assassinados, e isso pode parecer um final bem triste. Mas imagino que, se pudessem escolher, não mudariam o desfecho. Não puxariam o gatilho nem mesmo para eliminar o agressor.

Em quarto lugar, uma enorme paixão.

Não dá pra imaginar que Francisco poderia ter sido um comerciante ou um pregador. Não dá pra imaginar que Lutero poderia ter sido um jurista ou um teólogo. Eles nasceram para fazer apenas uma coisa e apenas nisso gastaram a vida. Havia neles uma paixão que os movia. 

Gandhi sonhou com a libertação de seu país. E Luther King também sonhou com alguma coisa, mas, nesse caso, é melhor deixar que ele mesmo se explique:

Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”
Eu tenho um sonho que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico sufocado pelo calor da injustiça, e sufocado pelo calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia “todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente”.

Pensar em grandes personagens históricos pode ser uma pista para descobrir o que parece ser mais importante. E também pode ajudar a entender o significado de ter uma missão claramente definida. Mas esse é o tema do próximo texto.

Nenhum comentário: